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Ministra da Saúde belga tem sua competência questionada por pesar 130 kg

14.out.2014 - A ministra da Saúde da Bélgica, Maggie De Block, cujo excesso de peso virou assunto polêmico assim que ela assumiu a pasta - Dirk Waem/Belga Photo/AFP
14.out.2014 - A ministra da Saúde da Bélgica, Maggie De Block, cujo excesso de peso virou assunto polêmico assim que ela assumiu a pasta Imagem: Dirk Waem/Belga Photo/AFP

Thamires Andrade

Do UOL

13/03/2017 18h13

A médica Maggie De Block foi nomeada no último sábado (11) como ministra da saúde da Bélgica e, desde então, tem recebido uma série de críticas na internet que vão além de sua competência profissional. A qualificação dela para o cargo está sendo questionada por sua forma física. De Block pesa 130 quilos em momento que a Bélgica enfrenta uma crise de obesidade que atinge quase metade da população.

O jornalista Tom van de Weghe, correspondente em Washington da emissora belga VRT, questionou em seu perfil no Twitter se De Block seria "confiável" em seu novo cargo.

Para Sabrina Gonzalez, psicóloga especialista em transtornos alimentares e obesidade, os obesos enfrentam esse tipo de julgamento, pois são vistos como desleixados e sem força de vontade. "A sociedade acredita que só é obeso quem quer, não vê a obesidade como uma doença que é causada por um conjunto de fatores, não só por comer demais", explica.

Outro pensamento do senso comum é que os obesos se alimentam mal e não cuidam da saúde, quando pode ser exatamente o contrário. "Tem gente que simplesmente não consegue emagrecer. Nem sempre só a força de vontade basta, pois existem inúmeras questões associadas à obesidade, inclusive problemas metabólicos que dificultam o emagrecimento", comenta Sabrina.

Críticas não-construtivas

Segundo a psicóloga, como a sociedade acredita que só é obeso quem quer, as pessoas se sentem confortáveis para tecer críticas e discriminar quem está acima do peso. “Como se o fato de ser obeso apagasse outras qualidade e aptidões que a pessoa tem”, fala.

Maggie ouviu uma série de críticas sobre sua forma física, dentre elas que estava dando um mau exemplo para o povo belga. Na opinião de Adriano Segal, psiquiatra da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), esse tipo de conduta não ajuda em nada o paciente com obesidade. “Não ajuda o problema, não faz ela melhorar, só desestimula... Fora que algumas pessoas acabam acreditando que são incapazes de resolver o problema”, afirma.

O psiquiatra acredita que as pessoas precisam entender que a obesidade se trata de uma doença e não de uma falha de comportamento ou caráter. “A obesidade está associada a uma disfunção do comportamento alimentar, assim como a anorexia, mas o anoréxico é visto como doente e o obeso não”, completa Sabrina.

Pasta escolhida

Já Vânia Calazans, psicóloga pelo IPQ-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), acredita que a repercussão negativa não foi só fruto do preconceito que os obesos sofrem, mas sim, da pasta que a ministra representará. “Hoje a obesidade é uma preocupação mundial e os governos gastam cifras astronômicas por conta das comorbidades [doenças que aparecem ou se intensificam com a obesidade], como cardiopatias e diabetes”, fala.

Para Vânia, isso seria mais complexo justamente por ela representar o Ministério da Saúde. “Se ela fosse ministra de outra pasta, talvez nem sofreria discriminação, mas, como representante do ministério da Saúde, ela não representa esses termos de saúde ‘esperados’. Acredito que ela terá um trabalho maior para que as pessoas desfoquem da imagem corporal dela e enxerguem a competência dela como ministra”, destaca.