Topo

Nem o câncer conseguiu abater a autoestima destas mulheres vaidosas

Bárbara Therrie

Colaboração para o UOL

30/10/2017 04h00

Cada mulher reage de forma diferente às mudanças na aparência provocadas pelo tratamento de câncer, mas todas dividem um sofrimento, além do combate à doença: não se sentirem mais bonitas. A seguir, conheça a história da jovem que se inspirou na Mulher-Maravilha, da médica que montou um ‘kit para não ficar com cara de doente’ e da modelo que desfilou de lingerie durante a quimioterapia.

Veja também

Talita no dia de sua última quimioterapia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Comemorei minha última químio fantasiada de Mulher-Maravilha

Talita Santana, 20 anos, estudante de Direito, foi diagnosticada duas vezes com o Linfoma de Hodgkin

“Descobri o câncer quando tinha 15 anos e isso só aumentou ainda mais minha vaidade. O processo de perder os pelos foi bem tranquilo, colava cílios postiços e desenhava a sobrancelha. Cheguei a comprar peruca, mas me arrependi, além de ser quente, ficou artificial em mim. Decidi me aceitar do jeito que estava, assumi minha careca branquela e curti o momento!

Eu me achava linda sem cabelo e resolvi fazer um ensaio fotográfico para mostrar às pessoas que você pode se sentir bonita mesmo estando doente. Às vezes eu ficava triste, mas logo passava, me maquiava para disfarçar a pele seca e as olheiras, usava lenços na cabeça e minha autoestima ia lá para cima. Quando você aceita a doença, sua luz e energia mudam. Foi assim que encarei a volta do tumor em 2016, quando fui submetida a um transplante de medula óssea autólogo.

Fiz um protocolo de 12 quimioterapias e comemorei a última sessão na clínica onde fazia o tratamento de um jeito bem divertido: fiz uma festa inspirada na Mulher-Maravilha, a quem admiro pela força, coragem e fé. Eu mesma preparei a fantasia, os acessórios e a decoração. Assim como a personagem, eu nunca desisti. Em alguns momentos, caí, mas sempre me levantei. Sou linda, guerreira e uma heroína por tudo o que passei. Hoje meu câncer está ‘dormindo’ e sinto uma felicidade que não cabe dentro de mim”.

Fabíola em ensaio - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal
Montei um kit de beleza ‘sai pra lá cara de doente’

Fabíola La Torre, 41 anos, pediatra e autora do livro “De médica a Paciente: Como o Câncer de Mama mudou a Minha Vida”

“Passei da condição de médica a paciente em janeiro de 2016, quando recebi o diagnóstico de câncer de mama. Como sabia que as mudanças no corpo e no visual eram inevitáveis, fui à luta. Logo no início do tratamento fiz uma dieta e perdi 12 kg. Até hoje faço atividade física regular. Antes de ficar careca, comprei uma peruca e depois adotei uma prótese capilar, que é colada no couro cabeludo. Dormir e acordar com os cabelos me dava uma sensação de estar mais bonita.

É verdade que as sessões de químio nos deixam inchadas, pálidas, afetam a nossa pele, unhas, pelos, mas nem por isso precisamos ficar acabadas. Ainda somos mulheres e temos de nos sentir bem com a nossa aparência. Foi pensando nisso que montei o ‘kit sai pra lá cara de doente’, que inclui corretivo, base, sombra marrom para sobrancelhas, delineador, lápis de olho, blush e batom. Só depois de me perfumar e abusar do meu kit de beleza é que eu saía de casa.

Teve um dia que estava muito ‘deprê’, me sentindo feia, com a pele cheia de acne e tinha um compromisso com o meu filho e marido e não queria que eles me vissem daquele jeito. Recorri ao meu ‘plano de emergência para dias ruins durante o tratamento’. Fui ao salão e fiz uma maquiagem profissional maravilhosa para me sentir melhor, e saí de lá radiante. Em dias em que não estava tão bem, colocava uma roupa bonita e fazia um penteado legal. Cuidar do meu bem-estar e me manter vaidosa me deixavam mais fortalecida”.

Gislene desfilou de lingerie em meio à quimioterapia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal
Desfilei de lingerie em meio às sessões de quimioterapia

Gislene Charaba, 31 anos, modelo, foi diagnosticada com câncer de mama, fez um quadrante no seio esquerdo com esvaziamento axilar e retirou 74% do osso central do tórax

“Como mulher já foi difícil descobrir um tumor no seio, como modelo, que vive da imagem para trabalhar, foi ainda mais assustador. O segredo para encarar tudo foi me adaptar e respeitar meus limites. O primeiro momento de superação foi desfilar de lingerie em meio às 12 sessões de quimioterapia. Mascarava os efeitos do tratamento aplicando bastante hidratante e abusando da maquiagem. Foi uma experiência sensacional onde me senti útil, feliz, bonita e confiante para enfrentar o que estava por vir.

Antes do câncer, desfilei por anos no programa "SuperPop", da Luciana Gimenez, mas nada foi tão desafiador como participar de um evento beneficente em um elegante vestido de gala 45 dias após a cirurgia na mama. Sentia dores horríveis, mas esse esforço foi importante para me colocar de pé novamente e levantar minha autoestima.

Outro momento emocionante foi a primeira vez que desfilei de lingerie dois meses após o procedimento cirúrgico. Nem eu acreditei que eu estava ali de sutiã preto e camisola, depois de um tratamento doloroso que contabilizou 11 horas de cirurgia, dois dias na UTI, três drenos e nove dias no hospital. Lá estava eu na passarela com minhas duas cicatrizes à mostra, fazendo o que mais amo. No final, tirei minha peruca e tive uma aceitação imediata das mulheres ali presentes. Foi lindo e libertador. Eu tinha conseguido, eu venci”.