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Não serve! Modelo plus size conta saga em busca de roupas de grife

A modelo e jornalista Sylvia Barreto veste manequim 48 e topou o desafio do UOL de descobrir quais grandes marcas estavam preparadas para receber o público plus size - Katia Ricomini/Divulgação
A modelo e jornalista Sylvia Barreto veste manequim 48 e topou o desafio do UOL de descobrir quais grandes marcas estavam preparadas para receber o público plus size Imagem: Katia Ricomini/Divulgação

Sylvia Barreto

Do UOL, em São Paulo

29/07/2013 07h02

Precisar de uma roupa e não encontrar alguma que sirva ou que fique bonita. Quem nunca passou por isso? No Brasil, onde quase metade da população está acima do peso, segundo dados revelados pelo Ministério da Saúde em 2012, será que as pessoas conseguem se vestir bem, de acordo com suas vontades e necessidades?

Eu estou acima do peso com meus 97 quilos e 1,70 m de altura. Sou jornalista e modelo plus size. Tenho 29 anos e foram poucos os momentos nos quais estive magra, portanto sempre tive dificuldade para encontrar roupas que seguissem as tendências da moda e servissem no meu quadril de 125 cm. Atualmente, a maioria das minhas peças é de marcas especializadas em tamanhos grandes. Já que meu manequim é 48, confesso que em alguns momentos fico com preguiça de vasculhar o shopping procurando algo que me sirva.

Desafio

Para ver se a mulher brasileira que está acima do peso consegue se vestir como quem usa 38, com as roupas das passarelas e estar na moda, aceitei um desafio proposto pelo UOL: experimentar peças de 21 marcas importantes no mercado fashion local. Fui às lojas selecionadas nos Shoppings Iguatemi e Morumbi e no bairro dos Jardins, reduto do luxo em São Paulo. Em nenhuma delas, é claro, mencionei que estava fazendo uma reportagem.

Em cada uma das lojas, eu dizia que precisava de uma roupa para o jantar de bodas de 40 anos de casados dos meus pais. As marcas escolhidas foram: Agatha, Animale, Bo.Bô, Cavalera, Colcci, Cori, Cris Barros, Ellus, Espaço Fashion, Gloria Coelho, Herchcovitch, Iódice, Le Lis Blanc, Maria Bonita, Maria Filó, NK Store, Osklen, Reinaldo Lourenço, TNG, Tufi Duek e Uma.

Muita gentileza para pouco pano

Comecei pela Iódice do Shopping Iguatemi. Fui muito bem tratada e me ofereceram vários vestidos para experimentar. Apenas um serviu. A marca produz peças até o manequim 46 e GG. Porém não encontrei esses tamanhos. Como fiz as visitas no fim de junho, período de troca de coleção, foi difícil achar as numerações maiores.

Raio-X: A grade da moda brasileira

MarcaManequim até...Faz sob medida?
Ágatha42 ou GNão
Animale42 (vestidos) e 44 (calças)Não
Bo.Bô42 ou GNão
Cavalera44 ou GNão
Colcci44 ou GNão
Cori46 (algumas peças)Não
Cris Barros42 (vestidos) e 44 (calças)Não
Ellus46 ou GNão
Espaço FashionGNão
Gloria Coelho46 ou GGSim, sem acréscimo ou 30% mais caro
Herchcovitch44 (calças) e 46 (vestidos)Sim, até 50% mais caro
Iódice46 ou GNão
Le Lis Blanc46 ou GNão
Maria Bonita48 (algumas peças)Sim, até 40% mais caro
Maria FilóGNão
NK Store42 ou GApenas vestidos, sem custo adicional
Osklen42 ou GNão
Reinaldo Lourenço44 ou GSim, 20% a mais para o 46; varia para números maiores
TNG46 ou GNão
Tufi Duek46 ou GNão
UMA46 (algumas peças)Não

No Iguatemi, além da Iódice, passei pela Animale, Bo.Bô, Cris Barros, Le Lis Blanc, Maria Bonita e Tufi Duek. Mesmo não conseguindo achar quase nenhuma peça que me servisse, as vendedoras foram gentis e sempre tentavam me mostrar roupas adequadas para o meu corpo. Na Le Lis Blanc e na Animale, algumas roupas me serviram. A Animale produz vestidos apenas até o manequim 42, mas achei um tamanho bem generoso. Aliás, saber que marcas produzem peças apenas até o 42 foi um espanto para mim!

A única marca no Shopping Iguatemi na qual me disseram fazer peças sob medida foi a Maria Bonita. No entanto, o valor da roupa aumenta em 40% e é preciso consultar a fábrica para saber qual o prazo de entrega. Como nunca havia visitado nenhuma das 21 marcas, porque sempre achava que não haveria nada para mim, saber que o serviço de confeccionar uma roupa com as minhas medidas exatas foi uma surpresa.

No Shopping Morumbi, recebi o mesmo tratamento cordial. A única loja (dentre Agatha, Cavalera, Colcci, Cori, Ellus, Espaço Fashion, Gloria Coelho, Maria Filó, Osklen e TNG) com vestidos que me serviram foi a Maria Filó, que produz essas peças até o G, em tamanho bem generoso. A Gloria Coelho também faz peças sob medida e, dependendo do modelo, não cobra valor adicional por isso. Quando cobra, fica em no máximo 30% mais que o preço original.

O melhor e o pior atendimento

No bairro dos Jardins, passei por dois extremos. Fui ignorada em uma loja e extremamente bem atendida em outra. Comecei pela NK Store, que vende roupas de sua própria grife e funciona também como multimarcas de peças importadas. Lá, havia diversas vendedoras disponíveis. Deixei minhas coisas em uma poltrona, olhei todas as araras, fingi interesse, até me sentei. Porém ninguém falou comigo*. Antes de fechar esta reportagem, liguei na NK do Rio de Janeiro e fui informada de que fabricam roupas até o 42. Apenas os vestidos podem ser feitos sob medida e eles não cobram nenhum valor adicional por isso.

A experiência na NK Store me deixou desestimulada e tive vontade de nem continuar naquele dia. Mas ainda tinha que visitar nos Jardins as marcas Reinaldo Lourenço, Uma e Herchcovitch. No Reinaldo Lourenço, só há peças até o 44, que não me serviram. Mas eles produzem tamanho 46 com 20% de acréscimo no valor da peça e sob medida com espera de 30 dias e valor a ser decidido dependendo da roupa.

Na Herchcovitch, tive a melhor experiência como compradora. A vendedora foi muito solícita, pegou os vestidos que pedi e ainda um que ela achava que cairia bem em mim. Eles produzem algumas peças até o 46, mas não havia nenhuma em estoque. Como nada serviu, ela disse que poderia fazer sob medida com acréscimo de 50% do valor. Fez questão de pegar meu telefone para verificar posteriormente na fábrica se conseguiria fazer dentro do prazo (fictício) para o qual eu precisava do vestido, em cerca de duas semanas. No dia seguinte, ela me ligou e disse que poderia, sim, fazer a peça em dez dias e que era para eu tirar minhas medidas com eles o mais rápido possível.

Como eu já esperava, encontrar roupas das passarelas para quem veste do número 46 em diante é muito difícil. O que me surpreendeu foi a solicitude dos vendedores em fazer com que eu me sentisse bem. Ter peças feita sob medida é um avanço, mas não seria discriminação cobrar mais caro por elas? A impressão que eu tinha foi confirmada: no Brasil, o gordo precisa de mais dinheiro e trabalho que o magro para se vestir bem. 

*Procurada pelo UOL, a NK Store emitiu o seguinte comunicado: "Ficamos surpresos com esse relato, buscamos sempre prestar o melhor atendimento e tentamos fazer o máximo para que as clientes se sintam o mais a vontade possível dentro da loja. Sabemos que no final de Junho é o início da nossa liquidação, período onde a loja fica mais cheia. Porém nada justifica o acontecido. Pedimos desculpas e será um prazer recebê-la novamente na Nk"