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Moda evangélica: não tem crise econômica para blogueiras e marcas cristãs

Renata Castanheira, a "crente chic" - Reprodução/Instagram
Renata Castanheira, a "crente chic" Imagem: Reprodução/Instagram

Daniela Carasco

Do UOL

22/01/2018 04h00

Basta uma busca rápida no Google pelo termo “moda evangélica” para que mais de 2 milhões de resultados sejam listados em menos de um segundo. Nas primeiras páginas, centenas de lojas saltam aos olhos oferecendo looks discretos para quem frequenta as principais congregações brasileiras. Não há dúvidas, é o negócio da vez. Mas será que precisa mesmo dessa segmentação? Se depender dos fiéis, sim.

“Tive muito problema para me vestir quando era mais nova. É muito difícil achar peças para gente em lojas convencionais”, conta a influencer Renata Castanheira, também conhecida como Crente Chic, que tem mais de 82 mil seguidores no Instagram. “Só há dez anos, começaram a surgir marcas gospel. Agora, todo dia, nasce uma loja nova”, fala ela, que frequenta a Congregação Cristã do Brasil e é muito procurada pelas marcas para presenças VIPs e posts patrocinados.

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Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nos últimos 40 anos, o número de evangélicos saltou de 5,2% para 22,2% da população. Esse crescimento se reflete nas vendas. O segmento de moda evangélica cresce, em média, 14% ao ano, segundo a Abrepe (Associação Brasileia de Empresas e Profissionais Evangélicos), mesmo em tempos de crise. Nada mal.

“O mundo secular ainda não percebeu o quanto esse mercado é promissor”, afirma Renata. “Crente não gasta dinheiro com outra coisa que não seja roupa para ir à Igreja. O público evangélico é muito consumista nesse sentido.”

 

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Existem regras para se vestir?

Segundo Renata, não são regras, mas doutrinas centenárias, que passam de geração em geração. “Não existe um estatuto. As doutrinas se referem à conduta da mulher. O que se pede é bom senso na hora de se vestir. Quanto menos expor o corpo, melhor”, diz.

De maneira geral, a orientação gira em torno de ombros cobertos, modelagens afastadas do corpo, decotes que cubram o colo e saias abaixo ou na altura do joelho. “Não pode ser nada sensual.” Mas não significa que não dê para acompanhar as tendências.

Elas querem ser fashion

A consultora de moda e blogueira Vivian Oliveira, seguida por 56 mil pessoas no Instagram, orgulha-se ao dizer que sempre foi ligada à moda, “sem corromper a doutrina de sua Igreja”. Ela frequenta a Assembleia de Deus, “a mais rígida de todas”. “Mulheres só podem usar saia ou vestido, nunca ultrapassando um palmo acima do joelho”, explica.

Para dar um toque moderno, ela aposta em sobreposições, tênis e outras tendências atuais. Vivian gosta de dizer que o “dress code cristão é empresarial, mas não precisa ser brega”.  Renata concorda: “Saias midi e vestidos longos estão super em alta, por exemplo, e funcionam para gente.”

 

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A queixa em comum é sobre serem ignoradas pelas marcas convencionais. “Eles seguem as tendências de forma muito literal, não pensam na gente. Quando tem algo que nos serve é muito básico. Tem de garimpar muito para achar uma peça ou outra”, diz Vivian.

A consultora Lilian Jordão, que não é evangélica, mas atende o público cristão, as marcas segmentadas são ótimas aliadas de quem não tem um olhar mais apurado de moda para fazer uma curadoria. “Na loja específica, você já chega sabendo que não vai ter saia curta nem decote profundo. Acho necessário”, diz. É a facilidade de encontrar um look pronto para ser usado.

Para não se sentir prisioneira do básico, a consultora Aninha Moretti sugere explorar estampas e cores. “Isso deixa o look com mais informação, ajuda a imprimir o estilo da pessoa.”

Elas sofrem preconceito

Ainda que o mercado esteja em plena expansão, as blogueiras revelam sofrer certo preconceito. Vivian ouviu de um vendedor de uma loja conhecida pelo estilo "rocker" e moderno, que ali não havia roupa para ela. “Ele me disse que só trabalhavam com modernidade. As pessoas acham que a gente veste burca”, diz.

Já Renata chegou a perder oportunidades de trabalho por carregar o termo “crente” no nome de seu blog. Enquanto as influencers que não são do nicho cristão ganham na casa dos milhares por um post, seus cachês ainda giram em torno dos três dígitos.

“Meu único objetivo é mostrar para o mundo que dá para ser crente e chique ao mesmo tempo”, afirma. “Sou uma blogueira real. Não vendo lifestyle ou uma vida fútil como muitas fazem por aí. Basicamente presto um serviço de moda.”

E engana-se quem pensa que elas atraem só seguidoras do meio. Entre os orgulhos de Renata e Vivian está o fato de atraírem um público não-cristão de mulheres, que gostam de se vestir de maneira mais “recatada”. “Recebi o relato de uma pessoa que só começou a usar saia depois de me seguir. Isso é muito legal”, diz Renata.

O investimento é certeiro

Entre as marcas que mais se destacam no meio está a rede de moda cristã Saia Bella. Em 2016, a grife teve um crescimento de 300% no faturamento. E as cifras continuaram subindo. Em 2017, foram 15%, e a meta para 2018 é de 25%. A empresa foi fundada em 2015, pelo casal de evangélicos Simone Carvalho e Renan Santos, que sentiram uma escassez de estabelecimentos voltados ao público gospel.

Mas não precisa ser religioso para investir na área. Fabricio Pais, diretor da Kauly, uma das marcas queridinhas das blogueiras cristãs, mudou completamente de direcionamento após um vestido de mangas longas e comprimento no joelho esgotar nas mãos de mulheres evangélicas.

“Surgimos em 2001 como uma marca de moda popular, mas, dois anos depois, nós nos assumimos como especialista em moda evangélica”, conta. A mudança se refletiu nas vendas, que sobem entre 5% e 30% todos os anos, assim como a concorrência.