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Disputa entre organizadores põe em risco a realização Bienal de Arquitetura de São Paulo

Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, São Paulo. A realização do próximo evento de arquitetura no edifício da Fundação Bienal de São Paulo está vetada - Tuca Vieira / Folhapress
Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, São Paulo. A realização do próximo evento de arquitetura no edifício da Fundação Bienal de São Paulo está vetada Imagem: Tuca Vieira / Folhapress

GIOVANNY GEROLLA

Colaboração para o UOL

10/09/2010 20h00

A próxima Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (BIA), prevista para 2011, não tem mais local definido para acontecer e está, pelo menos momentaneamente, cancelada. O fato é resultado de discordâncias entre o Departamento de São Paulo do Instituto de Arquitetos do Brasil de São Paulo (IAB-SP), que organiza o evento, e a Fundação Bienal, responsável pelo espaço, o Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera.

A gota d'água, segundo o arquiteto Carlos Bratke, membro do Conselho da Fundação Bienal, foi uma carta em que a presidente do IAB paulista, Rosana Ferrari, negava dívida pendente de R$ 164 mil pelo evento do ano passado. "O tom autoritário não agradou a presidência da Fundação que, em agosto último, apresentou ao Conselho uma programação para 2011 em não constava a BIA e ainda anunciava, para os meses finais do ano, a vinda certa de um acervo do Museu de Oslo (Noruega)", disse. A BIA é tradicionalmente realizada no final do segundo semestre.

As divergências entre o instituto e a fundação, entretanto, não são nenhuma novidade. "Todos sabemos que há uma questão política, e pretendemos interferir - se é que ainda há tempo - para reverter essa situação", diz Gilson Paranhos, presidente do IAB Nacional. Ele revela que está tentando agendar encontro com Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal. "O melhor parceiro para este evento é, sem dúvida, a Fundação Bienal de São Paulo", declarou.

Novo formato ou novo lugar

Carlos Bratke, que já foi presidente da Fundação Bienal, lembra que a realização da BIA em 2009 foi conturbada, com adiamentos e suspensões. "Não acredito num fim definitivo. Só significa que poderá mudar de formato, ou de lugar, caso continue a ser feita pelo IAB."

Segundo Gilson Paranhos, são cogitados locais como a Oca, no mesmo parque paulista, ou o Memorial da América Latina. No entanto, de acordo com o regulamento da própria Fundação, o evento só pode ser realizado no Pavilhão da Bienal. "Fazer a BIA na Oca seria uma forma de contornar esta dificuldade", avalia Bratke. Ele confirma que essa possibilidade foi discutida na última reunião de conselheiros, mas que ainda não se tomou decisão a respeito.

Sem ter certeza sobre o que poderá acontecer no futuro próximo, Bratke revela também sua torcida por uma solução que desvincule de vez a BIA de qualquer outra instituição, "como acontece com as bienais de arquitetura de Veneza e de Buenos Aires", tornando-a mais imparcial. "Entidades não interfeririam, contaminando o evento com figuras que procuram trampolim político."

Poder de fogo

Ainda segundo o arquiteto, quem tem "o poder de fogo" é a Fundação Bienal de São Paulo. "É ela quem tem maior acesso a patrocínios e aos órgãos públicos de incentivo à cultura, além de excelente relacionamento internacional com ministérios de cultura, relações exteriores e museus ao redor do mundo, recebendo obras gratuitamente para ótimas exposições", argumenta. "O IAB tem sido chamado porque se acreditou que facilitaria a organização da BIA."

Dos 60 membros do conselho da Fundação Bienal de São Paulo, apenas seis são arquitetos. Destes, todos são simpáticos à BIA, mas não necessariamente a favor do formato que ela vem apresentando. A grande maioria dos membros dá peso muito maior ao evento de artes plásticas do que ao de arquitetura. Para dificultar ainda mais a resolução do entrave, a 8ª BIA, que aconteceu em 2009, não recebeu as melhores críticas.

Mesmo assim, o IAB Nacional se mostra disposto a negociar. "Também não acreditamos no falecimento da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Afinal, ela não é mais de São Paulo, nem do IAB, e nem da Fundação: ela é internacional, e isso precisa ser considerado", conclui Paranhos.

O outro lado

Rosana Ferrari, a presidente do IAB-SP, não considera o evento cancelado. "A curadoria de Walter Caldana, para 2011, foi indicada por mim e já está aprovada pelo Conselho Superior do IAB, com a participação de todos os departamentos do Instituto", afirma.

O adiantamento em relação à Fundação Bienal, para ela, só é possível porque, segundo análise de grupo jurídico que respalda o IAB paulista, a marca BIA pertence ao Instituto, e não à Fundação. "A Bienal de Arquitetura de São Paulo existe porque, inicialmente, foi feito um acordo entre o IAB Nacional e a Fundação Bienal de São Paulo, e o IAB Nacional nos delegou a organização do evento; é o IAB quem faz a Bienal acontecer", defende.

De acordo com Ferrari, é lamentável que o espaço não tenha sido cedido pela Fundação. "Estamos tentando agendar reunião com a Fundação Bienal de São Paulo para o dia 16 de setembro, quando nosso representante nacional (Gilson Paranhos) estará na cidade", diz. "Para nós, a marca BIA é do IAB, e o evento não está cancelado." Ela anuncia ainda o lançamento da BIA 2011 para o próximo mês de outubro, com eventos descentralizados que deverão acontecer em vários estados, durante meses, culminando em evento maior, previsto para o final do ano que vem.

Em nota oficial, a diretoria da Fundação Bienal de São Paulo esclareceu que vem apoiando a realização da BIA nos últimos anos por meio de cessão, sem ônus, de seu pavilhão, mas que a organização é de responsabilidade do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Contudo, em 2011, o pavilhão não estará disponível, em função de outros eventos em torno das comemorações dos 60 anos da Bienal de Artes Plásticas.