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Perfumaria francesa promete trazer de volta fragrância de quem já morreu

18.jun.2015 - Katia Apalategui (dir), fundadora da pequena empresa Kalain (uma alusão à palavra calin ou "carinho", em francês), ao lado de seu filho Florian - Kalain/Divulgação
18.jun.2015 - Katia Apalategui (dir), fundadora da pequena empresa Kalain (uma alusão à palavra calin ou "carinho", em francês), ao lado de seu filho Florian Imagem: Kalain/Divulgação

Daniela Fernandes

De Paris para a BBC Brasil

18/06/2015 11h36

Uma empresa francesa vai fabricar perfumes que recriam o odor de uma pessoa falecida a partir de roupas que ela usava.

Katia Apalategui, fundadora da pequena empresa Kalain (uma alusão à palavra calin ou "carinho", em francês) contou à BBC Brasil que a ideia surgiu há sete anos, quando seu pai faleceu por motivos de saúde. "Algumas pessoas mantém os laços com quem faleceu por meio de fotos ou vídeos. Eu precisava sentir de novo o cheiro do meu pai", afirma.

"Um dia disse isso à minha mãe e ela me contou que sentia a mesma necessidade e que por isso nunca havia lavado a fronha do travesseiro dele", diz Katia. "Pensei que se há duas loucas que pensam dessa forma, talvez outras pessoas também sentissem a mesma necessidade", completa.

Foi um longo percurso até tornar o perfume realidade. Katia, que trabalha como corretora de seguros, bateu em inúmeras portas e passou dois anos procurando um laboratório capaz de desenvolver a fragrância até encontrar a Unidade de Química Orgânica e Macromolecular (Urcom) da Universidade do Havre, na Normandia, especializada em moléculas odorantes.

O laboratório universitário desenvolveu uma técnica que permite reproduzir o odor humano a partir de um tecido usado pela pessoa. "Pegamos a roupa da pessoa e extraímos o cheiro dela, o que representa mais de 50 moléculas, e o reconstituímos sob a forma de um perfume, no álcool, após quatro dias", explica Géraldine Savary, da Urcom.

"O cheiro de cada pessoa varia em função de sua alimentação, de cremes e perfumes que ela utiliza, de possíveis doenças, tudo isso misturado representa uma espécie de assinatura olfativa de cada um", explica Katia.

Em seguida ela, ela encontrou um órgão público, a agência regional de inovação da Alta Normandia, que a ajudou a levantar recursos para viabilizar a iniciativa. Esse recursos permitiram que o laboratório da universidade, por exemplo, remunerasse um químico formado pela faculdade.

Reconforto olfativo

A Kalain, que será comandada pelo filho de Katia, Florian Rabeau, iniciará suas atividades entre setembro e outubro deste ano.

O perfume que reproduz o odor natural de uma pessoa deve custar 560 euros (cerca de R$ 2 mil), segundo Katia, que descreve o produto como um "reconforto olfativo".

Ela diz já ter sido contatada por inúmeras pessoas e distribuidores de países na Europa, Ásia e também dos Estados Unidos. Uma delas, conta Katia, afirmou querer reproduzir o cheiro do cachorro falecido.

A Kalain trabalhará principalmente com agências funerárias, que oferecerão o perfume a famílias de pessoas falecidas. Mas Katia quer também comercializar o cheiro de pessoas vivas. Ela vê como possíveis clientes casais de namorados ou casais que por alguma razão, uma viagem por exemplo, fiquem separadas por um tempo.

Apesar do preço, o perfume não pode ser refeito a partir da fragrância original, como um refil. "Ainda não temos essa tecnologia. Se a pessoa quiser um novo frasco, terá de fornecer uma outra peça de roupa", diz Katia.

Ela diz que o projeto e a criação da empresa permitiu que ela encerrasse seu luto "de maneira positiva".