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Mineiro saiu de Miami para construir Brasília

O mineiro Osório Adriano Machado ajudou a construir Brasília - Divulgação
O mineiro Osório Adriano Machado ajudou a construir Brasília Imagem: Divulgação

Paulo Cabral

De Brasília

21/04/2010 13h35

Mais de 60 mil trabalhadores vieram de todas as partes do Brasil para o Planalto Central trabalhar na construção de Brasília. O mineiro Osório Adriano Machado Filho foi exceção: ele veio direto de Miami.

"Eu vim pra Brasília em 1957, com 27 anos de idade, recém-formado engenheiro civil", contou à BBC Brasil o pioneiro, hoje com 80 anos de idade.

"Eu estudava na Universidade de Miami quando uma empresa americana apareceu por lá procurando por um jovem que aceitasse trabalhar na construção da futura capital do Brasil. Queriam alguém que fizesse o 'meio de campo' com a Novacap (estatal criada para construir a nova capital)."

E então, viajou o formando de 27 anos da movimentada Miami do fim dos anos 50 para a imensidão vazia do Planalto Central.

"Não havia nada aqui, absolutamente nada. Só muitos pés de caju e uns lobos-guará que apareciam de vez em quando", conta. "Nós construímos uma cabana na Esplanada dos Ministérios e era ali que trabalhávamos todos os dias até meia noite. As máquinas não paravam e sobre Brasília pairava uma poeira vermelha que podia ser vista a 200 quilômetros de distância."

Só trabalho

"Se eu dei alguma coisa a Brasília foi a minha juventude. Eu poderia estar nos Estados Unidos, em Copacabana, mas estava aqui construindo a nova capital."

Machado trabalhou principalmente nos prédios dos ministérios mas também colocou as mãos na Catedral de Brasília. "Colocamos aqui onze ministérios. Hoje são dezoito, pode contar."

O engenheiro diz que a vida por lá era só trabalhar e quando muito sair aos finais de semana para ir a Anápolis "comer uma pizza e ver as meninas."

"Em Brasília mesmo eram só homens trabalhando. Não era tão divertido", diz. No dia a dia, a tarefa começou com a colocação das estruturas de aço que formaram os esqueletos dos ministérios. "Recebíamos até 180 caminhões de aço todos os dias. Imagina o trabalho de levar todo esse aço para aquele lugar isolado, quase sem estradas", conta.

Depois veio o cimento. "Tinha tudo que vir de avião. Custou muito dinheiro", diz Machado. Mas ele foi ficando no Planalto Central, orgulhoso da cidade que ajudou a construir. "Uma vez me perguntaram qual a melhor coisa que eu tinha feito na vida e eu disse que foi vir para Brasília. Aqui fiz minha vida, tenho meus amigos, meus filhos e meus nove netos", diz.

O Distrito Federal também lhe deu alguns mandatos na Câmara dos Deputados entre 1991 e algumas semanas atrás. Nessa última legislatura, ele havia assumido uma vaga como suplente do Democratas, mas teve de deixar o cargo com a volta do titular no mês passado.

"Tenho muito orgulho de Brasília. Tanto a minha história como a história do Brasil se dividem entre antes e depois de Brasília."