Mulheres ganham espaço no mundo do design, mas topo ainda é dos homens

David O'Connor/Rhode Island School of Design
Estudantes de design de mobiliário carregam projetos para o ateliê na Rhode Island School of Design, nos Estados Unidos, onde 68% dos estudantes são mulheres Imagem: David O'Connor/Rhode Island School of Design

Alice Rawsthorn

03/04/2011 08h00

LONDRES - Tudo começou um mês atrás, quando me pediram para compilar uma lista de 20 designers que irão influenciar o design na próxima década, ao lado de Paola Antonelli, curadora sênior de design no MoMA de Nova York. Depois de semanas trocando e-mails com idéias, a lista estava em fase de conclusão e procurávamos por eventuais omissões.

Uma preocupação era se havíamos incluído designers de disciplinas suficientes, especialmente as novas, que serão cada vez mais importantes no futuro. Outra preocupação era geográfica. Havia muitos designers da Europa Ocidental e da América do Norte? E poucos vindos dos centros de design emergentes na Europa Oriental, África, Ásia e América Latina? Ao mesmo tempo, logo percebemos que não precisaríamos nos preocupar com um problema que tradicionalmente vem atormentando as tais listas. Não houve falta de mulheres.

Nossa lista estava equilibrada entre os sexos. Nenhuma surpresa nisso, você pode pensar. Por que a divisão de gênero no design seria diferente do resto da população mundial? Mas já foi um dia. Quantas mulheres designers você vê nos livros de história do design? Não muitas.

O design tem sido um mundo masculino desde a Revolução Industrial. Mesmo no século 20, as poucas mulheres bem-sucedidas costumavam trabalhar com colaboradores do sexo masculino, que geralmente as ofuscavam. Tome como exemplo Lilly Reich, a principal designer da maioria dos móveis costumeiramente atribuídos a Mies Van Der Rohe. Ou Charlotte Perriand, que foi relegada a um similar papel de coadjuvante com Le Corbusier e seu amante Edouard Jeanneret. O mesmo destino sobreveio Ray Eames, esposa do (mais) famoso Charles.

  • David O'Connor/Rhode Island School of Design

    Aula na Rhode Island School of Design, nos Estados Unidos. A maior parte das escolas top de design possui mais estudantes do sexo feminino


As coisas mudaram? Sim e não. Uma mudança significativa está nos números. A maior parte das escolas top de design tem agora maioria de estudantes do sexo feminino – 68% na Rhode Island School of Design, nos Estados Unidos, e 54% na Design Academy Eindhoven, na Holanda. As mulheres também superam numericamente os homens em muitas organizações profissionais, incluindo o American Institute of Graphic Arts, onde é assim há 15 anos.

Outro avanço é que as designers do sexo feminino já não são ofuscadas pelos parceiros do sexo masculino. Tony Dunne e Fiona Raby, de Dunne & Raby, são tratados como iguais, assim como são Nipa Doshi e Jonathan Levien, de Doshi Levien. Há também exemplos de casais que trabalham sob o nome da mulher, e não do homem, como Wieki Somers e van den Berg Dylan, no Studio Wieki Somers. Algumas designers mulheres têm garantidos seus influentes papéis junto a fabricantes poderosos, entre elas Hella Jongerius, na Vitra, e Patricia Urquiola na Moroso.

Mas a maioria dos designers que recebem licenças das empresas são homens. O mesmo se aplica aos mais altos membros na hierarquia do AIGA (American Institute of Graphic Arts). A única mulher, exceto a Sra. Hella Jongerius, entre os 22 designers ou equipes de design listados no site da Vitra é Ray Eames - por ter projetado seus móveis de escritório -, que morreu em 1988.

Por que tão poucas mulheres chegam ao topo do design? A resposta rápida é a mesma falta de autoconfiança e de direito ao cargo que as perseguem em todas as outras profissões, aliadas à oposição daqueles que licenciam boa parte dos projetos de design, a maioria deles homens. A designer gráfica Paula Scher uma vez descreveu esta como a síndrome do "Por que eu escolhi a mulher?”.  

  • David Lundberg

    A designer Ilse Crawford, fundadora do grupo de design Studioilse e professora na Design Academy Eindhoven, na Holanda


"Não há dúvidas de que o design tem sido um clube de meninos, muitas vezes eu ainda sou a única mulher na mesa", disse Ilse Crawford, fundadora do grupo de design Studioilse e professora em Eindhoven. "Como em todas as profissões, são as horas que você gasta durante seus 30 e 40 anos que realmente o impulsionam adiante. Projetos de design acontecem em prazos apertados e muitas vezes mutantes. Não é um emprego de 9h as 5h. Se as mulheres tiverem filhos, e a menos que seus parceiros as apoiem e incentivem, elas estão em desvantagem. "

Esses obstáculos são tão aborrecidamente intransponíveis no mundo do design quanto em qualquer outro mundo. Então por que há tantas mulheres na lista que fiz com Paola Antonelli? Foi só porque, conscientemente ou não, nós quisemos apoiar as mulheres mais jovens? Possivelmente, apesar de também haver sinais encorajadores de que as designers do sexo feminino podem se sair melhor no futuro.

Um deles é que as mulheres estão abrindo cada vez mais portas à medida que ascendem a posições de poder em outras áreas. Elas ficam mais abertas para licenciar designers mulheres, assim como, por justiça, talvez a próxima geração a abrir portas seja do sexo masculino.

Outro fato é que o design está se expandindo para novas áreas em resposta aos avanços da ciência e tecnologia e às mudanças sociais e econômicas. Historicamente, as mulheres têm prosperado em novos campos onde não há guardiões do sexo masculino, onde elas são livres para inventar seus próprios métodos de trabalho, assim como fez Muriel Cooper, uma das pioneiras do design digital durante os anos 70 e 80.

Como a nossa lista é voltada para o futuro, muitos dos nossos designers escolhidos trabalham nestes novos domínios. Se tivéssemos nos prendido às áreas tradicionais tais como gráficos ou design de produto, o equilíbrio entre os gêneros poderia ter sido diferente. Nossas escolhas incluem muitos homens inteligentes, mas também mulheres, como Neri Oxman e Daisy Ginsberg, que estão trabalhando na fronteira entre o design e a ciência, e as pioneiras no design social Hilary Cottam e Emily Pilloton.

Uma característica marcante destas novas disciplinas - e da evolução das antigas - é a colaboração, tanto entre indivíduos quanto por reunir elementos de diferentes áreas, algo que as mulheres tendem a fazer bem. "Pessoalmente, estou muito inspirada por Julia Kristeva e outras críticas teóricas feministas, que falam sobre a criatividade das margens e sobre como combinar sobras de diferentes maneiras", diz Hilary. "No meu caso, isso é design, teoria política e novas formas de negócios."

Igualmente encorajador é o fato de que embora a maioria das designers do sexo feminino com mais de 35 anos com quem discuti a questão tenha confirmado a teoria de Ilse Crawford sobre o "clube dos meninos" (somente para registro, todos os designers homens se mostraram perplexos), algumas jovens designers não.

"Honestamente, nunca senti conscientemente que ser mulher fosse uma vantagem ou desvantagem no universo do design", diz Emily, 29. "Isso me faz soar como uma menina mimada e desavisada que está tirando proveito dos benefícios pelos quais as gerações anteriores brigaram?" Não necessariamente. Não era isso que suas antecessoras queriam?

 

Tradutor: Erika Brandão

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