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'Não apagaria o dia em que levei um tiro que me deixou paraplégico'

Thiago Cenjor ficou paraplégico ao levar um tiro em uma tentativa de assalto em São Bernardo do Campo (SP) - Reprodução/Instagram
Thiago Cenjor ficou paraplégico ao levar um tiro em uma tentativa de assalto em São Bernardo do Campo (SP) Imagem: Reprodução/Instagram

Adriana Nogueira

Do UOL

21/09/2017 08h44

Em uma tentativa de assalto, em junho de 2001, Thiago Cenjor, 37 anos, levou um tiro, que perfurou seus dois pulmões e lesionou sua medula. Já no hospital, teve parada respiratória. Não morreu, mas ficou paraplégico. "Digo que, desde que a bala entrou em mim, os milagres começaram a acontecer."

Depois de recuperado, ele decidiu testar os novos limites físicos e começou a praticar esportes de um jeito que nunca tinha feito antes do tiro.

Começou a fazer motocross em motos normais, de duas rodas, virou bicampeão brasileiro de kart, foi medalhista no Panamericano de Canoagem do Rio de Janeiro, em 2007. 

"Meu prazer é fazer algo bem feito e sozinho", diz.

Nesta quinta-feira, 21 de setembro, Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência, ele conta sua história ao UOL.

“Tinha 20 anos quando levei um tiro nas costas. Foi em uma tentativa de assalto. Estava de moto e, mesmo ferido, andei 800 metros, chegando no meu prédio, em São Bernardo do Campo (SP). Fui imediatamente socorrido. A bala atingiu meus dois pulmões, e o calor e a vibração dela lesionaram a minha medula.

No hospital, tive parada respiratória. Não morri, mas, da boca do estômago para baixo, não sinto nada. Digo que, desde que a bala entrou em mim, começaram os milagres. Foram seis dias de UTI, quando eram para ser 30, e mais sete, no quarto.

Saí no dia do aniversário do meu pai. Uma festa me esperava em casa para comemorar a idade dele e a minha alta. Foi nela que recebi a notícia oficial de que não andaria. Claro que sabia que meu corpo estava diferente. Foi aquela choradeira.

Sou muito emotivo, mas não me deixei abater. O médico tinha ido em casa dar a notícia. Ele foi embora, e a festa continuou. Mas eu via um e outro chorando, escondido, pelos cantos.

Thiago Cenjor, cadeirante e consultor de acessibilidade, pratica crossfit - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Entre os esportes que Thiago começou a praticar depois de ficar paraplégico está o crossfit
Imagem: Reprodução/Instagram

Dois meses depois do tiro, voltei para a faculdade de engenharia química, que depois troquei pela de química, na qual me formei, e retomei o trabalho em uma indústria do segmento. Tudo isso conciliando com a fisioterapia. Foi depois que virei cadeirante que comecei a praticar esporte mais seriamente. Meu prazer é fazer algo bem feito e sozinho. Vieram as conquistas no kart, na canoagem, no motocross, andando em motos normais, com duas rodas...

Três anos depois do tiro que me deixou paraplégico, sofri uma nova tentativa de assalto. Estava dirigindo meu carro. Levei um tiro no rosto, que saiu pela nuca. Foi um susto, mas nada mais grave aconteceu. Entrei no hospital em uma sexta-feira e saí dois dias depois.

Mais uma vez não perguntei ‘por que comigo’ e, sim, ‘pra quê’. Acho que foi para aprender mais alguma coisa"

Retomei a vida que tinha. Em março de 2010, em um corte, perdi o emprego, em um corte. Perdi meu chão, mas, em vez de ficar em casa deprimido, fui fazer cursos de empreendedorismo no Sebrae. Foi depois disso que surgiram oportunidades para trabalhar como consultor de acessibilidade, o que faço hoje como atividade principal. Sou ainda palestrante motivacional, mestre de cerimônias, atuo como modelo de moda inclusiva e sigo praticando os esportes que gosto.

Tudo o que conquistei veio depois de eu me tornar cadeirante"

Não apagaria o dia do tiro. Eu me tornei um homem melhor: aprendi a encarar as dificuldades, a saber esperar.”