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Pessoas que abandonaram marcas famosas inspiram consumo consciente

Do UOL, em São Paulo

03/06/2016 18h32

Vivendo em uma sociedade capitalista e na contramão do consumismo desenfreado, algumas pessoas optam por diminuir o ritmo e pensar sobre as diferentes formas de comprar. Elas abandonaram os produtos das grandes corporações e investem seu dinheiro em pequenos produtores, no feito à mão e na economia local. 

  • Arquivo pessoal

    O mercado deixa a gente muito distante da produção das coisas

    "Eu pratico escolhas conscientes. Pode ser comprar do pequeno ou pode ser que eu escolha não comprar, mas pedir emprestado ou dar nova vida para o que se tem. Acredito que o mercado como está deixa a gente muito distante da produção das coisas. Não fazemos ideia de quantas etapas, quantas pessoas e quanto do meio ambiente foram precisos para vestirmos uma blusa. Comecei a refletir sobre as cadeias, sobre o que eu queria estimular e apoiar na minha vida. Se eu preciso de uma coisa por um dia, ou por algumas horas, posso pedir emprestado ao invés de comprar. Além da economia de dinheiro, a gente não acumula coisas com alto potencial de virar lixo depois. Você precisa de uma furadeira ou de um furo na parede? Do furo na parede, né?", Fernanda Cannalonga, 27, consultora de estilo de vida consciente.

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    Se sentir enganado comprando porcaria

    "Eu realmente abandonei as grandes marcas. Outras eu não só abandonei como passei a abominar! Ainda dependemos de algumas coisas, como gasolina, internet e telefone, mas 98% do que consumo é sem marca. Uso roupas usadas, trocadas, emprestadas, a mesma sempre, de brechó, ganhadas ou compradas de amigos. A razão disso tudo é que me sinto enganado gastando um dinheirão comprando produtos porcarias e dando dinheiro para quem não precisa. Prefiro dar meu dinheiro para o pessoal do bairro. As coisas deixaram de ser de verdade e para reverter isso precisamos voltar ao artesanal", Felipe Dall'Anese, 37, cineasta.

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    Empoderar o trabalho da mulher

    "Minha mãe sempre costurou. Eu nunca tinha me interessado e sempre comprava em lojas. Mas comecei a ter consciência de todo o trabalho escravo, abuso de clientes e funcionários e não achava isso certo. Então, para não apoiar esse tipo de coisa e não fazer parte disso, pedi para minha mãe me ensinar a costurar. Desde então faço minhas próprias roupas e tento incentivar as pessoas a fazerem o mesmo. Quero empoderar o trabalho da mulher do bairro, que trabalha em casa, que paga aluguel e deixar de lado as grandes empresas que só ficam mais ricas a cada dia", Marina Mayumi Hirota, 20, costureira.

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    Apoiar o sonho de alguém

    "Uma percepção importante que tive foi de que tudo que se gasta dinheiro, se gasta indiretamente o tempo que você perdeu para conseguir esse dinheiro. Comecei a questionar se tudo aquilo era preciso. A gente sempre pode escolher onde investir nosso dinheiro e se eu posso incentivar pessoas que têm vontade de criar, pra mim é mais interessante do que financiar corporações. Costumo comprar roupas de marcas de amigos. Já ganhei muita coisa da Nike e Adidas e ainda uso, mas sempre que preciso de algo procuro primeiro nos meios independentes, apoiando o sonho de alguém", Thiago Jun, 32, sem profissão específica.

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    O feito à mão valoriza o "eu" de cada um

    "Sou filha de artista plástica e neta de artesã. Desde pequena usei roupas, sapatos e acessórios feitos pela minha mãe, então criei gosto pelo artesanal. Há quatro anos ela criou o Movimento Ecochic, para valorizar a moda autoral sustentável. Inspirada por tudo isso, criei uma agência de comunicação e marketing voltada para pequenas empresas e criadores. Já fiz escambo de trabalhos de criação e design com algumas marcas e a experiência é sempre maravilhosa. Ao invés de ir ao shopping escolher uma peça igual a todas, eu tenho uma 'mana' que tem o que procuro e trocamos serviços. Desde então sinto cada vez mais dificuldade em comprar roupa de grandes marcas. Acho incrível poder usar uma peça exclusiva ao invés de uma feita em massa. O feito à mão estimula a economia local, valoriza a cultura nacional, utiliza nossa própria matéria prima, valoriza o 'eu' de cada um e o descarte é muito menor", Cael Horta, 25, analista de marketing e proprietária da Agência Mandacaru.

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    Economizar e diminuir o desperdício

    "Deixei de comprar em grandes empresas principalmente por causa do preço e porque conheci grupos de venda na internet. Primeiro vendi uma bota que estava parada no meu armário e, em seguida, comprei uma blusa que normalmente pagaria R$ 100, mas gastei R$ 20. Acredito que isso pode ajudar a economizar e diminuir o desperdício. Com este momento econômico aprendemos a olhar e pensar se realmente precisamos daquilo. Ganho dinheiro vendendo minhas peças e com ele compro novas. Assim sempre tenho coisa boa no guarda-roupa sem gastar muito. Toda semana tenho uma nova compra, venda ou troca", Leticia Zanardo, 19, estudante.

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    Conquistar um espaço mais agradável para viver

    "Por organizar uma feira para pequenos produtores [a Jardim Secreto] e também ser produtora, eu naturalmente criei uma consciência em relação ao consumo. Abandonei 80% das grandes marcas e só compro nelas o que não encontro no meio alternativo. O pequeno produtor é confiável, honesto e justo. E, para mim, esses são pontos principais para mudar a forma de consumir. Não sou ingênua de acreditar que todo mundo vai deixar de consumir em grandes empresas mas, se diminuirmos o ritmo, conseguimos conquistar um espaço mais agradável para viver", Gladys Maria Tchoport, 29, produtora cultural e artesã.