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Em ecossistema frágil, casa na Tasmânia se integra à natureza

A sala de jantar da casa na Tasmânia tem vistas para o vale e para o Monte Wellington. Ao fundo, o pórtico de madeira, junto a lareira, transparece pelo plano de vidro do piso ao teto  - Andrew Quilty /The New York Times
A sala de jantar da casa na Tasmânia tem vistas para o vale e para o Monte Wellington. Ao fundo, o pórtico de madeira, junto a lareira, transparece pelo plano de vidro do piso ao teto Imagem: Andrew Quilty /The New York Times

Matt Siegel

The New York Times

09/01/2012 07h00

Hobart, Tasmânia – Há cerca de 11 anos, Drew Beswick e sua noiva, Bea van Heerden, tiraram férias de seu apertado apartamento em Londres e viajaram para a Tasmânia, a ilha australiana onde Drew passou sua infância.  

Enquanto passava ao lado de uma linda vinícola à sombra do Monte Wellington, o casal se deparou com uma visão que os faria renunciar, para sempre, a sua vida estressante na capital inglesa.

Tratava-se de um lote de terra de 12.1 hectares, entremeado por uma lagoa de patos e colinas verdejantes cheias de bosques. O cenário era tão convidativo que eles compraram o terreno na hora, por 150 mil dólares australianos (na época, cerca de US$ 80.500), com o objetivo de fazer daquele lugar seu futuro lar.    

Drew e Bea se mudaram definitivamente para a Tasmânia em 2006, decididos a construir em sua nova propriedade (que fica nos arredores da capital, Hobart) alguns chalés de estilo vitoriano e alguns sobrados espaçosos. O casal, porém, desanimou ao perceber que boa parte do terreno estava ocupada por enormes eucaliptos e inconvenientes animais nativos, como o diabo da Tasmânia (uma criatura peluda mais conhecida por seu cheiro desagradável e temperamento difícil do que por ser o maior carnívoro marsupial do mundo), que seguramente iriam atrapalhar o processo de construção.         

Por sorte, Drew conhecia na cidade de Hobart um dos principais arquitetos residenciais da Austrália: Aaron Roberts.  

Junto com Roberts, o casal passou os 12 meses seguintes enfrentando o desafio de desenhar uma casa dentro de um dos ecossistemas mais frágeis do mundo. Eles descobriram que o terreno abrigava nada menos que 11 espécies de plantas ameaçadas de extinção, todas protegidas por lei. Foi um processo de construção extenuante que, no final, consumiu US$ 450 mil e 18 meses de trabalho. 

Drew e Bea desejavam uma residência que orbitasse em torno da cozinha, como uma espécie de homenagem à infância que Bea passou na África do Sul – lugar onde este tipo de disposição é comum. Também faziam questão de ter boas vistas das paisagens que cercam a propriedade.  

Obra concluída

A casa que eles construíram tem dois andares, 346 m² de área e é revestida com um material corrugado na cor preta - produzido pela empresa australiana “Lysaght” - extremamente resistente às intempéries. O imóvel foi erguido sobre uma colina verde e um pórtico de pinho, com lindas vistas para um vale, serve de entrada principal. Neste local, o casal instalou uma lareira e o transformou em seu lugar preferido para jantar e se divertir.    

Antes de chegar à porta de vidro corrediça da porta principal da casa, o visitante tem que atravessar o piso de madeira escura do pórtico e, depois, andar sobre um chão de pedrinhas de granito que fazem parte de um jardim japonês ao ar livre.   

Este jardim, que rodeia a casa, faz parte da estratégia do arquiteto de eliminar os limites entre os ambientes internos e externos da residência. “Gosto da ideia de a casa ser como um véu através do qual você reinterpreta a paisagem”, diz o arquiteto Aaron Roberts.

Interno-externo

Atrás da porta de vidro está o living, mobiliado com uma mesa de jantar de 2.7 m, feita de madeira teca e colocada sobre um piso de concreto escovado.

Em frente à mesa, destaca-se um plano de vidro que permite ao casal desfrutar um de seus passatempos prediletos: “assistir à TV da natureza”, segundo suas próprias palavras. Usando binóculos, eles observam, de dentro de sua casa, as ovelhas, porcos e patos que criam.   

Separada da sala de jantar por uma pequena escada feita com carvalho da Tasmânia está a sala de estar retangular, que se projeta sobre o resto da casa e é sustentada por colunas de metal com 2.5 m de altura, visto que o terreno, nesta parte da residência, é desnivelado. Uma lareira feita de aço inoxidável, da marca Chazelles, compõe o ambiente.    

Outro jardim japonês com árvores da família do bordo e chão de pedrinhas pode ser visto através de uma parede de vidro que limita a cozinha.

A suíte principal, por sua vez, também está no primeiro piso da casa. Equipado com móveis modestos, o lugar é decorado pela paisagem externa. Uma das paredes deste quarto é feita totalmente de vidro e, também, oferece vista para o jardim japonês que fica ao lado da cozinha. Sobre a cama, há uma janela que ocupa três quartos da parede e está voltada para uma floresta protegida de hortelãs-pimentas e seringueiras da Tasmânia.

A natureza se faz presente - mais uma vez - no banheiro da suíte, decorado com azulejos negros e diminutos e dono de uma hidromassagem branca colocada em frente a uma janela panorâmica voltada para a floresta. A claraboia, instalada sobre o chuveiro, completa a enriquecedora experiência que mistura elementos internos e externos da casa.  

A casa e seus moradores

Bea ficou grávida logo depois que o casal se mudou de vez para esta residência de três quartos, no final de 2009. Hoje com 1 ano e dois meses de idade, o bebê Luca tem um quarto com piso de concreto escovado coberto por um tapete verde.

Em seu tempo livre, a família se reúne no quarto de lazer do segundo andar, onde eles podem se divertir com mais de 1.000 jogos em uma máquina de fliperama customizada. Bea deu o brinquedo de presente ao marido, um fanático por esse tipo de jogo.   

Com 33 anos, Bea trabalha meio período no serviço de proteção à criança do Departamento de Saúde e Serviços Humanos da Tasmânia. Já Drew, que tem a mesma idade, desenvolve ações educativas com jovens em situação de risco em uma ONG chamada “Relationships Australia”.  

Ambos admitem sentir saudades da vida na cidade grande e se perguntam se, algum dia, vão querer voltar para o agito da metrópole. Mas, pelo menos agora, os dois dizem estar contentes por viver em harmonia com a natureza – um ideal que sua casa corporifica.   

“É uma pequena casa com grandes ideais”, afirma Bea.