"Nenhum projeto é suficientemente bom sem arte"; profissionais falam de obras e espaços
Não, arte não é apenas beleza. Não, também não é algo pertencente a um “olimpo”. Sim, a arte não é só apanhado de tintas, esculturas perfeitas ou tão questionadoras que é difícil de entender. A arte, seja figurativa, abstrata, conceitual e em múltiplos suportes dialoga com o mundo e pode ser bela, pode ser crítica. Pode ser... a arte está na rua, em grafites, mas também está nas casas. Não, arte não é só coisa de gente rica, nem tem que estar apenas no museu.
Mas enfim, como uma obra de arte se relaciona com os ambientes de uma casa? Questão de gosto, sem dúvida, mas também de bom senso. O arquiteto Diego Revollo conta que dá prioridade à arte em seus projetos, reservando espaços para quadros e vazios delimitados para esculturas. “A obra de arte é o que confere personalidade a uma decoração não só do ponto de vista estético, mas como vetor do gosto”, pontua Revollo.
Quando o dono da casa já tem obras de arte, o designer de interiores Marcel Steiner reorganiza as peças em concordância com o projeto de decoração: “porque a forma como você organiza faz a diferença”, diz. Mas se a coleção de arte ainda não existe, o decorador apresenta nomes que conhece e gosta, além de procurar artistas que se adequem às preferências do seu cliente da vez.
“Normalmente há uma relação de confiança, mas arte é sempre muito pessoal. Então, claro, é mais fácil escolher sozinho um móvel ou objeto para uma outra pessoa”, afirma Steiner.
De 2010, foto feita por Felipe Segall, sem-titulo
Tinta, sais de prata, metais e muito mais
Sempre que possível, os arquitetos do escritório FGMF empregam obras de arte em seus projetos. Fernando Forte, um dos sócios, conta que quando o ambiente parte do “zero” utilizam, por exemplo, painéis criados por artistas plásticos. “Nesse caso, a obra de arte surge junto com a arquitetura e se alinha à espacialidade local”, assinala Forte.
Por sua vez, a arquiteta Mônica Drucker insiste que as obras de arte e a concepção da arquitetura e do design de interiores devem obedecer um contexto. “Depende de cada espaço a escolha das manifestações. Como faço uma arquitetura que tem um aspecto contemporâneo, as peças que escolho têm linguagens modernas”.
Abstração
Os projetos do designer de interiores Marcel Steiner são neutros, então, quando tem carta branca para explorar seu gosto pessoal, escolhe pinturas abstratas e que criam contrapontos de cor para os ambientes.
“Os clientes tendem à fotografia, eu uso também, mas acho que não podemos nos limitar a ela. O legal da fotografia é que, por ser mais acessível, você consegue comprar exemplares muito bons. Nenhum projeto é suficientemente bom sem arte”, conclui.
Como nem todo mundo pode desembolsar grandes somas para adquirir uma obra de arte milionária, investir em gravuras e fotografias pode ser a solução. Novos nomes podem ser encontrados em galerias descoladas como a Choque Cultural, em São Paulo.
Misturas: quando?
Diego Revollo diz que tem apreço pela pintura, de preferência telas de grande porte porque são impactantes e tornam-se o foco principal de um ambiente. Quando opta por peças de pequenas dimensões o arquiteto reúne, por exemplo, gravuras e desenhos de “escolas” próximas: “é sempre um resultado leve”, aposta.
Sem-titulo, serigrafia (déc. 60), de Hércules Barsotti
A mistura de técnicas nem sempre é uma saída para a arquiteta Mônica Drucker. Em um mesmo ambiente, ela tende a não misturar as tendências artísticas, mas salienta: há sempre o lado intuitivo. “Como disse, é uma questão de contexto, além do tamanho e da forma das obras”.
Arquitetura e artes plásticas são indissociáveis para Fernando Forte. “A escolha por usar apenas fotografias, esculturas, painéis, acaba surgindo em conjunto com a própria arquitetura. Acredito que a arte está acima de combinações técnicas”.
Da arte ao espaço
Emiliano Di Cavalcanti, modernista, é popularmente conhecido pelos quadros em que figuram mulatas. Usar uma obra assinada pelo pintor em um de seus projetos é um desejo do arquiteto Diego Revollo.
Para Mônica Drucker, projetar o resort Makenna foi uma recompensadora experiência profissional. A construção foi altamente influenciada pelas pinturas que utilizavam dois planos de cor, executadas pelo dono do hotel. Além delas, esculturas africanas e bandeiras de tribos indígenas brasileiras e africanas povoam os espaços. “Foi como criar uma espécie de galeria enorme”, lembra.
Os arquitetos do FGMF nunca criaram um espaço à partir de uma obra, mas em uma aproximação dessa ideia – da obra como ponto de partida – projetaram arquiteturas que conversavam com grandes murais de ladrilhos hidráulicos concebidos por Fábio Flaks, já citados nesse texto. Um alinhamento contemporâneo e multidisciplinar da arte.
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