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Carnaval do Brasil é marcado por campanhas contra assédio

Garotas exibem a tatuagem "Não é não" contra o assédio no Carnaval - Erbs Jr./UOL
Garotas exibem a tatuagem "Não é não" contra o assédio no Carnaval Imagem: Erbs Jr./UOL

da ANSA, em São Paulo

14/02/2018 08h29

A mensagem que parece óbvia está colada no corpo das mulheres brasileiras neste carnaval: "Não é Não". A campanha feita por meio de financiamento coletivo na internet por um grupo de amigas tem o objetivo de combater o assédio sexual durante os dias de folia.

"Parece óbvio. Mas infelizmente as mulheres ainda precisam repetir constantemente. Não é não. É mais uma frase ou um grito de guerra. É a criação de um escudo que empodera a mulher.

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Devolve a ela o direito ao próprio corpo e o poder de fazer com ele o que bem entender", diz o manifesto do grupo. O adereço já chegou a ser distribuído em blocos de mais de sete cidades, entre elas, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Além disso, as meninas podem comprar a tatuagem pela internet e ainda fazer doações.

Os valores variam de R$ 10 a R$ 700 e incluem brindes como vidros de glitter, brincos, camisetas e óculos de sol. Com o dinheiro arrecadado, outras tatuagens estão sendo distribuídas gratuitamente.

Em um vídeo divulgado pela internet, as integrantes do grupo explicam que a ideia surgiu no ano passado, quando 40 mulheres resolveram produzir quatro mil tatuagens para o carnaval do Rio, depois que a designer de moda Aisha Jacob, de 27 anos, sofreu um assédio em uma roda de samba.

"Ele insistiu três vezes, até que enfiou a mão dentro do meu shorts. Eu fiz um escândalo, fiquei com muita raiva. Os homens, infelizmente, ainda não sabem o valor da palavra 'não'. Acham que um 'não' pode ser um 'sim' mascarado. E não é nada disso", explicou Jacob.

O movimento teve tanto apoio que foi montada uma campanha maior para 2018. Ao todo, R$20.457 mil foram arrecadados. "O mais legal foi a rede de apoio. Você olhava para o lado e via uma menina com a tatuagem. Era quase como um consentimento de que você poderia contar com ela para qualquer coisa que acontecesse", acrescenta a designer de moda.

A medida é mais uma das diversas campanhas contra assédio sexual que estão sendo feitas ao redor do mundo. No entanto, depois da #Metoo, as mulheres brasileiras criaram seu próprio lema.

Além das tatuagens, existem outras ações contra o assédio: a ONU Mulheres lançou a campanha publicitária #CarnavalElesPorElas, e a Comissão de Defesa da Mulher do Rio distribui pelos blocos leques escritos "Não é não", com informações dos serviços municipais aos quais podem recorrer em caso de assédio, ou agressão.

"O Carnaval é um momento de diversão para todas e todos, mas infelizmente a realidade é que os espaços ainda não são seguros para que as mulheres possam se divertir sem medo de violência.

Para tanto, é preciso que os homens abandonem comportamentos nocivos que perpetuam a violência e isso requer que eles respeitem as mulheres", disse Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres no Brasil.