E o Oscar vai para: candidatos ao prêmio de melhor abertura e créditos

Alice Rawsthorn

20/03/2011 10h00

 

Não é que eu gostaria de ver o Oscar dando uma de Grammy e distribuindo troféus para todo mundo, mas uma vez que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas já homenageia os designers por figurino, direção de arte, efeitos visuais e maquiagem, por que não fazer o mesmo com um dos meus elementos favoritos em um filme: os créditos que identificam o elenco e a equipe, na abertura e no final?

Se a Academia celebrasse os créditos, a quem estaríamos brindando na cerimônia do Oscar? Aqui vão meus indicados para o prêmio completamente não-oficial na categoria de "Melhor Crédito".

É um grupo heterogêneo, mas com algo em comum: todos eles estão em conformidade com a definição do designer americano Saul Bass para créditos bem concebidos de filmes. O trabalho para Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Martin Scorsese e outros diretores transformaram Bass no mestre dos créditos, mas nem ele mesmo acreditava que estes deveriam atuar como coadjuvantes nos filmes.

"Minhas primeiras impressões sobre o que os créditos podem fazer foram dar o tom e indicar a primeira pista sobre a história do filme, expressando a história de modo metafórico", disse ele, em uma entrevista de 1996. "Eu enxergava os créditos como uma forma de condicionar o público, de modo que quando o filme realmente começasse, o público já tivesse um determinado eco emocional."

Todos os meus cinco candidatos conseguem fazer isso, mas de maneiras diferentes. Vamos começar com a sequência que provavelmente teria mais apelo para os puristas do design: os créditos minimalistas criados para o filme de Sofia Coppola, "Um Lugar Qualquer", por Peter Miles, designer britânico baseado em Nova York.

Miles criou todos os créditos dos filmes de Sofia Coppola, sempre com um estilo calculadamente simples e que ele descreve como "design reduzido ao essencial", ao qual acrescenta um toque inesperado e geralmente inquietante.

Para "Um Lugar Qualquer", seu objetivo era refletir o espírito de Los Angeles, onde o filme foi rodado, em especial os outdoors. Ele fez isso ao desnudar os créditos transformando-os em simples letras brancas sobre um fundo preto. Só depois de olhar atentamente para cada letra é que você percebe que algumas possuem formas estranhas. O "f" tem uma haste surpreendentemente longa, o "g" tem uma curva estranha. Outras letras são ligeiramente inclinadas ou possuem tamanhos e espaçamentos fora de padrão. Mesmo sendo sutis, estas distorções criam um efeito vago, incerto, alienante, exatamente como o filme.

O outro indicado também vem com uma ação tipográfica bem-sucedida: os títulos de abertura criados por Marco Cendron, de Milão, para o filme de Luca Guadagnino "Eu Sou o Amor”. O subtexto do filme é a luta de uma dinastia industrial milanesa para se apegar aos valores da Itália pós-guerra. Cendron capta essa tensão ao contrastar letras intrincadas, especialmente desenhadas pelo calígrafo Luca Barcellona e que evocam os créditos criados artesanalmente para os filmes italianos neo-racionalistas dos anos da década de 1940, com uma tipografia simples e modernista inspirada no trabalho do arquiteto norte-americano de meados do século 20, Richard Neutra. Essas fontes flutuam sobre uma sequência especialmente filmada da cidade de Milão coberta de neve. A cidade está tão encoberta que fica impossível determinar em que época a sequência foi filmada.

A tipografia é utilizada para causar um efeito muito diferente nos créditos criados por VooDooDog, de Londres, para o filme de ação norte-americano "Esquadrão Classe A". Ele se baseia em uma série de TV homônima dos anos de 1980, na qual quatro ex-militares são perseguidos pelo exército dos  Estados Unidos por um crime que não cometeram. VooDooDog resgatou referências da série de TV original ao usar uma fonte semelhante, inspirada nas letras feitas com estêncil sobre as caixas de armas e que transmitem o espírito rápido, impetuoso e jocoso do filme, assim como todo seu cenário militar.

Igualmente impressionantes são as legendas que identificam novas localizações durante o filme, usando as letras desajeitadas das máquinas de escrever e das máquinas de telex antigas. Eles rolam sobre a tela, uma de cada vez, sugerindo a urgência da situação do Esquadrão Classe A, conforme o exército dos Estados Unidos vai fechando o cerco.

O quarto indicado é uma anomalia. Não que haja algo de errado com os créditos de "A Rede Social", muito pelo contrário, mas eles estão longe de ser tão impressionantes quanto os dos filmes anteriores do diretor David Fincher, que domina o design contemporâneo em sequências poderosas para "Os Sete Pecados Capitais”, "O Quarto do Pânico" e "Clube da Luta." Mas o Fincher queria mesmo algo diferente desta vez.

"A ideia de David para os créditos, totalmente discretos sobre uma cena de ação -foi literalmente um caso de quão pequenas podemos usar as fontes", explicou Neil Kellerhouse, o designer de Los Angeles que criou a sequência. "O filme vem num ritmo muito lento, e o texto surge um pouco mais rápido em um efeito que transmite pressa, ansiedade e uma leve agitação.”

Podem ser discretos, mas aqueles créditos inquietos são o perfeito desenvolvimento do filme, que mostra o início do site de relacionamento Facebook. "A Rede Social" ainda ganha pontos extra pontos pelo seu pôster. Também criado por Neil Kellerhouse, consiste de uma foto fechada do rosto da personagem principal coberto pelas frase "Você não ganha 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos" em caixa alta, branco, na fonte modernista Futura. Depois que o filme havia feito 300 milhões dólares de bilheteria, uma homenagem surgiu na internet com um slogan diferente: "Você não chega 300 milhões de dólares sem uma baita uma campanha de marketing."

Mesmo assim, o vencedor do meu prêmio não-oficial de "Melhor Crédito" é, por outro lado, um filme que não foi indicado ao Oscar: "Os Outros Caras", uma comédia norte-americana na qual uma gigante fraude financeira é frustrada por uma dupla de detetives azarados. Os créditos iniciais são mais ou menos, mas o encerramento traz uma fabulosa série de animações que demonstram detalhes de esquemas de piramide, socorro a bancos, bônus absurdos pagos a executivos e o impacto que causam na economia global.

Desenvolvido pela Picture Mill, de Los Angeles, a sequência é esperta, engraçada e bem pensada, e talvez até esteja em desacordo com a visão de Saul Bass sobre o que são bons créditos porque, neste caso, são muito, muito melhores que o filme.

Tradutor: Erika Brandão

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