Exposição nos Estados Unidos explora influência digital no design gráfico
LONDRES – Quando April Greiman foi convidada para criar um pôster para o periódico de um museu, ela resolveu produzir um autorretrato nu em tamanho real no seu novíssimo computador Macintosh. “Grande coisa”, você pode estar pensando. Mas ela fez isso em 1986, dois anos depois da apresentação do Mac, quando criar uma imagem dessas parecia diabolicamente desafiador. Greiman conseguiu, mas não foi fácil. Quando ela finalmente imprimiu a imagem, os arquivos usaram tanta memória do seu computador que a impressora a laser quase pifou.
Aqueles arquivos destruidores de impressoras tinham 289 kilobytes, grandes o bastante para conter este texto ou uma foto de celular não muito boa. Em outras palavras, os arquivos eram minúsculos para os padrões de hoje, e o projeto de Greiman, que parecia tão intrépido na época, é o tipo de coisa que qualquer um -mesmo aqueles entre nós que não são nem designers gráficos nem programadores- podem produzir rapidamente a qualquer hora.
O retrato digital de Greiman não foi simplesmente um salto para os designers em termos do uso que ela fez da tecnologia. O papel que ela adotou tanto como autora quanto produtora da imagem provou ser igualmente influente, tanto que o papel em expansão do designer gráfico é o tema de “Graphic Design: Now in Production” (Design Gráfico: Agora em Produção), uma exibição que está acontecendo no museu para o qual ela produziu o pôster, o Walker Art Center, em Minneapolis. Organizada pelo museu, em colaboração com o Smithsonian’s Cooper-Hewitt, National Design Museum em Nova York, a exibição explora a evolução do design gráfico desde o ano 2000.
Expressivos e experimentais
O subtexto ali é que a tecnologia digital democratizou o processo do design e deu força aos designers ao trazer novas e poderosas ferramentas. “Os designers corresponderam ao se tornar mais expressivos e experimentais”, disse Andrew Blauvelt, curador de arquitetura e design na Walker, que organizou a exibição com Ellen Lupton, curadora de design contemporâneo no Cooper-Hewitt. “O trabalho deles é mais conceitual e analítico, é uma busca por autonomia e modos alternativos de prática. Temos agora o designer como autor, como empresário, como editor, como produtor e como curador.”
O design gráfico é a maior área na indústria do design, empregando mais de 250 mil pessoas só nos Estados Unidos. “Now in Production” é o primeiro grande levantamento feito por um museu americano sobre a disciplina desde 1996, quando o Cooper-Hewitt apresentou “Mixed Messages: Graphic Design in Contemporary Culture” (Mensagens Misturadas: Design Gráfico na Cultura Contemporânea), que também teve curadoria de Lupton.
O Walker é uma locação perfeita para a nova exibição, não só porque as galerias do Cooper-Hewitt estão fechadas para reforma. O Walker é considerado um modelo para outros museus em termos de uso do design, e ele sediou o precursor de “Mixed Messages”, “Graphic Design in America: A Visual Language History”(Design Gráfico nos Estados Unidos: Uma História de Linguagem Visual), em 1989.
As sementes da transformação dos designers gráficos da velha guarda em produtores visuais foram germinadas no final dos anos 1980 e nos anos 1990, quando a editoração eletrônica redefiniu o processo do design ao permitir que profissionais executassem muitas das funções antes delegadas a tipógrafos, copiadores e outros especialistas. Desde 2000, a disponibilidade de aparelhos móveis, sistemas de impressão on demand, criação imediata de protótipos e redes de distribuição baseadas na internet também permitiram que os designers experimentassem novas formas de produção e distribuição, e que inventassem suas próprias ferramentas.
Novas fontes
“Now in Production” explora o impacto destas mudanças em diferentes áreas dos gráficos. A tipografia foi uma das primeiras áreas a ser revitalizada. Criar uma nova fonte já foi um processo caro e enfadonho, mas os softwares deixaram o processo tão mais simples e barato que milhares de fontes cada vez mais complexas vêm sendo desenvolvidas na última década por designers como M/M (Paris) e Peter Bilak.
Outra mídia tradicional a ser revitalizada é o pôster. Graphic Thought Facility e Paul Elliman, por exemplo, produziram variações altamente sofisticadas e engenhosas do pôster impresso à moda antiga. Novos tipos de pôsteres digitais vêm sendo desenvolvidos por Lust, Jürg Lehni e outros.
O design de livros e revistas também se beneficiou com trabalhos inovadores e imaginativos de formatos já estabelecidos, inclusive os livros de Irma Boom e David Pearson e as revistas “Fantastic Man” e “Afro”. Enquanto isso, novos tipos de publicações têm sido inventadas na forma de aplicativos, blogs e e-books para leitores eletrônicos e tablets.
A função do design gráfico também mudou. Alguns designers tornaram-se empreendedores ao desenvolver -e marquetear- os próprios produtos, como os lindamente executados machados do Peter Buchanan-Smith. Outros, inclusive Metahaven, mostraram desprezo pelo comércio em favor do uso do processo do design como meio de pesquisa de questões sociais, políticas e culturais.
Outras mostras exploraram o tema
No campo da tecnologia, novas mídias gráficas surgiram. O design de informação vem sendo transformado pelo desenvolvimento da visualização de dados, que utiliza softwares avançados para trabalhar imensas quantidades de informações complexas e representá-las com clareza e de modo atraente na forma de imagens digitais dinâmicas.
“Now in Production” não apresenta um olhar novo ou radical sobre o design gráfico. Cerca de 200 designers estão representados na exposição, muitos deles também participaram de dois levantamentos que exploravam desenvolvimentos semelhantes: “Graphic Design Worlds” (Mundos do Design Gráfico), que foi apresentado no La Triennale, em Milão, neste ano, e “Quick, Quick, Slow” (Rápido, Rápido, Devagar), uma exposição de 2009 no Museu Colecção Berardo, em Lisboa. Os mesmos assuntos foram abordados em livros e simpósios.
Geograficamente, a exposição foca os centros gráficos estabelecidos na América do Norte e na Europa Ocidental. Teria sido interessante ver mais trabalhos da África e da emergente indústria de designers gráficos independentes na China e em outros lugares da Ásia.
Mas Blauvelt e Lupton forneceram uma análise vasta e atenciosa sobre as mudanças na área. Eles reconhecem a influência histórica de designers inovadores como László Moholy-Nagy e Muriel Cooper, e descrevem os gráficos como um meio dinâmico, destinado a um futuro igualmente empolgante. Embora o desenvolvimento de novos fenômenos gráficos como visualização de dados, aplicativos e e-books sejam muito divertidos, isso tudo está apenas começando.
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