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Menino de 10 anos morre engasgado e família luta por lei de 1ºs socorros

Lucas Begalli e a mãe, Alessandra Begalli Zamora - Reprodução/Facebook
Lucas Begalli e a mãe, Alessandra Begalli Zamora Imagem: Reprodução/Facebook

Daniela Carasco

Do UOL

23/01/2018 04h00

“A gente tem de usar a história do Lucas para salvar outras crianças.” Foi com essa ideia em mente que a socorrista Andrea Zamora Bettiati decidiu lutar por uma lei que obrigue, principalmente escolas e creches, a capacitarem todos os funcionários quanto aos princípios básicos dos primeiros socorros. Lucas Begalli Zamora era seu afilhado e tinha dez anos quando morreu por asfixia mecânica, durante uma excursão escolar, no ano passado.

O acidente aconteceu em 27 de setembro. O menino, estudante de uma escola particular de Campinas, interior de São Paulo, participava de um passeio com a instituição. Na hora do lanche, engasgou com um pedaço da salsicha, servida em um cachorro-quente.

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A ausência de uma pessoa que soubesse realizar a manobra Heimlich, popularmente conhecida como manobra do desengasgo, fez com que o menino apresentasse sinais de morte cerebral já na chegada do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), minutos depois. Dois dias após o ocorrido, ele não resistiu e morreu no hospital. O inquérito policial corre em segredo de Justiça.

“Conscientizar é mantê-lo vivo de alguma maneira”

“Foi devastador”, contou Andrea ao UOL. De luto, ela decidiu criar, em outubro, no Facebook, a página “Vai Lucas”, com o intuito de conscientizar outras famílias sobre o risco de situações como essa e a importância dos primeiros socorros.

“Uma criança de 11 anos, se instruída corretamente, tem condições de ser um socorrista no dia a dia. Primeiros socorros são o suporte básico da vida, não envolvem nem dar pontos nem sangue. Não precisa ser alguém da área de saúde para reproduzi-los.”

Em menos de 48 horas, a página ganhou 5.000 seguidores. Hoje, já conta com 120 mil pessoas dos mais variados perfis. “Tem desde gente prestando condolências até famílias que perderam filhos da mesma maneira”, conta Andrea. As mensagens chegam aos montes, diariamente. No momento da entrevista, existiam 45 mil ainda sem respostas.

Lucas era filho único. A mãe do menino, Alessandra Begalli Zamora, ainda não se sente pronta para falar. “Mas eu consegui levantá-la com a página. É normal que as pessoas diante de um acontecimento como esse se fechem em sua dor. Minha irmã tem recebido muitas mensagens de apoio, que acabam lhe dando força”, conta Andrea. “Tudo na vida acontece para a gente olhar para o lado positivo. O Lucas sempre foi uma criança maravilhosa. E a maneira de ele permanecer vivo entre a gente é conscientizando outras pessoas. Não podem mais morrer crianças dessa maneira.”

O último levantamento do Ministério da Saúde data de 2015 e aponta que 810 crianças, com até 14 anos, morreram, só naquele ano, vítimas de sufocamento. Desse total, 611 tinham menos de um ano de idade.

Juntas pela Lei Lucas

Andrea e Alessandra querem agora que o engajamento da página se transforme em algo maior, mais especificamente na Lei Lucas. “A ideia é tornar obrigatória a capacitação de funcionários de escolas e creches para que consigam executar os primeiros socorros em situações de emergência”, explica Andrea.

O projeto já foi apresentado e protocolado em cem municípios do Estado de São Paulo, desde novembro. “Por conta do recesso parlamentar, nenhum foi votado ainda. Nossa expectativa é que a lei comece a ser aprovada nas cidades e, depois, levada ao âmbito federal”, diz. “Em fevereiro, o deputado federal Ricardo Izar Junior (PP) se comprometeu a apresentar o projeto em Brasília.”

As irmãs, porém, fazem questão de não se associarem a nenhum partido. “Nossa bandeira é a da conscientização. Meu sobrinho não vai voltar, mas, se a gente conseguir salvar crianças com a história dele, já vai ser ótimo. Dessa maneira, temos ele o tempo inteiro com a gente.”

Apesar da onda de apoio, a página também recebe críticas. Segundo Andrea, professores têm se queixado da proposta. “Eles dizem que já ganham pouco e, agora, vão ter de assumir a responsabilidade de enfermeiros e médicos. Mas a verdade é que não estamos falando de procedimentos médicos e, sim, de cuidados básicos. Não queremos briga, queremos mais segurança para nossas crianças.”