Entenda como uma cor vira tendência no mercado de design
Não se assuste caso você note que existem várias coisas amarelas mostarda, puxando para o quente e para o dourado, ao longo dos próximos meses. Não será coincidência.
Você verá esse amarelo todo por conta da decisão tomada em uma conferência de cinco dias no Hotel Hilton, em Portland, Oregon, em novembro passado, organizada pelo Color Marketing Group, que se apresenta como "a principal associação internacional para profissionais do design de cores”. A conferência aconteceu para escolher as cores que tendem a ser populares mais ou menos no próximo ano, e para identificar o tom mais popular, a “próxima cor”, que acabou virando esse amarelo mostarda e dourado chamado “lua-de-mel".
Como ele foi escolhido? Cada um dos 175 participantes da conferência era um “designer de cor profissional", cujo papel é o de antecipar os matizes pelas quais o resto de nós vai ser atraído. Suas previsões são baseadas em todos os fatores usuais do marketing psicológico: o que está acontecendo na economia, nas artes e na tecnologia; se estamos propensos a nos sentir felizes com os acontecimentos no mundo que nos cerca ou petrificados pela perspectiva de catástrofes naturais, crises geopolíticas, pandemias e horrores com o meio ambiente (não é nenhuma novidade afirmar que temos ficado muito mais voltados ao estado "petrificado" há algum tempo).
O encontro começou com a divisão dos participantes em grupos de doze, mais um facilitador. Cada pessoa apresentou previsões para o próximo ano junto ao grupo antes de colocar sua amostras de cores em um tabuleiro, e todos em seguida escolheram os tons mais parecidos. Os facilitadores, em seguida, repetiram o processo com as cores escolhidas pelos grupos para identificar as mais populares, e a cor que seria o “próximo hit”.
Por que a cor “lua-de-mel”? A explicação oficial, de acordo com o comunicado à imprensa feito pelo grupo, é que a cor tem um “tom de otimismo fundamentado”, que deve se provar nesses tempos em que “frivolidade é out” e “otimismo e realismo são in”. Numa interpretação livre, isso significa que depois de vários anos aproveitando a segurança dos tons neutros, antes os beges e, recentemente, os cinzas, estamos cansados de nos sentir tristes, mas não estamos confiantes o bastante (pelas razões petrificantes citadas acima) para nos deixarmos levar por qualquer coisa tão vibrante quanto, por exemplo, um vermelho tomate ou um amarelo narciso. Portanto, aceitamos nos alegrar com um reconfortante mostarda dourado.
Colocando nestes termos, isso soa perfeitamente plausível. A cor é um dos aspectos do design sobre o qual a maioria das pessoas, inclusive os designers, tende a se sentir menos confiante. Não só temos um vocabulário limitado para descrevê-lo, como cada um de nós reage de forma ligeiramente diferente a diferentes tons.
Muitas vezes, associamos cores específicas a memórias particulares, e nenhum de nós enxerga o mesmo tom exatamente do mesmo jeito. (Algo que você descreveria como azul pode muito bem ser verde para mim).
A cor "lua-de-mel" tem um "tom de otimismo fundamentado", que deve se provar nesses tempos em que "frivolidade é out" e "otimismo e realismo são in", segundo a explicação oficial do grupo
Mas temos reações semelhantes às paletas, razão pela qual os tons mais populares em determinado período tendem a nos dizer algo sobre aquele momento. Matizes brilhantes levantam nosso ânimo. Tons quentes parecem nos tranquilizar. O cinza pode ser sombrio. Dez anos atrás, o Color Marketing Group achava que os azuis confiantes dominariam a próxima década, mas os neutros brandos assumiram o posto depois do trauma do 11 de setembro de 2001.
Outra razão pela qual você poderá ver um monte de coisas "lua-de-mel", ou em tons parecidos, ao longo dos próximos meses, é que o processo de previsões coletivo transformou-se em profecias autoexecutadas, desde que um número suficiente de empresas compactue com elas.
O Color Marketing Group não é a única organização a prestar o serviço de previsão de cores, embora seja uma das maiores. Algumas empresas de design mais experientes preferem procurar conselhos sobre cor em regime de exclusividade a partir de consultores especializados como Beatrice Santiccioli, de San Francisco, cujos clientes incluem a Apple e a Nike, ou o Studio Edelkoort, dirigido por Li Edelkoort, em Paris. A designer de produtos holandesa Hella Jongerius, que é conhecida por seu uso complexo e sutil de cores, aconselha um bom número de empresas, entre elas Vitra, Maharam, Camper e Royal Tichelaar Makkum.
A maioria dessas empresas não tem interesse em previsões coletivas ou em usar a mesma “próxima cor” que seus concorrentes.
"Se você é uma empresa que não tem imaginação ou determinado ponto de vista, se você quer mirar na mosca, este é o caminho certo para você”, disse Michael Maharam, diretor da Maharam, empresa têxtil baseada em Nova York. "Por outro lado, se você quer conduzir, e não seguir, você casa a cor e o produto com base no instinto, trabalha com sensibilidade a partir de sucessos anteriores ou cria uma declaração inesperada.”
É justo. Você não precisa ser um Steve Jobs para saber que os pontos-chave do sucesso nos negócios e no design são originalidade, ousadia, ingenuidade e crença em si mesmo. Mas a triste verdade é que a maioria das empresas não tenta ser original ou audaciosa. Seja por causa de políticas da empresa, pela pressão financeira ou por outros fatores, eles preferem minimizar o risco sempre que possível, o que significa que, por precaução, eles preferem trabalhar com uma cor que saibam que pode vir a ficar popular. Jamie Seymour, designer de veículos da Kawasaki Motors nos Estados Unidos, disse que previsões como as do Color Marketing Group o ajudam ao validar a sua própria pesquisa de tendências do mercado e, quando necessário, ao reforçar seus argumentos para seguir determinado caminho com colegas de outras áreas da empresa.
E se as empresas introduzem cores semelhantes no mercado mais ou menos ao mesmo tempo, o resto de nós vai se acostumar a ver esses tons, percebamos o fato ou não. Outras empresas podem sentir que cometeram algum erro ao não estarem nessa mesma onda, especialmente se esses tons são louvados como tendência pela mídia. Então eles trabalham a precaução ao compactuar com as previsões de cores, portanto previsões como a da "próxima cor" se autoexecutam.
Mas isso acontece só se todas as previsões forem as mesmas. O guia de cores Pantone escolheu a sua própria “cor de 2011”. Seu nome é "madressilva" e, ao contrário do amarelo simples de "lua-de-mel", é um alegre tom de rosa avermelhado.