Um rompante de eventos de design assalta a Ásia e a Europa até o final do ano

Courtesy Gwangju Design Biennale
Um caixão em forma de carro produzido no Atelier Kane Kwei, em Acra, Gana, exposto na Bienal de Design de Gwangju Imagem: Courtesy Gwangju Design Biennale

Alice Rawsthorn

26/09/2011 16h19

LONDRES – O que você faria se estivesse organizando um festival de design e, alguns meses antes da abertura, um de seus dois diretores artísticos fosse preso, sem saber quando seria solto?

Entraria em pânico? Adiaria a abertura? Cancelaria a coisa toda? Continuaria tocando, na esperança que ele ou ela seria libertado a tempo? Os organizadores da Bienal de Design de Gwangju, na Coreia do Sul, optaram pela última alternativa quando o artista e ativista político chinês Ai Weiwei foi preso, em abril. Por sorte, Weiwei, que é codiretor artístico do evento ao lado do arquiteto sul-coreano Seung H-Sang, havia concluído os planos da sua contribuição antes de ser preso. Seus colaboradores tocaram o projeto, apesar das dificuldades, durante seus três meses na prisão. Logo após ser libertado, em junho, Weiwei voltou a trabalhar na bienal.

Apesar da ansiedade em torno de Weiwei, a bienal de Gwangju abriu conforme o planejado. Sua contribuição é uma exposição de “Unnamed Design” (ou “Design Sem Nome”), na qual ele colaborou com o curador Brendan McGetrick para falar sobre o oportuno tema da inconstante definição do design. Eles estão planejando explorar a contribuição do design em áreas com as quais não é tradicionalmente associado, entre elas a invenção dos vírus de computador e novos modelos financeiros, e a organização de protestos políticos.  

“Unnamed Design” é uma dentre a série de exibições solicitadas pela bienal de Gwangju, sob o supertema “design.is.design.is.not.design.”. Entre elas está “Communities”, com curadoria de Beatrice Galilee, que destaca um jardim aquapônico (no qual plantas e peixes são cultivados no mesmo sistema hídrico) desenvolvido pelo grupo de design ecossocial britânico Something & Son. A bienal vai também deixar um legado permanente em Gwangju, com os dez “follies urbanos” desenhados por Florian Beigel, Nader Tehrani e outros arquitetos internacionais.

Ambiciosa, intelectualmente provocativa e generosamente financiada, a bienal de Gwangju parece ter nascido para se tornar um dos eventos de design mais atraentes da temporada -mas está cheia de concorrentes. Mais de uma dúzia de cidades vão sediar festivais, bienais, trienais e afins nos próximos dois meses. 

Entre elas estão Pequim, Bruxelas, Copenhagen, Helsinki, Lisboa, Londres, Paris, Praga e Viena, além de Lodz, na Polônia, e Eindhoven, na Holanda. A capital da Estônia, Talin, capital europeia da cultura em 2011, está sediando um Innovation Festival (“Festival da Inovação”) sobre o tema “design social” desde 16 de setembro. Até mesmo Milão, sede do evento de design mais concorrido do ano, o Salão Internacional de Móveis de Milão, que acontece todo mês de abril, vai ter sua Milano Design Weekend (Fim de Semana de Design de Milão)no começo de outubro.

Por mais maluco que pareça programar tantos festivais de design mais ou menos na mesma época, há um motivo racional para tanto. Os organizadores estão desesperados para se distanciar do frenesi que é o Salão Internacional do Móvel de Milão (em torno do qual se organiza toda uma Semana do Design na cidade italiana), mesmo que o excesso de eventos os deixe se engalfinhando para persuadir designers e curadores a fazer parte de seus programas, e não dos de outras cidades. Um designer me contou que ele teria palestras em seis eventos diferentes só em setembro.

Alguns dos festivais de design estão ligados a eventos comerciais. O alvoroço das exibições em Paris no começo de setembro estava centralizado na feira de design de interiores Maison & Objet. Do mesmo modo, o London Design Festival coincide com a feira de móveis 100% Design. Entre os destaques do festival de Londres deste ano estão uma retrospectiva do design pós-modernista no Victoria & Albert Museum, uma pesquisa sobre o trabalho do recém-falecido designer gráfico Alan Fletcher na Kemistry Gallery, e instalações ao ar livre dos arquitetos David Chipperfield e Amanda Levete. 

Outros festivais de design se baseiam em bienais de arte ao encomendar programas de exibições e debates para questionar assuntos importantes da área, como o evento de Gwangju fez. “Change!” (Mudança!”) é o tema da Lodz Design 2011. A sexta edição da animada bienal EXD Design, organizada pelo Experimentadesign em Lisboa, chama-se “Useless” (“Inútil”). Seu programa inclui exibições sobre interpretações conflitantes da inutilidade no design e uma “trilha do tesouro” de coleções pessoais de objetos e memorabilia, exibidos em diferentes locais ao longo do trilho do famoso bonde amarelo número 28.    

A Copenhagen Design Week apoiou o tema “Think Human” (“Pense no Humano”, numa tradução livre), em concordância com o prêmio INDEX: Design to Improve Life -o prêmio de design de maior valor pago no no mundo, algo em torno de US$ 820 mil- , que acontece na cidade. A cada dois anos, a INDEX: dá cerca de US$ 235 mil para cada um dos cinco projetos de design sustentável e social que tenham melhorado a qualidade da vida das pessoas, de diferentes maneiras. Entre os candidatos ao prêmio de 2011 estão o High Line Park, feito em uma estrada de ferro desativada em Nova York, uma escola balinesa feita com bambus, e uma alternativa ecorresponsável para as caixas de sapato.

O lado social do design também é tema de um novo evento: a primeira Trienal Internacional de Design de Pequim, que abre dia 28 de setembro. Com a intenção de ser o ponto alto da Semana de Design de Pequim, a trienal vai explorar o conceito do “ren”, que se traduz livremente como “o cuidado com os outros”, e é um dos mais importantes elementos do design tradicional chinês.

A trienal organizou cinco exibições para analisar diferentes aspectos do “ren” no design contemporâneo, no Museu Nacional da China. Uma vai considerar o equilíbrio entre emoção e razão no design. Outra, com curadoria dos designers britânicos Tonny Dune e Fiona Raby e do artista chinês Jin Jiangbo, vai analisar o papel do design como meio especulativo para estimular o debate.

Apesar de admiravelmente ambiciosa, as chances de a Trienal de Pequim se tornar um hub de confiança do debate sobre o design mundial serão adiadas pela indignação internacional provocada pela prisão de Weiwei. Mesmo antes de ser preso, Weiwei era a figura mais eminente no design chinês fora do país. Graças à sua excelente exibição na Bienal de Gwangju, ele agora deve voltar ao palco principal em um desses festivais de design da temporada, apesar dos esforços das autoridades chinesas, que o proibiram de comparecer à abertura.

Tradutor: Érika Brandão

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