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Fazer jejum prolongado pode aumentar a produtividade no trabalho?

Empresa da Califórnia liga jejum intermitente ao aumento de produtividade - iStock
Empresa da Califórnia liga jejum intermitente ao aumento de produtividade
Imagem: iStock

Peter Bowes

12/12/2016 11h50

A prática do jejum intermitente vem conquistando cada vez mais adeptos em todo o mundo, atraídos pela ideia de cortar calorias drasticamente em certos dias da semana. Uma prova é a popularidade da chamada "dieta 5:2", que defende uma alimentação normal durante cinco dias e uma ingestão mínima nos outros dois.

Estudos científicos realizados nos Estados Unidos reuniram evidências de que a restrição de calorias pode trazer benefícios para a saúde a longo prazo, como um sono de melhor qualidade, melhora da pressão arterial ou menos variações de humor, por exemplo.

Mas, agora, uma comunidade de especialistas em tecnologia da Califórnia acredita ter encontrado mais uma vantagem desse tipo de jejum. Segundo eles, a produtividade aumenta nos dias em que não se alimentam, quando relatam ter uma sensação de maior agilidade mental e capacidade de concentração.

Com o nome de WeFast ("Nós jejuamos", em tradução literal), o grupo reúne os chamados "biohackers", pessoas que argumentam que manipular a biologia do corpo humano pode levar a uma vida mais saudável e satisfatória.


Mais produtivos

Eles praticam vários tipos de jejum, desde um intervalo de 36 horas sem comida a um radical período de 60 horas. Outros jejuam por 23 horas todos os dias. A ideia é sincronizar o fim do jejum com um café da manhã comunitário no meio da semana.

A start-up Nootrobox, de San Francisco, deu início ao grupo online. A empresa fabrica nootrópicos, também conhecidos como "smart drugs" --compostos criados legalmente com o objetivo de melhorar funções cognitivas.

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Apesar de o jejum não ser obrigatório na empresa, todos os funcionários deixam de se alimentar às terças-feiras. Na manhã de quarta-feira, eles se encontram com outros membros do WeFast, que já são mais de 1,2 mil, para o esperado café da manhã. 
A refeição realizada em uma lanchonete de bairro também funciona como reunião de apoio, em que os adeptos trocam experiências e dicas sobre jejum.

"Para mim, a melhor parte é saber que todos nós notamos que estamos mais produtivos no trabalho", conta Geoff Woo, cofundador e CEO da Nootrobox.

O benefício de queimar gordura

É possível que eles tenham razão. Um estudo realizado pela Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, revelou que diferentes formas de jejuar podem ter um efeito significativo sobre o corpo humano, promovendo uma vasta gama de mudanças a nível celular e atingindo muitos sistemas metabólicos, como o fornecimento de combustível para o cérebro ou a maneira como o organismo reage ao estresse.

Por enquanto, as evidências sobre o impacto no desempenho no trabalho ainda vêm apenas das experiências de adeptos do jejum intermitente. Mas muitos deles têm relatado se sentirem mais alertas, algo semelhante ao relatado por praticantes de corrida.

Segundo a pesquisa da John Hopkins, coordenada por Mark Mattson, professor de neurociência, a causa principal são as mudanças bioquímicas no cérebro. De acordo com Mattson, o estudo sugere que o jejum leva a uma melhora na capacidade cognitiva.

Já Eric Verdin, pesquisador no Instituto Gladstone, em San Francisco, lembra que alguns cientistas acreditam que uma maior sensação de bem-estar é gerada pela queima de gordura acumulada no organismo em vez dos carboidratos contidos nos alimentos - um processo conhecido como cetose.

Prática com cautela

Mas e quanto à irritabilidade, às contrações no estômago e ao mal-estar que podem acompanhar um jejum? Bem, os adeptos da prática acreditam que é só uma questão de se habituar. "Quando alguém que nunca jejuou começa a fazer isso, é natural sentir náuseas, fraqueza e desconforto", explica Verdin.

"Mas, ao repetir o jejum com frequência, há uma mudança no metabolismo de todo o organismo e tudo se adapta. Essa adaptação, creio, é um dos motivos pelo qual a pessoa se sente cada vez melhor ao jejuar. Até chegar a um ponto, depois de quatro ou cinco jejuns, em que o indivíduo se sente muito melhor do que quando não jejuava", diz o cientista.

No entanto, a prática nem sempre é aconselhável, principalmente entre gestantes, mulheres que estão amamentando, diabéticos e pessoas com distúrbios de metabolismo.

Quando o organismo já está sob estresse e sem funcionar normalmente, limitar a nutrição pode piorar a situação. Ou seja, quem quiser experimentar o jejum intermitente deve se consultar com um médico antes.