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Celeiros tornam-se casa de praia e são refúgio para família 'hollywoodiana'

Casa de praia em Long Island é formada por dois celeiros dos anos 1970, unidos e adaptados - Eric Striffler/ The New York Times
Casa de praia em Long Island é formada por dois celeiros dos anos 1970, unidos e adaptados Imagem: Eric Striffler/ The New York Times

Penelope Green

The New York Times, de Sagaponack, em Nova York (EUA)

23/01/2014 06h59

Lucinda e David Schiff vão contar a você que a recente reconstrução do celeiro da metade do século 20 em Sagaponack, Nova York, que é a casa deles todo o mês de agosto, foi o produto de um romance de verão. 

David, um bem-sucedido agente cujos clientes incluem Jeff Bridges, Eminem, Sienna Miller e Ethan Hawke, e Lucinda, que é artista, vivem em Pacific Palisades, na Califórnia, o resto do ano, num rancho da década de 1920 onde criaram seus três filhos. Aquela casa levou quase dois anos para ser reformada e “nós não tínhamos estrutura emocional para sobreviver mais uma grande obra”, afirma David, numa recente manhã de sol.

Quando chegou a hora de reformar a casa de veraneio, ele retoma, “nós queríamos nos manter dentro de um determinado orçamento” – cerca de US$ 100 mil – “e reaproveitar muito do que já existia”. 

Por ser uma simples casa de praia, a construção foi decorada sem muito cuidado, com as "sobras" dos proprietários anteriores e mobília antiga que os Schiffs haviam comprado em lojas “vintage” em Venice Beach, na Califórnia, assim como uma bela coleção de fotografias do início do século passado, incluindo imagens feitas por O. Winston Link (fotógrafo norte-americano nascido em 1914). 

A intenção era aproveitar mais a parte externa da residência, porém “aqueles espaços (internos) não funcionavam. A sala de estar era esquisita. Depois do jantar, você quer descansar em um lugar confortável, mas simplesmente não havia um canto assim”, explica Lucinda. Dessa forma, o fato de os espaços interiores não serem acolhedores começou a importar. 

A história da casa

A casa modesta é uma nota de rodapé notável na história arquitetônica da região. Tod Williams projetou algumas instituições culturais bastante significativas com sua esposa e parceira, Billie Tsien. Mas, em meados dos anos 1970, ele ainda era um jovem arquiteto. E, como Devon Fredericks - sua namorada na época – recorda: estava cansado de reformar cozinhas e ansioso para deixar a sua marca.

Os dois moravam atrás da lanchonete de Devon, chamada “Loaves and Fishes” e Tod foi encorajado pela sogra, Tina, uma famosa corretora imobiliária local, a comprar um terreno de 12 mil m² que estava à venda do outro lado da rua. A propriedade consistia em dois lotes, um deles com um velho celeiro de batatas.

“Eu tinha planos de ser um construtor”, explica Tod ao contar como ele comprou mais quatro celeiros e os moveu para o local, na esperança de testar a si mesmo como arquiteto, criando duas habitações de baixo custo a partir de uma combinação dessas formas elementares.

“Estava lutando com ideias sobre contexto e mudança e queria manter a integridade dos celeiros, manter o que era bom neles, sua crueza e simplicidade.” Para a parcela do terreno com 7 mil m² que anos mais tarde seria dos Schiffs, o arquiteto moveu o menor dos celeiros que havia comprado. “Acho que ele era realmente usado pelo fazendeiro como garagem”, especula. A rústica “cabana” foi ligada a um segundo celeiro, maior, que já estava lá.

Na outra metade do lote, Tod reuniu os três celeiros restantes num conjunto elegante e modernista. Em ambos os lugares, o arquiteto mostrou o que eliminou e as suas prioridades, enfatizando a pureza das formas originais das construções e a doçura da terra, utilizando materiais de baixo custo para as cozinhas e janelas.

A família e seus anseios

Os Schiffs, cuja afabilidade descontraída desmente o estereótipo da classe Hollywoodiana da qual fazem parte, ficaram tocados pela simplicidade da casa: dois quartos no térreo, um mezanino que dá suporte a um terceiro dormitório e uma pequena cozinha, com piso de tábuas largas e portas rústicas escondendo despensas e armários; tudo aninhados  em um jardim com loureiros e glicínias, eufrásias e rosas de Sharon. Em agosto de 2001, eles a compraram da atriz Carey Lowell por US$ 1,3 milhão e se tornaram os terceiros proprietários, desde que Tod a vendeu, em 1979.

Mas o romance de verão que eles descreveram foi a nova amizade com James Huniford, um designer e artista cujos padrões estéticos são agrícolas, botânicos e biológicos. Surfista bonito, longilíneo e tímido, Huniford, a quem todos chamam de Ford, não é o tipo de cara que perde a cabeça por uma chita envernizada ou uma seda pregueada. Em sua própria casa, um sobrado de três andares com 150 anos, distante poucos quarteirões dos Schiffs, você vai encontrar discos de solda pendurados como esculturas e pôsteres de peixe-espada emoldurados em vidro. Os Schiffs amaram a forma como ele utilizou tais objetos.

A responsável pelo encontro foi Kathryn Schenker, que é empresária de Sting e um velha amiga dos Schiffs."Ford tem uma maneira de criar essas telas incrivelmente relaxantes. Eu sabia que era fundamental que a pessoa que fosse ajudar Lucinda realmente respeitasse seu estado", diz Kathryn. (Lucinda tem convivido com um meningioma atípico, um tumor cerebral não cancerígeno, mas ainda assim agressivo, e que nos últimos anos começou a afetar sua mobilidade.)

Ford e Lucinda trabalharam por e-mail, assim com fazem tantos designers e clientes hoje em dia. O decorador mandava três opções de, digamos, uma mesa lateral e os Schiffs escolhiam uma. Ele trouxe, também, algumas de suas peneiras de grãos favoritas e arranjou pequenas gaiolas de metal alinhadas em uma parede (Donald Judd é seu herói). Ford garimpou, ainda, um sofá “American Empire”, fabricado em mogno, em uma loja de Bridgehampton, Nova York, conservou a madeira e renovou a tapeçaria com um tecido azul e bronze, Lee Jofa.

Os Schiffs compraram a casa em 2001, então puderam ficar mais perto da filha Kaylie, que começava seu primeiro ano na Universidade de NY. Depois de terem deixado a menina na faculdade no dia 10 de setembro,  família voou de volta para Pacific Palisades e não viu mais a casa até meados de maio de 2002. Kaylie, entretanto, refugiou-se ali assim que pôde, levando o maior número possível de amigos.

David  reflete sobre o modo de vida dos Schiff e sua história: “A vida em Los Angeles nos consumia por completo, mesmo a gente tendo feito o melhor possível para manter algum distanciamento e se dedicado à criação de nossa família. Mas esta casa - estar aqui - é um ótimo jeito de relativizar as coisas.”