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Surgida na China e "recriada" na Europa, porcelana é sinônimo de sofisticação à mesa

ANTÔNIO SAMPAIO

Colaboração para o UOL

05/04/2010 07h00

Surgida na China entre os séculos 6 e 7, a porcelana é um material feito a partir de uma espécie de argila branca (caulim) queimada a altas temperaturas (mais de 1.200ºC). A delicadeza das porcelanas chinesas atraiu a atenção dos portugueses, que, no início do século 16, foram os primeiros a comercializar vasos, pratos e outros objetos decorativos para a Europa. Lá, eram vistas como símbolo de requinte e preciosidade desde o século 13, quando haviam sido levadas ao continente pela primeira vez por Marco Polo.

Depois dos portugueses, foi a vez dos ingleses se firmarem como os maiores comerciantes de porcelana chinesa na Europa, e logo se iniciou uma corrida para descobrir a "receita" daquele material cuja pureza e resistência o aproximavam do vidro e dos minerais puros. Sua história no Ocidente traz ingredientes romanescos, que envolvem cientistas, charlatães, nobres, piratas e industriais em episódios de espionagem e intriga internacional.

Os ingleses chamaram-na pelo nome de seu local de origem, "china". Já os italianos acharam que suas características eram tão parecidas às de uma concha, que se basearam no nome de um molusco, "porcella" ("porquinha" em português), para criar "porcellana", palavra que passou à maioria das línguas latinas. O molusco que inspirou a analogia, por sua vez, deve seu nome a uma suposta semelhança com a vagina de uma leitoa --dado que acrescenta ainda um toque "lúbrico" à história da porcelana.

A primeira fórmula européia é atribuída aos alemães Ehrenfried Walther von Tschirnhaus, cientista, e a Johann Friedrich Boettger, alquimista que alegava ser capaz de curar qualquer doença e de transformar pó em ouro. Tschirnhaus fundou a Meissen, primeira fábrica de porcelana europeia, em atividade até hoje. Há relatos de que a porcelana criada por Boettinger era tão resistente a choques térmicos, que podia ser tirada diretamente do forno e lançada na água fria.

Outras receitas de porcelana surgiram na Europa, gerando produtos com qualidades e características diferenciadas. A França se notabilizou na produção de uma porcelana muito branca e pura, na cidade de Sèvres, cujo nome logo se tornou sinônimo das delicadas peças ali produzidas.

Os ingleses detêm o crédito de terem inventado uma porcelana de grande dureza e muito translúcida, conhecida como "fine bone", feita a partir das cinzas de ossos. A invenção inglesa, que a princípio tinha o intuito de competir com a porcelana importada, foi tão bem sucedida que passou a ser fabricada em outros países, inclusive na China. Na Inglaterra, a história da porcelana tem ainda como um de seus personagens o cientista Charles Darwin, pois foi graças ao dinheiro que ele herdou das porcelanas Wedgwood, fundada por seu avô, Josiah Wedgwood, que ele pode dedicar toda sua vida aos estudos que o levaram à teoria da evolução das espécies.

Hoje, a porcelana ainda é tida como o material por excelência na fabricação de aparelhos de jantar, serviços de chá e baixelas em geral. Os desenhos e formato das peças mudaram com o tempo, mas as características que a consagraram continuam inalteradas, seja em peças de antiquário ou em criações de novos designers.