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Prestadores de serviço contam histórias de desrespeito em casamentos

Prestadores de serviço devem consumir a mesma comida que é servida aos convidados - Getty Images
Prestadores de serviço devem consumir a mesma comida que é servida aos convidados Imagem: Getty Images

Marcelo Testoni

Colaboração para o UOL, de São Paulo

14/12/2015 07h01

O casamento é uma data especial, mas para que tudo saia o mais perfeito possível e o clima seja ótimo, procure não agradar apenas a você e a seu par. Bem, você pensa, "mas é claro"! Fazer uma festa divertida e bem servida para os convidados é essencial. Mas e a equipe técnica por trás de cada preparativo? Eles também devem comer bem e ser bem tratados. Parece óbvio, mas nem sempre isso acontece.

Nos bastidores

“Fico envergonhado toda vez que registro uma festa e em que não me oferecem um simples salgadinho ou um copo de refrigerante”, desabafa o fotógrafo Duda Campagnoli, que diz já ter visto colegas sendo advertidos em público por estarem cansados e famintos: “De madrugada, quando todos os convidados estavam na pista de dança, um dos meus cinegrafistas foi se servir do jantar e a gerente do bufê o retirou da fila, foi humilhante”.

E o que dizer de garçons, seguranças, DJs, copeiras e até socorristas de plantão, que chegam a trabalhar, em média, 14 horas sem intervalos, para concretizar o sonho dos noivos? “Trabalho com a produção de decoração e cenografia; às vezes só preciso ir ao banheiro ou comer alguma coisa, mas, mesmo assim, há quem mande a gente se virar na rua”, conta o produtor de eventos Eder Brambila.

A resposta para a existência multiplicada desse tipo de tratamento preconceituoso “é a mentalidade de senzala que prevalece no Brasil”, afirma o sociólogo Jacob Lima, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). “O trabalho braçal é encarado como atividade subalterna. E isso se reflete na estrutura social”, comenta.

Há, no imaginário coletivo, um abismo hierárquico entre contratantes e contratados. Aquele que presta o serviço está sujeito a ser encarado como inferior ao contratante e ter suas necessidades básicas menosprezadas. “Há uma infinidade de casos assim, muitos cerimonialistas e bufês acham feio ou caro ter a equipe ‘por perto’ dos noivos e seus convidados”, explica a organizadora de eventos Cinthia Rosenberg, ou seja, não querem que o “staff” tenha pausas e usufrua do jantar, por exemplo.

Rosenberg faz questão de frisar nas reuniões com os casais que a procuram que a disponibilização de mesas e o cardápio são serviços prestados, sem distinção, para todos os presentes.

Faça a sua parte

Se você como noivo não tem recursos para acomodar e alimentar seus convidados em festas longas, opte por um casamento mais curto. Se o orçamento é generoso, faça uma festa espetacular, mas em qualquer dos casos, “procure respeitar as cláusulas sobre acomodação e refeição para prestadores de serviço com a mesma qualidade que a dos convidados, pois elas existem”, aconselha o diretor de filmagem e cinegrafista Erick Vasconcelos, que já passou pelo constrangimento de ver 11 parceiros dividirem um sanduíche de metro e uma garrafa de refrigerante.

“Pode parecer exagero, mas não gostaria de trabalhar horas seguidas assim de novo”, desabafa Vasconcelos. Se os noivos não quiserem o “staff” se servindo e comendo com os convidados – ação que pode ser interpretada como falta de consideração -, o mínimo que deve ser feito é a reserva de uma sala exclusiva para os prestadores de serviço dentro do bufê. “Por parte da equipe, vale o bom senso de cada integrante se revezar, de preferência após a fila de convidados, para não atrapalhar o serviço”, explica Rosenberg.

É importante que, ao contratar uma empresa gerenciadora de casamentos, os noivos chequem seu histórico e a maneira como os empregadores enxergam o trabalho em equipe, pois na visão de muitos que trabalham com eventos, o prestador de serviços não pode aproveitar o que está sendo oferecido aos anfitriões e seus convidados. “Já estive em bufê que o próprio gerente quis entregar marmitas aos ‘serviçais’ durante a festa”, comenta Campagnoli.

Por isso, na maioria das vezes, mesmo sendo pagas para fornecer a mesma alimentação durante o evento, algumas empresas se recusam a fazê-lo, embolsando um dinheiro extra ao servir qualquer alimento ou, simplesmente, deixando a equipe operacional sem respaldo, ainda que, com frequência, mesas não sejam usadas e quilos de comida sejam descartados ao final da festa.

Cobre os responsáveis

Muitas vezes, a emoção e a alegria do momento ofuscam o ocorrido. É a assessora quem cuida de cada detalhe para que tudo corra bem na cerimônia e na festa – e, portanto, é ela que deve assumir o controle da situação. “Fui noiva e, por trabalhar com organização de casamentos há muitos anos, sei que é importante passar o evento inteiro perguntando a todos se estão se sentindo confortáveis”, observa a gestora de eventos Emiliana Torneri.

Em caso de desentendimentos entre os fornecedores, trabalhadores e o bufê, é a assessora que deve exigir que se cumpra o contrato. “É importante o organizador ou, em sua ausência, o casal questionar se o combinado está sendo seguido. Se houver discordância, os noivos têm direito ao ressarcimento ou a abrir um processo judicial contra o contratado”, afirma Torneri.

Se as queixas chegarem ao ponto de criar uma situação constrangedora perante os convidados e a assessora nada fizer, retire-a da lista de indicações. Parece pouco, mas o mercado funciona na base da recomendação. Quando a organização é bem feita, desde o princípio, com bom acompanhamento e respeito entre as partes, o risco de algo dar errado é quase zero.

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