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Casa com decoração impecável mistura memória afetiva e palpite de criança

 O primeiro item de decoração comprado por Elizabeth Foy Larsen para a casa foi o papel de parede - Ryann Ford/ The New York Times
O primeiro item de decoração comprado por Elizabeth Foy Larsen para a casa foi o papel de parede Imagem: Ryann Ford/ The New York Times

Steven Kurutz

The New York Times, em Minneapolis (EUA)

06/08/2013 07h02

Quando Elizabeth Foy Larsen estava crescendo, na década de 1970, passava uma enorme quantidade de tempo assistindo TV. Mas agora que ela tem três filhos e uma casa em estilo mediterrâneo de quatro dormitórios e cheia de computadores, TVs e iPads, Larsen se encontra travando uma batalha contínua contra as telas. “Em alguns dias”, ela desabafa, “surge uma linha tênue entre nossa casa ser um lar ou um centro de mídia”.

Lutar a guerra contra a tecnopassividade é, em parte, o que inspirou “Unbored: The Essential Field Guide to Serious Fun” (“Sem tédio: o guia prático e essencial para muita diversão” em tradução livre), escrito por Larsen em parceria com Joshua Glenn. 
 
Com ideias de como fazer coisas como grafites de LED e manifestos para que as pessoas saiam e explorem, feitas pelo ilustrador Joe Alterio, entre outros, o volume é uma espécie de manual com atividades infantis antiquadas para uma família moderna com pais integrantes da chamada geração “X”.
 
Larsen, 48 anos, ex-editora da Sassy - a revista das garotas alternativas dos anos 1990 - explica que o livro foi criado para envolver as crianças em ações que fortaleçam vínculos sociais e moldem sua identidade. Muitas das sugestões, salienta, foram testadas na casa dela, em Minneapolis.
 
 “O capítulo ‘Decorando seu Quarto’ surgiu diretamente do fato de ter meus filhos criando ambientes que eles gostassem”, pontua.
 
Crianças decoradoras
 
Seu filho do meio, Henrik, de 10 anos, escolheu para a parede do quarto um tom alaranjado que, compara a escritora, faz parecer “estar dentro de uma lata de suco de laranja concentrado”. Foi uma escolha que testou as convicções de Larsen quanto à governança familiar ser uma democracia, na qual os pais exercem um leve poder, ao invés de uma ditadura.
 
Peter, de 13 anos, o mais velho, é fã de design moderno e escolheu sua mobília na Ikea. Com a ajuda de um artista amigo da mãe, fez o horizonte de Los Angeles com estêncil e o aplicou logo acima da cama. “Ele acha que mora em uma cidade extremamente pequena”, argumenta Larsen.
 
A única criança que não teve controle criativo sobre os elementos decorativos de seu quarto foi Luisa, de 8 anos, que era muito nova quando a família se mudou. “Ela não ama o papel de parede floral da Cath Kidston”, Larsen diz, “mas Luísa tinha apenas dois anos quando eu o instalei, então não teve muito que reclamar”. Quando Peter for para a faculdade, Luisa ficará com o quarto dele e terá a chance de demonstrar suas habilidades com o design.

DECORAÇÃO "PASTEURIZADA"

  • Trevor Tondro/ The New York Times

    Pensada nos mínimos detalhes, decoração padroniza gosto e personalidade

 
Casa com personalidade
 
Larsen e seu marido, Walter Schleisman, de 44 anos, diretor assistente em uma escola, vislumbravam uma vida divertida para seus filhos desde 2006, quando compraram a casa por US$ 770 mil. Seus 270 m² ofereciam cômodos expansíveis e a proximidade do parque encorajava as brincadeiras ao ar livre.
 
“Nós queríamos uma vizinhança onde nossas crianças pudessem explorar sem a nossa presença”, argumenta Larsen, acrescentando que o Lago Cedar, nas proximidades, está cheio de “cantos e recantos”. E Schleisman  completa: “Nossos filhos têm 255 canais e internet ilimitada, mais a App Store. É um desafio.”
 
Na casa, o único ponto negativo era o minúsculo quarto do casal, com sua porta de correr que abria para o que seria um quarto de criança. Uma reforma, então, eliminou a porta e aumentou o dormitório que passou a ter um escritório para Larsen e um banheiro mais moderno. 
 
Até o mais ínfimo cantinho, Larsen trabalhou com a designer Janet Gridley a fim de reproduzir as sensações das casas de sua mãe e avó, que combinavam elementos tradicionais com certa informalidade anos 1970. Por exemplo, o papel de parede usado na sala de jantar parece conservador, mas seu design apresenta faisões absurdamente grandes e o elemento foi combinado a uma luminária feita de filtros de café.
 
Mantendo o espírito da diversão, Larsen tentou não ser perfeccionista ao decorar a casa. Embora o papel de parede de fibra - na sala íntima - tenha sido a primeira coisa que Larsen escolheu para a decoração e combinasse com um sofá mais chique, a última palavra para a escolha do modelo foi de Darwin, o cão da família, que insiste em pular sobre os móveis.
 
De fato, a sala de estar frequentemente parece um acampamento, conta a escritora, com cobertores e toalhas cobrindo a mobília enquanto a molecada constrói fortes. “As crianças não estão comandando o show, todavia algumas vezes pereça que sim”, pondera Larsen. Que, enfim, acrescenta o que poderia ser o mantra de qualquer um com uma casa cheia de filhos: “É um processo”.