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Tomar um longo banho quente ou só imaginar que está fazendo exercício substitui a atividade física?

Repórter da BBC testou os efeitos de ficar numa banheira a 40ºC e usar a mente para fortalecer os músculos - Reprodução/BBC
Repórter da BBC testou os efeitos de ficar numa banheira a 40ºC e usar a mente para fortalecer os músculos Imagem: Reprodução/BBC

Michael Mosley

Apresentador do programa "Trust Me I'm A Doctor", da BBC

16/07/2016 10h30

Tomar um banho quente é uma boa forma de aliviar os músculos após fazer exercícios, mas e se pularmos direto para o banho em vez de nos exercitarmos? É possível ter os mesmos benefícios do exercício sem fazer nenhum?

O pesquisador Steve Faulkner, da Universidade de Loughborough, pediu-me para participar de um experimento que compararia no Reino Unido os efeitos no corpo de um longo banho com os de uma hora de pedalada.

Neste estudo, juntei-me a um grupo de voluntários que tinham seu nível de açúcar no sangue sendo monitorado continuamente. Mantê-lo em patamares considerados normais é uma medida importante para avaliar nosso condicionamento "metabólico".

Outro equipamento ainda media quantas calorias seriam queimadas, e um termômetro retal indicaria a tempertura interna do organismo.

A primeira parte da pesquisa foi bem relaxante: consistia em tomar um longo banho quente.

Ficar na água quente dispara uma reação de defesa do organismo - IStosck/Reprodução - IStosck/Reprodução
Ficar na água quente dispara uma reação de defesa do organismo
Imagem: IStosck/Reprodução

 
Enquanto estava sentado na banheira, mantida a 40ºC, Steve acompanhava minha temperatura. Após ela subir e se manter neste patamar, recebi permissão para sair da água. Algumas horas depois, fiz uma refeição leve.

Depois, repetimos o teste, só que com uma sessão de uma hora na bicicleta ergométrica em vez do banho. O resultado?

"Uma das coisas que monitoramos", diz Steve, "é o gasto de energia do corpo enquanto você estava na banheira, e descobrimos um aumento de 80% só por estar sentado na água quente por uma hora."

O total de energia gasta no banho - 140 calorias - não chega perto do gasto calórico de uma pedalada de uma hora - 630 calorias -, mas foi equivalente a uma caminhada de 30 minutos.

E quanto ao nível de açúcar no sangue?

Banho quente pode ajudar no controle da glicose - SPL/Reprodução - SPL/Reprodução
Banho quente pode ajudar no controle da glicose
Imagem: SPL/Reprodução

"Começamos a ver diferenças quando checamos seu pico de glicemia", me diz Steve.

O pico de glicemia é o aumento do nível de açúcar no sangue após uma refeição. É um indicador de risco para diabetes tipo 2 e outros males metabólicos.

"O pico foi menor com o banho em comparação com o exercício, o que é totalmente inesperado."

De fato, o pico de glicemia dos voluntários com o banho ficou, em média, 10% menor do que com o exercício. Mas por que isso acontece?

Steve acredita que se deve em parte à liberação de proteínas de choque térmico pelo organismo, que, como o nome diz, são proteínas liberadas em resposta ao calor. O gatilho para isso também podem ser outros tipos de estresse, como infecções, inflamações ou exercícios.

Estas proteínas fazem parte no nosso sistema de defesa e ajudam a prevenir danos ao corpo, mas estudos com animais sugerem que também podem desviar o açúcar no sangue para os músculos. Manter o nível de glicose baixo é importante, porque, se ficar em patamares elevados, pode danificar artérias e nervos.

Para Steve, tomar um banho ou fazer sauna não susbstitui os exercícios. Ele continua a recomendar 150 minutos por semana de exercícios de intensidade moderada.

Mas acredita que as pesquisas sobre os efeitos de aquecer o corpo por completo podem ser úteis para quem tem dificuldades de controlar o nível de açúcar no sangue ou de se exercitar.

Então, um banho quente tem de fato benefícios surpreendentes, mas e quanto à chamada "imagética motora"? É possível fortalecer os músculos apenas imaginando que se está fazendo um determinado exercício?

Não é tão maluquice quanto parece. É algo muito usado por atletas de elite. Para descobrir os efeitos disso em um grupo de voluntários sedentários, o cientista Tony Kay, da Universidade de Northampton, fez um experimento.

Pensar em exercícios pode fortalecer os músculos? Teste mostra que sim - BBC/Reprodução - BBC/Reprodução
Pensar em exercícios pode fortalecer os músculos? Teste mostra que sim
Imagem: BBC/Reprodução

Primeiro, fez alguns exames básicos. Testou a força das panturrilhas dos participantes pedindo que empurassem o mais forte possível uma placa ligada a sensores.

Depois, usou um ultrassom para medir o tamanho da panturrilha. Finalmente, para saber exatamente o quanto destes músculos estavam sendo usados para pressionar a placa, deu leves choques elétricos neles.

Com os parâmetros básicos em mãos, Tony pediu aos voluntários para passarem 15 minutos por dia pensando no mesmo movimento contra a placa, imaginando que a estavam pressionando com a maior força com que eram capazes.

Pensar no exercício aumenta força muscular - Thinkstock/Reprodução - Thinkstock/Reprodução
Pensar no exercício aumenta força muscular
Imagem: Thinkstock/Reprodução

O que aconteceu? Bem, para minha surpresa, só pensar no exercício realmente aumentou sua força. Ao repetir o teste um mês depois, seus músculos estavam, em média, 8% mais fortes.

Não porque ficaram maiores (isso não aconteceu), mas porque, depois de um mês pensando em um exercício específico, passaram a usar mais fibras musculares para fazer o mesmo movimento de antes.

"Eles ficaram melhores em aplicar os músculos de determinada forma", diz Tony, "então, conseguiram ativar um percentual maior de músculo. Isso produziu mais força, então, sim, eles ficaram mais fortes."

O pesquisador diz que, além de ajudar atletas, esta pode ser uma boa forma de evitar perder força quando se está machucado ou não é possível se exercitar.