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Briga de irmãos nem sempre pede interferência e pode ser treino para vida

Não se trata de deixar os irmãos se agredirem fisicarem, mas, sim, de acertarem as diferenças discutindo - Getty Images
Não se trata de deixar os irmãos se agredirem fisicarem, mas, sim, de acertarem as diferenças discutindo Imagem: Getty Images

Adriana Nogueira

Do UOL

25/12/2017 04h00

Quem tem mais de um filho já se viu, com certeza, no meio de uma discussão do tipo “(insira aqui a palavra pai ou mãe), foi ele quem começou”, com a devida resposta do outro lado, “não, foi ele!”. Se você é do tipo que, a qualquer sinal de desavença entre os irmãos, corre para pôr um ponto final na discussão, é melhor ler esta reportagem até o fim.

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“Vivenciar a briga com o irmão é importante para que a criança treine e assim consiga resolver outros conflitos que surgirão na sua vida, fora de casa”, afirma a doutora em psicologia Fernanda Kimie Tavares Mishima Gomes, da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto.

É claro que não se trata de deixar os irmãos se agredirem fisicamente, mas, sim, discutirem para que tentem acertar as diferenças.

Sentir raiva é normal

“Os adultos devem intervir quando o desentendimento ganhar intensidade”, fala Gabriela Malzyner, mestre em psicologia pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

Se as crianças solicitarem a mediação dos pais, é importante que estejam disponíveis para ouvir os dois lados, ajudando-as a identificarem as razões que as levaram a brigar.

“Pode ser uma oportunidade de criar um diálogo entre os filhos. Faça perguntas, por que brigaram, por que estão com raiva um do outro”, diz Gabriela.

Para a especialista, a briga entre irmãos ajuda a criança a entender que tudo bem sentir raiva do outro e, passada a discussão, voltar a gostar dele. “No fundo, a gente só briga com quem tem uma relação de confiança e intimidade.”

Adultos devem mediar

Os adultos também não devem ser imparciais artificialmente, só para pôr um ponto final no conflito, fingindo não ver quem começou a desavença ou castigando todos os envolvidos igualmente.

“Se você viu que um agrediu ou xingou o outro, tem de reconhecer isso. Se for acusado de sempre defender um ou outro, dê exemplos de situações em que deu razão ao causador da briga atual”, fala Gabriela.

A especialista fala ainda que é importante que os adultos deixem claro para os filhos que não são capazes de ver tudo o tempo todo e que podem deixar alguns fatos escaparem. “É bom que eles tomem consciência de que os pais não são super-heróis.”

Fernanda afirma que é papel dos cuidadores ajudarem os filhos a construírem uma saída para o conflito, sem forçar que peçam desculpas só por pedir. “Senão, fica automático e não gera reflexão.”

Pedido por atenção

A psicóloga da USP de Ribeirão Preto também aconselha os pais a ficarem atentos se os irmãos estiverem brigando demais. “Pode ser que estejam tentando chamar atenção.”

Segundo Gabriela Malzyner, o excesso de conflitos pode sinalizar que a criança não está conseguindo extravasar sua energia.

“Hoje em dia, com a impossibilidade de as crianças brincarem ao ar livre, as brigas constantes podem sinalizar falta de atividade e distração. Vale perguntar: ‘E se a gente fizesse juntos? Algo mais gostoso de que brigar?”, diz a mestre em psicologia. Vale se preparar para as férias que estão aí.