IBM 5150: como um desajeitado PC deu início a toda essa história que ainda não terminou

IBM Corporate Archives
O IBM 5150 foi desenvolvido em apenas 12 meses, visto que a companhia queria manter
a dianteira na corrida para construir um computador compacto, acessível e poderoso Imagem: IBM Corporate Archives

Alice Rawsthorn

28/08/2011 10h00

LONDRES – Ele não foi o primeiro computador pessoal a ser comercializado. Nem era o mais potente na época, tampouco o mais estiloso. Seu desenvolvimento foi tão acelerado e quebrou tantas regras do seu estimado fabricante que muitos executivos seniores na empresa estavam convencidos que aquilo seria um fracasso – e dos grandes.

As condições pareciam totalmente desfavoráveis para o computador pessoal IBM 5150 na época em que ele foi revelado, em uma coletiva de imprensa no salão do Hotel Waldorf Astoria em Nova York, em 12 de agosto de 1981. Entretanto, ele foi tão bem-sucedido que, 30 anos depois, o 5150 é tido como um produto de referência, não só para a IBM, mas também para o resto da indústria. Descrito por Tilly Blyth, curador de computação no Science Museum de Londres, como uma “máquina muito significativa”, o 5150 e seu software, o sistema operacional da Microsoft, ou MS-DOS, estabeleceram novos padrões industriais que continuam dominando o design dos computadores pessoais desde então.

O 5150 se tornou a escolha mais popular nas empresas do começo dos anos 80, pois eles estavam interessados em experimentar os modernos computadores pessoais. A marca IBM ajudou. Havia um ditado nos círculos corporativos americanos: “ninguém jamais foi demitido por ter comprado um IBM”. Muitos dos executivos que compraram o 5150 podem não ter sido aventureiros o bastante para se arriscar e comprar um modelo mais atraente, de uma marca mimada que veio do nada como a Apple. É sempre tentador pensar que a história do design é definida por exemplos de design realmente bons, mas produtos como o IBM 5150, cujo design é apenas bom o suficiente para persuadir um monte de gente a comprá-los, muitas vezes acabam sendo igualmente influentes.    

Teclado de 2,7 kg

Julgando pelos padrões atuais, o 5150 parece pré-histórico. O HD, mais o teclado e o monitor do modelo básico, que custava US$1.565, pesavam 20 kg. Só o teclado pesava 2,7 kg, duas vezes mais do que aquilo que o maior modelo do MacBook Air, da Apple, pesa hoje. O monitor só conseguia espremer 25 linhas de texto, e o modelo básico vinha com 40 kB de memória embutida e read-only, suficiente quase que só para armazenar as palavras desta coluna, e 16 kB de memória do usuário -ou 256 kB, se você acrescentasse dois drives para disquetes. 

Mesmo assim, o 5150 era poderoso o bastante para realizar cálculos básicos no começo dos anos de 1980, e devia parecer incrivelmente futurista quando comparado aos seus predecessores. Vinte anos antes, a IBM produzia enormes computadores de grande porte, ou mainframes, como o IBM 360 e outros sistemas, que custavam até US$ 9 milhões cada, precisavam ficar em imensas salas refrigeradas e eram mantidos por 60 pessoas. No começo dos anos de 1970, os mainframes encolheram mas ainda era gigantescos, seus preços continuavam atingindo a estratosfera e eles ainda eram mantidos em ambientes refrigerados. Mesmo as pessoas que precisavam usar computadores para processar informações eram proibidas de entrar nas salas, e tinham que pedir para os técnicos operarem as máquinas por eles.

Computadores menores, que podem ser usados por uma única pessoa, existem desde a década de 1950. O escritor de tecnologia americana Mark Frauenfelder dá um testemunho ocular em seu livro “The Computer”. Ele descreve como o primeiro modelo foi desenvolvido pela Berkeley Associates, uma empresa sediada em Massachusetts, fundada por um analista de sistemas, Edmund C. Berkeley, em 1950, e vendido com o nome Simon como um kit de US$500 para montar. O Simon podia fazer cálculos simples, mas seu sucessor, o Geniac Electric Brain Construction Kit (kit para Construção de Cérebro Elétrico Geniac, em tradução livre),de US$17,95, apresentado por Berkeley em 1955, jogava jogos e resolvia quebra-cabeças.

Computadores criados na garagem

Os desenvolvimentos continuaram a ser dominados pelos “hobbystas” dos eletrônicos na década de 1970. A maioria deles era jovens engenheiros, que construíam máquinas e criavam programas nas horas vagas. Eles seguiam os mais recentes desenvolvimentos das revistas americanas como Popular Electronics e Creative Computing, e trocavam ideias com colegas geeks em clubes como o Homebrew Computing Club, que sediou seu primeiro encontro em 1975 na garagem da casa de um “hobbysta” em Menlo Park, norte da Califórnia. Um ano depois, o clube tinha mais de 750 membros.  

A IBM vem desenvolvendo computadores pessoais desde 1973, quando um projeto de pesquisas de seis meses produziu um protótipo conhecido como Special Computer APL Machine Portable, ou, abreviando, Scamp. As lições aprendidas com o Scamp influenciaram o design do primeiro computador pessoal da IBM, o 5100, que foi apresentado em 1975 como uma máquina portátil (mais ou menos: pesava 23 kg) para ser usada por cientistas, engenheiros, estatísticos e outros especialistas.

O 5100 era complexo para o usuário comum, e também muito caro: custava entre US$ 8.975 e US$19.975. A IBM tenta resolver estes problemas no 5110, que entrou no mercado em 1978. Mas naquela época, a competição estava aumentando. Steve Jobs e Steve Wozniak exibiram seu primeiro computador pessoal, o Apple I, para o Homebrew Computer Club em 1976. No ano seguinte, eles revelaram o Apple II, que se tornou uma das primeiras máquinas a fazer um estardalhaço fora dos círculos da computação. Na Europa, o inventor britânico Clive Sinclair apresentou o ZX80, em 1980, e o anunciou como o menor e mais barato computador pessoal do mundo. Um ano depois, ele foi sucedido pelo ZX81, que era ainda menor e mais barato, e ainda mais poderoso. 

Um por minuto

A IBM acelerou os esforços no desenvolvimento. Em 1980, Bill Lowe, diretor do laboratório de pesquisas em Boca Raton, na Flórida, montou uma força-tarefa, encabeçada por Don Estridge, para criar um computador pessoal com um preço razoável. Ao perceber que o processo de desenvolvimento levaria muito tempo se a IBM seguisse a política corporativa que pregava o desenvolvimento de todos os próprios componentes, a força-tarefa teve permissão para utilizar peças de outras empresas, previamente testadas. A Microsoft desenvolveu o software modificando sistemas já existentes. Levou somente 12 meses para completar o 5150 -um recorde para a IBM. 

Originalmente, a intenção do 5150 era atuar como um computador caseiro, mas a maioria dos pedidos veio de estabelecimentos de negócios. No final de 1982, a IBM estava vendendo um por minuto, durante o horário comercial. A IBM parou de produzir o 5150 em 1987, mas o legado de seu design continua vivo. Embora os geeks gostem de lembrar do bug do software do 5150 -quando requisitado para dividir 0,01 por 10, ele exibia, segundo relatos, o resultado 9.999999E-4- ele era tão robusto que a maioria das máquinas sobreviventes ainda funcionam.

Tradutor: Érika Brandão

ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}

Ocorreu um erro ao carregar os comentários.

Por favor, tente novamente mais tarde.

{{comments.total}} Comentário

{{comments.total}} Comentários

Seja o primeiro a comentar

{{subtitle}}

Essa discussão está fechada

Não é possivel enviar comentários.

{{ user.alternativeText }}
Avaliar:
 

O UOL está testando novas regras para os comentários. O objetivo é estimular um debate saudável e de alto nível, estritamente relacionado ao conteúdo da página. Só serão aprovadas as mensagens que atenderem a este objetivo. Ao comentar você concorda com os termos de uso. O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia os termos de uso

Escolha do editor

{{ user.alternativeText }}
Escolha do editor