História das placas no metrô de Nova York reflete desorganização dos projetos de design

Ozier Muhammad/The New York Times
Placa de metrô em Manhattan instalada em 2008 utilizando a fonte Helvetica Imagem: Ozier Muhammad/The New York Times

Alice Rawsthorn

01/05/2011 08h00

NOVA YORK - Antes, uma confissão: sempre que escrevo sobre um projeto de design, há o risco de fazer com que ele pareça mais simples do que realmente é. Não sou a única culpada, a maioria dos outros críticos também fazem isso. Você conhece esse roteiro: surge um problema. Um designer é chamado para resolvê-lo. Ele ou (eventualmente) ela analisa o problema, identifica uma solução e a implementa. Pronto, missão cumprida.

Há razões para esta simplificação. Tenho espaço para apenas um determinado número de palavras em uma coluna, e em geral é muito pouco para explicar tudo detalhadamente, e detalhes em demasia podem confundir. Pode também haver uma tendência natural, sem dúvida exagerada, dos que optam por escrever sobre algo tão intrinsecamente controlador quanto o design, em querer organizar as coisas.

Mas os projetos de design raramente são organizados. Eles estão muito mais propensos à confusão, ao caos, e a serem determinados pelo acaso, por gafes e por ajustes tanto quanto por disposição prévia. É sempre reconfortante encontrar um relato impreciso dessa confusa realidade, e o historiador norte-americano de design Paul Shaw produziu um exemplo particularmente cuidadoso e atraente em seu novo livro, “Helvetica and the New York City Subway System” ["Helvetica e Sistema de Metrô da Cidade de NY”, em tradução livre] (MIT Press).

Se algum dia alguma fonte esteve destinada a simbolizar uma cidade, esta é a Helvetica e Nova York. Como outros grandes nova-iorquinos, a Helvetica veio de outro lugar: da pequena cidade suíça de Münchenstein, onde foi desenvolvida em meados da década de 50 por um designer obscuro, Max Miedinger, para a Fundição de Tipos Haas. Fiel à tradição emigrante, ela dispensou o seu nome original - Neue Haas Grotesk - quando chegou aos Estados Unidos, em favor de um nome mais fácil para os americanos pronunciarem.

A mudança funcionou. A Helvetica floresceu nos Estados Unidos, tornando-se a fonte de escolha dos designers dos anos 60 que queriam que seus trabalhos tivessem um ar moderno. Entre eles estavam Bob Noorda e Massimo Vignelli, que escolheram a Helvetica como fonte para as placas do metrô de Nova York quando elas foram repaginadas, no final dos anos 1960. Ainda é possível vê-las na última versão deste trabalho nas milhares de placas nos trens, estações e plataformas do metrô de Nova York.

Parecem muito confortáveis ali, não somente por serem familiares, mas porque seu caráter reflete o da cidade. A Helvetica é simples na forma e não tem detalhes decorativos; assim como os nova-iorquinos, ela é robusta, objetiva e pragmática.

Pronto! Só que a história não é tão simples e direta assim, como explica o Sr. Shaw. A Helvetica não se tornou onipresente no sistema de metrô de Nova York até os anos 90. Antes disso, os esforços para introduzi-la foram frustrados por uma novela cacofônica de cortes orçamentais, greves no sistema de transportes, produções de má qualidade e gestões medíocres.

A Helvetica não foi a única vítima. Como o Sr. Shaw explica em seu prefácio, a história do metrô vinha sendo uma incansável "luta entre forças centrípetas e centrífugas", começando em 1904 com sua primeira linha, a rota Interborough Rapid Transit, que ia do City Hall ao Bronx. Outra empresa foi contratada para construir a segunda linha, e uma terceira fez a próxima. No momento em que as três linhas foram interligadas, em 1940, o sistema já estava irremediavelmente fragmentado.

  • New York Transit Museum

    Estação de metrô no Brooklyn em 1971


Este caos se refletiu em placas no metrô que incluíam o mosaico original com os nomes das estações e um vasto sortimento de placas esmaltadas, vitrificadas e pintadas à mão em diferentes cores, formatos e fontes tipográficas. O título de uma proposta de 1957 para reformular o sistema já dizia tudo: "Saindo do labirinto: um apelo e um plano de melhoria na informação aos passageiros do metrô de Nova York".

A chave para o sucesso de qualquer programa de design da informação é a clareza, especialmente em um sistema de metrô. Passageiros, incluindo os que não são moradores da cidade, confiam em suas placas para guiá-los por uma rede vasta e muitas vezes emaranhada de túneis subterrâneos, nos quais eles não têm outro meio de identificar onde estão. Geralmente precisam ler as placas rapidamente, distraídos por uma multidão de passageiros e trens barulhentos.

Ao longo do século 20, os designers desenvolveram maneiras de resolver esse problema utilizando ferramentas visuais como a codificação por cores, pictogramas e fontes tipográficas. Os exemplos foram o sistema de metrô de Londres da década de 1930 e as primeiras placas que o Sr. Noorda fez nos anos 1960 para o metrô de Milão, que usavam uma versão feita sob encomenda da Helvetica.

Em 1966, o Sr. Noorda foi convidado para trabalhar com o Sr. Vignelli e com o grupo de design Unimark em uma revisão da sinalização do metrô de Nova York. Em seguida, assistiram, horrorizados, a Bergen Street Sign Shop - que fez as placas - começar a implementar algumas das suas recomendações, interpretando erroneamente a maioria delas e ignorando outras. Ainda se recuperando de uma greve nos transportes no início daquele ano, as autoridades responsáveis estavam com pouco dinheiro e se recusaram a permitir que a Unimark supervisionasse o processo.

Por fim, as autoridades cederam e determinaram que a Unimark produzisse um projeto global de design, do qual muitos dos seus elementos ainda sobrevivem. Mesmo assim, o processo foi mal remendado. A Unimark não ficou satisfeita com a mão de obra fornecida pela Bergen Street, mas as autoridades se recusaram a considerar outras alternativas. A escolha da fonte tipográfica ficou restrita às que já eram utilizadas pelo estabelecimento, e elas não incluíam a Helvetica. A Unimark teve que se contentar com a semelhante, porém menos refinada, Standard Medium. E as autoridades dos transportes não poderiam jamais pagar toda a nova produção de placas, gerando um emaranhado confuso de placas antigas e novas.

No entanto, outra versão do projeto da Unimark foi exposto no final dos anos 1970, somente para encontrar problemas semelhantes. Só depois de 1989 que a Helvetica finalmente se tornou a fonte oficial do metrô.

A Helvetica, desde então, tornou-se um dos símbolos mais visíveis de Nova York, embora a sua dominação total do metrô ainda não esteja completa. O Sr. Shaw detecta uma nova ameaça vinda da distração causada pelas placas digitais, e uma ameaça ainda antiga das placas "temporárias", feitas pelo pessoal da estação. Embora também existam distrações bem-vindas no encantador e antigo mosaico de placas das estações que, de algum modo, sobreviveram a décadas de design caótico.

Tradutor: Erika Brandão

ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}

Ocorreu um erro ao carregar os comentários.

Por favor, tente novamente mais tarde.

{{comments.total}} Comentário

{{comments.total}} Comentários

Seja o primeiro a comentar

{{subtitle}}

Essa discussão está fechada

Não é possivel enviar comentários.

{{ user.alternativeText }}
Avaliar:
 

O UOL está testando novas regras para os comentários. O objetivo é estimular um debate saudável e de alto nível, estritamente relacionado ao conteúdo da página. Só serão aprovadas as mensagens que atenderem a este objetivo. Ao comentar você concorda com os termos de uso. O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia os termos de uso

Escolha do editor

{{ user.alternativeText }}
Escolha do editor