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Em tempos de faxina de final de ano, aprenda com as manias de alguns superorganizados

Matt Roth/The New York Times
Imagem: Matt Roth/The New York Times

JESSE McKINLEY

New York Times

22/12/2011 07h00

Para a maioria de nós, o final de ano é uma época de fazer listas. Há listas de desejos, listas de compras, listas de decisões, listas legais de montar e outras nem tanto. Mas nessa infindável lista de coisas a fazer, há um item em particular que pode ser tão desanimador quanto ganhar uma caixa de lenços no Natal: limpar a casa.

Afinal, nesta época do ano a gente abre a casa para família e amigos, que nos visitam para celebrar as festas e, tenha certeza, para avaliar nossa capacidade como donas de casa.

Não é uma preocupação incomum. Todos querem comemorar em uma casa perfeita, mas, tirando as guirlandas e presépios -e uma árvore razoavelmente de pé- a maioria de nós não consegue ter tudo no lugar.

Entretanto, para uma seleta raça de superorganizados, esta é a hora de brilhar. Sejam eles zelosos ao extremo, ou verdadeiros maníacos por limpeza, esses tipos limpinhos guardam os segredos de deixar a casa tão limpa e aconchegante quanto um show especial de final de ano.

Os profissionais

Sabrina Cusin, que tem um serviço de limpeza chamado Duendes de Nova York (New York’s Elves, em inglês), está atualmente atolada com as faxinas de final de ano -e com as demandas que o cliente neurótico inevitavelmente faz.

“Algumas pessoas pedem para a gente levar novos esfregões, esponjas, vassouras e até produtos de limpeza”, ela conta. “O que eu posso dizer? Algumas pessoas nunca veste a mesma calcinha duas vezes. Uma mulher exigiu que eu levasse aspiradores novos. Eu recusei. Então ela foi e comprou dois aparelhos”.

Essas exigências parecem bem razoáveis para Nancy Bock. Porta-voz do Instituto Americano de Limpeza, Bock diz que não há nada de espantoso em pedir material e equipamentos “virgens”. Isso assegura que “o produto no frasco é o que o fabricante colocou lá e a esponja de mais ninguém tocou na boca da embalagem”.

Afinal, ela pergunta, “o que é extremo”?

  • Eric Striffler/The New York Times

    O decorador Steven Gambrel entrega aos clientes um manual para conservação precisa da decoração, definindo até a posição das almofadas

Os estetas

Para alguns, a necessidade de manter as coisas no lugar e assépticas não se limita ao período das festas de final de ano. Quem investiu em um decorador famoso, por exemplo, sente a necessidade de manter o “look”.

Assim, designers como Steven Gambrel municiam os clientes com verdadeiros manuais de operação do décor: uma coleção de fotos que documentam com precisão o arranjo de almofadas, a louça, as cortinas e até o que pode ou não ser deixado no closet do hall de entrada (nada de casacos volumosos, nem de cachecóis).

Nenhum detalhe é deixado de lado. Uma foto mostra a exata extensão de lençol que deve ser dobrada sobre o cobertor ao fazer a cama.

“Há uma frustração quando o decorador termina o trabalho, e a casa nunca mais vai ficar tão bonita quanto quando ele a arrumou”, diz Gambrel, “o guia é um documento que não deixa margem para dúvidas”.

Textos sagrados

Quando se trata de serviços domésticos, há uma boa quantidade de manuais. Um dos mais importantes é “Homekeeping Handbook” (Manual de Manutenção da Casa, em tradução literal, sem edição em português), de Martha Stewart. A obra é leitura obrigatória para a diva doméstica de personalidade obsessiva-compulsiva.

Outra leitura básica é “Home Comforts” (“Confortos do Lar”, em tradução literal, sem edição em português), de Cheryl Mendelson. Trata-se de um tomo de 884 páginas com capítulos como “Coexistência Pacífica com Micróbios” e uma seção algo sexy, “A Caverna da Nudez”, que aborda dormitórios –e o texto é tão espirituoso quanto o título.

Um leitor casual pode escolher também “Mrs. Meyer’s Clean Home” (“A Casa Limpa da Sra. Meyer, sem edição em português), que oferece dicas simples e práticas: “caiu pasta de dente na pia? Pegue um pano e esfregue o resíduo nas torneiras e misturadores”, é um dos conselhos de Thelma Meyer, que jura que a pasta de dentes vai deixar os metais mais brilhantes. Igual aos seus dentes.

Mas todos esses livros empalidecem se comparados com o novo “National Trust Manual of Housekeeping”, editado pela organização britânica National Trust, uma instituição beneficente dedicada à manutenção de casas e monumentos históricos, assim como de paisagens: praias, florestas, pequenas cidades. Sem edição em português, a obra de 900 páginas pesa três quilos e inclui dicas sobre tudo, desde como alinhar o capacho e a maneira certa de mover uma cadeira de jantar (levante-a pelo assento, não pelo encosto, para não estressar o encaixe das peças), até como limpar e montar uma armadura –lembre-se que o livro é voltado à manutenção de casas históricas, de centenas de anos.

  • Stephanie Diani/The New York Times

    Kathryn Ireland, de Los Angeles, remove cera de vela da toalha de mesa passando ferro quente sobre sacola de papel; ela carrega pilhas de papel craft quando viaja para sua casa na França

Ávidos amadores

No final da história, quem pode competir com o National Trust? Ou com Martha Stewart ou Cheryl Mendelson? Não que muitos não tenham tentado.

É o caso de Pam Schneider, que pratica sua especialização em cuidados com a casa entre Nova York e Londres. Como se viajar nas férias e feriados já não fosse trabalhoso o suficiente, Schneider conta que é tão obsessiva com a manutenção da casa que ela leva produtos de limpeza que não consegue encontrar fora dos Estados Unidos. “As pessoas dizem que minha casa parece um hospital”.

Ela não é a única que carrega produtos de limpeza na bagagem. Kathryn Ireland, decoradora em Los Angeles, diz que sempre leva pilhas de papel craft quando viaja para sua propriedade na França.

Para quê? Para remover cera da toalha de mesa, é claro. (Passar um ferro quente no papel colocado sobre a toalha de mesa remove a cera.) Porque, embora os franceses apreciem longos jantares à luz de velas, eles “desconhecem sacolas de papel craft”, diz Ireland.

Para pessoas como Ireland e Schneider, fazer faxina não é um trabalho; elas curtem as tarefas. Carolyn forte, diretora do Instituto de Pesquisa da Boa Conservação da Casa (Good Housekeeping Research Institute, em inglês), concorda com elas. Na verdade, Forte prefere passar as férias lavando as janelas de seu sobrado em Nova Jersey (costa leste dos Estados Unidos), o que impressionou os vizinhos.

  • Matt Roth/The New York Times

    Sally Carle, decoradora e organizadora de casas,é meticulosa na higienização das privadas: ela remove os assentos e limpa, com água sanitária e escova de dentes, a parte de trás dos parafusos

“Tenho um vizinho que não compra um novo equipamento ou produto de limpeza sem me perguntar”, ela conta.

Forte destaca que, em relação à limpeza, a atenção ao detalhe é muito importante. A maior parte das pessoas ignora muitos pontos, “como os botões do telefone, as escovas do aspirador de pó, controles remotos e a parte debaixo dos tapetes.” Especialmente quando estão na correria para aprontar tudo para as festas.

 Para a limpeza de última hora, Forte recomenda algumas ferramentas, como a Escova Sanitária Scotch-Brite. “O design é próprio para limpar sob a borda do vaso”, descreve.

Mas Sally Carle, que já trabalhou como designer para Pierre Cardin em Paris e hoje vive no estado de Maryland, supera Forte. Carle remove os assentos das privadas para limpar atrás dos parafusos. Seu produto predileto é a água sanitária, e sua ferramenta preferida, a escova de dentes. É claro que ela as desinfeta e rotula cuidadosamente, por razões óbvias. “Está marcado ‘banheiro’”, ela diz.

Bom saber.