Cuidado artesanal e funcionalidade objetiva marcam o trabalho do designer Aldo Bakker
Amsterdã - À primeira vista, não parece ter nada incomum. Mas se você olhar de perto a lateral do banco, verá que a estrutura parece ter sido amassada pelo peso do assento, como se tivesse sido feita de uma material muito mais macio do que nogueira maciça.
“São estes pequenos detalhes que me interessam”, disse Aldo Bakker, o holandês de 40 anos que criou o banco. “Adoro ter a liberdade de prestar atenção em cada detalhe do meu trabalho, não importa o quão maluco ele seja. É um grande desafio para um designer criar objetos inteligentes e duradouros e eles precisam ter uma certa complexidade, assim é possível decifrá-los – camada por camada – ao longo do tempo.”
“Poise” - como o banco é chamado - faz parte de uma série de novas peças que o Sr. Bakker desenvolveu em seu estúdio em Amsterdam para uma exibição que vai até o dia 15 de janeiro na galeria Perimeter, em Paris. Nunca há ostentação em suas criações, que incluem trabalhos com vidro e cerâmica e mobiliário, mas, no entanto, cada objeto possui uma convicção silenciosa, como se todo elemento fosse resolvido sem dar nenhuma margem para o acaso.
Os objetos
Uma banqueta que será exibida na Perimeter foi esculpida a partir de um bloco único de carvalho. Outro banco combina três tipos aparentemente idênticos de madeira e, nos quais as, diferenças apenas vão se tornar evidentes com o passar do tempo.
Uma série de objetos laqueados foi feita utilizando o método Urushi, através do qual cerca de trinta camadas de laca são aplicadas em cada peça ao longo de seis meses. Outro processo, muito antigo e muito lento, produziu uma coleção de vasilhas de fino cobre. O Sr. Bakker dedica meses, às vezes anos, quebrando a cabeça com estes detalhes, além de sair em busca de artesãos que compreendam o que ele pretende realizar e que tenham a habilidade para executar tais tarefas.
O banco "Poise", criado pelo designer Aldo Bakker, é produzido em carvalho maciço pela Rutger Graas
Auteur
Ele faz parte de uma nova onda de designers que poderiam ser chamados de designers-auteurs [designers-autores]pelo mesmo motivo que François Truffaut apelidou sua geração de cineastas experimentais franceses de auteurs, em 1954: porque tratavam seu trabalho como um meio de auto-expressão. O Sr. Bakker escolheu fazer isso desenvolvendo suas próprias versões de objetos domésticos, usados no cotidiano.
“Consigo expressar tudo o que preciso através delas [as peças]”, explica. “Aqueles objetos são muito primitivos. Todos precisamos nos sentar em algum lugar. Todos precisamos comer utilizando algum objeto. E se precisamos destas coisas, por que não lhes dar a mesma atenção que os artistas dão às suas obras?”
Do mesmo modo que o Sr. Bakker dedica um longo tempo no desenvolvimento de cada uma de suas peças, o artista também teve uma introdução lenta no universo do design.
Aldo nasceu no seio da elite do design, filho único dos designers de jóias de vanguarda Emmy van Leersum e Gijs Bakker. Sua mãe faleceu em 1984, quando ele era adolescente, e seu pai foi cofundador do influente grupo Droog Design em meados dos anos 1990. Na época, Aldo Bakker resolveu trabalhar com design, mas desistiu de três escolas diferentes. “O máximo que durei em uma delas foi oito meses”, ele disse. “Nunca duvidei que o design era o meu território, mas talvez eu tenha precisado desvencilhar-me de meu pai para descobrir minha própria área de atuação.”
Passo a passo
O primeiro passo foi se unir ao estúdio Utrecht, do joalheiro Willem Noyons. “Ele era um ótimo artesão e o estúdio exalava conhecimento”, relembra Sr. Bakker. “Comecei a trabalhar lá quatro vezes por semana, produzindo colheres de prata e vasos, com paz e tranquilidade para pensar em meu trabalho. Você desenvolve uma certa sensibilidade quando passa o dia polindo uma única peça. Você fica tão perto do objeto que pode cheirá-lo, senti-lo. Você descobre que se manipular uma parte, aquilo terá uma consequência em algum outro ponto.”
Depois de oito anos ali, ele saiu em 1999 para criar o interior de um restaurante e, no ano seguinte, recebeu a oferta para uma exibição solo na Binnen Gallery, em Amsterdam. “Era o meu sonho exibir meu trabalho lá, mas foi demais, foi ambicioso demais para mim naquela época. Acabei entrando em um imenso buraco negro e levei anos para sair dele”, avalia o designer.
Finalmente recuperado, o Sr. Bakker começou a lecionar na Design Academy Eindhoven - uma das escolas que ele havia deixado quando aluno -, enquanto desenvolvia pequenas coleções de objetos, a maioria para Thomas Eyck, a empresa epônima fundada por um amigo, e para a galeria Particles de Amsterdam.
Primeiro, o Sr. Bakker criou copos e passou vários anos procurando um vidreiro capaz de produzir cada uma das peças exatamente com a mesma espessura dos vidros de laboratório. Finalmente ele encontrou um, Petran, na República Tcheca. Uma busca igualmente árdua acabou desentocando um ceramista, Frans Ottink, na cidade alemã de Amersfoort, pois o artesão conseguia produzir porcelana de qualidade e nas formas extremas que o Sr. Bakker desenhava.
O resultado é uma série de peças brancas, cada uma feita a partir de uma peça única de porcelana em formas aparentemente simples, porém, sutilmente complexas, definidas a partir do modo de uso. A jarra de leite derrama pelo lado, não por cima, para evitar que acumule nata na superfície. A borda do saleiro varia na altura para garantir que o sal seja espalhado por igual. A travessa para azeite foi pensada para espalhar o azeite gentilmente no pão, evitando o risco de afogá-lo no óleo. Cada objeto se aninha confortavelmente na mão do usuário.
Como disse uma vez Charles Eames, designer americano de meados do século 20, “detalhes não são detalhes. Eles fazem o produto.” O trabalho do Sr. Bakker endossa essa crença, no entanto, o designer é igualmente obsessivo quanto a fundir cada detalhe em um todo coerente. “Se você olhar um de meus objetos e tudo o que enxergar for sua complexidade, então eu falhei”, ele disse. “Os detalhes são importantes, assim como o modo que eles se relacionam entre si, assim o objeto finalizado parece estar à vontade.”
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