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É seguro que crianças tomem melatonina para problemas de sono?

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Imagem: iStock

Helô Oliveira

Colaboração para o UOL

12/10/2017 04h00

A ingestão de suplementos de melatonina para tratar problemas de sono está longe de ser unanimidade entre a comunidade médica. Se o paciente for uma criança, então, a questão se torna ainda mais complexa. E alguns pais têm recorrido à melatonina aos primeiros sinais de insônia de seus filhos, achando que o hormônio é natural e não faz mal. É aí que mora o problema.

Embora o uso do hormônio seja considerado seguro, ele pode causar diversos efeitos colaterais, como dor de cabeça e no estômago, irritabilidade, tontura, sintomas depressivos de curta duração e sonolência diurna. Isso sem contar potenciais malefícios à saúde se ingerido por longos períodos. “Existem poucos estudos sobre o efeito do consumo contínuo de melatonina, mas o que se sabe é que ela pode interagir com outros hormônios dessa fase da vida e interferir no desenvolvimento físico e psicológico da criança”, alerta Shigueo Yonekura, neurologista do Instituto de Medicina e Sono de Campinas e Piracicaba.

Para o pediatra Moises Chencinski, de São Paulo, uma simples dificuldade para dormir não é suficiente para tomar o suplemento. “A melatonina só deve ser prescrita quando constatado que a criança não tem uma produção suficiente do hormônio. Isso acontece principalmente em casos de autismo, cegueira total, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade ou lesão neurológica”, explica. Portanto, antes de qualquer decisão, consulte um endocrinologista. “Muitas vezes, a questão é apenas comportamental e resolvida sem uso de medicamentos”, diz Yonekura.

Uso adulto

A melatonina é indicada para trabalhadores noturnos, que precisam dormir em horários alternativos, ou para quem sofre com o incômodo “jet lag” (alteração do ritmo biológico após mudanças do fuso horário em longas viagens de avião). Ela também pode ser indicada para melhorar o bem-estar de pacientes portadores de doenças que diminuem a produção do hormônio, como Alzheimer e Parkinson. Gestantes e mulheres que desejam engravidar ou que estejam fazendo tratamento à base de estrogênio devem ficar longe da substância, uma vez que ela tem um leve efeito inibidor do hormônio feminino.

Como funciona

Conhecida como o “hormônio do sono”, a melatonina é produzida pela glândula pineal, localizada na parte central do cérebro. Sua produção tem início à noite, para encorajar o sono, e atinge seu nível máximo quando estamos dormindo. No início da manhã, ela é reduzida, o que sinaliza que é hora de acordar.

Se você estiver em um local iluminado, mesmo pela luz emitida pela televisão, pelo computador ou pelo celular, o organismo receberá o recado de que ainda é dia. Como resultado, o relógio biológico fica desregulado e o hormônio para de funcionar corretamente, causando não só distúrbios de sono, como também uma série de problemas à saúde, entre eles obesidade, diabetes, envelhecimento precoce e hipertensão.

O primeiro registro da existência da melatonina foi feito em 1958, pelo dermatologista norte-americano Aaron Lerner. Nas décadas de 1960 e 1970, deu-se início à sua comercialização, mas o verdadeiro estouro nas vendas aconteceu vinte anos depois, fenômeno conhecido como “melatonin madness” (“febre da melatonina”, em tradução livre).