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Vaselina, petrolato ou óleo mineral: esses ingredientes são um problema?

Mesmo cosméticos caros podem ter petrolatos na fórmula; leia sempre o rótulo - iStock
Mesmo cosméticos caros podem ter petrolatos na fórmula; leia sempre o rótulo Imagem: iStock

Paula Roschel

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/09/2017 04h00

Presentes em muitos cosméticos, derivados do petróleo estão na berlinda da saúde e da sustentabilidade em discussões acaloradas entre especialistas e consumidores. Mas qual é a verdade nisso tudo? Existem provas suficientes para enquadrar o petrolato como um problema dentro do nécessaire? Veja as dúvidas mais comuns:
 

Como posso identificar o petrolato nos rótulos?

O ingrediente é usado pela indústria cosmética há bastante tempo, por ser uma matéria barata e produzida em grandes quantidades. Essa mistura semi-sólida de hidrocarbonetos obtida por meio do petróleo e usada, entre outras coisas, em pomadas medicinais e para lubrificação pode ser identificada também como parafina, vaselina, óleo mineral e até mesmo silicone, afirma o dermatologista Alberto Cordeiro, da H?raios Estética.

O componente pode estar presente nas fórmulas de produtos para corpo, cabelo e rosto com as nomenclaturas de MINERAL OIL -PARAFFIN, PARAFFINUM LIQUIDUM  -PETROLATUM, C10-11 ISOPARAFFIN, C13-14 ISOPARAFFIN, C13-16 ISOPARAFFIN, C15-35 ISOPARAFFIN/ISOALKYLCYCLOALKANES, C18-50 ISOPARAFFIN, C18-70 ISOPARAFFIN, C20-40 ISOPARAFFIN, CHLORINATED PARAFFIN, PETROLATUM RED, PETROLATUM BETA, METHYL-CYCLODODECANEETHANOL, DIISOCETYL DODECANEDIOATE, DIOCTYLDODECYL DODECANEDIOATE, DODECANE, DODECANEDIOIC ACID, DODECANEDIOIC ACID/CETEARYL ALCOHOL/GLYCOL COPOLYMER, C7-8 ISOPARAFFIN, C8-9 ISOPARAFFIN, C9-13 ISOPARAFFIN, C9-14 ISOPARAFFIN, C9-16 ISOPARAFFIN, C10-13 ISOPARAFFIN, C9-11 ISOPARAFFIN, C11-13 ISOPARAFFIN, C11-14 ISOPARAFFIN, C9-12 ISOPARAFFIN, C10-12 ISOPARAFFIN, C11-12, ISOPARAFFIN, C12-14 ISOPARAFFIN, C12-20 ISOPARAFFIN.

Por que se tornou vilão?

“No petrolato bruto existem substâncias chamadas hidrocarbonetos aromáticos. Um estudo norueguês, publicado este ano, concluiu que esses componentes aromáticos estão diretamente relacionados com o aparecimento de câncer em trabalhadores expostos ao petrolato não refinado. Quando usado em cosméticos, o petrolato já está refinado e, por isso, ele é considerado seguro pelos órgãos regulatórios, como Anvisa, FDA e Europe Commission. Portanto, é importante não tratar o óleo mineral como se ele fosse apenas uma substância. Existe o não refinado, que é um risco, e o purificado, considerado seguro”, esclarece Lucas Portilho, consultor e pesquisador em Cosmetologia, farmacêutico e diretor científico da Consulfarma.

Como ele age na pele e nos cabelos?

Para o dermatologista e cirurgião dermatológico Gabriel Aribi, a forma como o componente age é um ponto negativo: “Do ponto de vista cosmético, nos cabelos e na pele ele forma uma película impermeável, que pode atrapalhar a nutrição. E pode entupir os poros e causar dermatites” enfatiza.

Efeito rebote: sim ou não?

Efeito rebote é quando existe a volta de sintomas e características após o uso de algum produto para curar ou amenizar tal condição. Em muitos tutoriais pela internet esse termo é aplicado ao petrolato, mas o especialista Lucas Portilho esclarece o que ocorre: “O efeito rebote não existe. Na verdade, quando o consumidor aplica um produto com óleo mineral, a pele se mantém hidratada, fica com aspecto mais bonito, mas só até retirar o cosmético. Após o banho, o produto é removido e a desidratação continua, ocorrendo a necessidade de reaplicação.”

Profissionais da beleza correm mais risco?

Para quem trabalha em salões de beleza e clínicas de estética a atenção deve ser redobrada: “Alguns artigos comprovam a nocividade do petrolato com uso contínuo, pois se acumulam no organismo. Além do risco maior de desenvolver artrite reumatóide por profissionais que estão em constante contato e manipulação”, alerta Isabel Piatti, especialista em estética e cosmetologia e embaixadora do CIA (Centro e Instituto Internacional de Aprimoramento e Pesquisas Científicas).

Há algum impacto na natureza?

Além de pensar no impacto direto ao corpo, muitos consumidores tiraram o petrolato da sua vida por um motivo muito mais global, pois ele é prejudicial aos organismos aquáticos e a água contaminada por derivados de petróleo é imprópria para uso ou consumo humano. “Apenas 1 litro de óleo mineral usado pode contaminar 1 milhão de litros de água, comprometendo sua oxigenação. Essa substância leva dezenas de anos para desaparecer no ambiente, matando a vegetação e microrganismos, causando infertilidade, entre outros impactos”, enfatiza Isabel. Imagina o quanto isso é massivo se considerarmos o consumo da população mundial, jogando ralo abaixo no banho seus cremes para cabelo e pele todo dia?

Afinal, é melhor usar ou não?

Para Lucas Portilho, tendo em vista que opções vegetais podem ser mais sustentáveis, o melhor é não usar produtos com derivados de petróleo. Essa ideia também é defendida por Isabel Piatti, que recomenda produtos biocompatíveis, livres de substâncias irritantes e sensibilizantes. O dermatologista Gabriel Aribi também segue essa tendência de pensamento: “Eu aconselharia a parar de usar fórmulas contendo petrolato para prevenir a intoxicação com substâncias cancerígenas e também evitar prejudicar o meio ambiente.”