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Terapeuta lança manual de sexo para judeus ultraortodoxos

22/04/2013 15h15

Sexo é um assunto delicado, mas entre judeus ultraortodoxos pode ser mais sensível ainda. Para tentar quebrar um pouco o tabu que gira em torno do tópico, um terapeuta em Jerusalém elaborou um manual de sexo específico para esta comunidade.

  • Divulgação/ BBC

    Há apenas três ilustrações de posições sexuais básicas --e elas estão em um envelope selado colado na aba de trás do livro

Até um tempo atrás havia uma sex shop no caminho para o consultório do Dr. David Ribner, o autor do livro, no centro de Jerusalém. A placa ainda está lá, com letras garrafais vermelhas: "Sex shop, Sex, Love", mas mal dá para ler porque o letreiro foi danificado.

A loja fechou e atualmente há somente um sex shop na cidade, o que não é surpresa diante do grande número de devotos religiosos.

Ribner nasceu nos Estados Unidos e em Nova York foi ordenado rabino e fez doutorado em trabalho social. Posteriormente mudou-se para Israel, onde há 30 anos trabalha como terapeuta atendendo judeus devotos. Ele também fundou um programa de treinamento de terapia sexual na Universidade de Bar-Ilan, em Tel Aviv.

Ele acredita que a publicação de um manual de sexo para judeus ortodoxos já devia ter sido feita há muito tempo.

Tabu

Meninos e meninas ultraortodoxos estudam em escolas separadas com pouca ou nenhuma educação sexual e têm pouca interação com o sexo oposto até a noite do casamento, em que espera-se que consumam a união.

O contato físico entre homens e mulheres --até mesmo um simples apertar de mãos-- só é permitido entre marido e esposa ou entre parentes próximos. Acesso a filmes e à internet é geralmente restrito.

"Nós gostaríamos que o livro fosse uma referência para que as pessoas dissessem 'eu não sei nada (sobre sexo) e quero aprender alguma coisa'", diz o psicanalista.

  • Divulgação/ BBC

    Autor do livro, terapeuta David Ribner atende israelenses há 30 anos

O The Newlywed's Guide to Physical Intimacy (Guia de Intimidade Física para recém-casados, em tradução livre), que Ribner escreveu juntamente com o pesquisador ortodoxo Jennie Rosenfeld, começa com o básico, explicando, por exemplo, como as formas dos corpos de homens e mulheres são diferentes.

Segundo Ribner, o judaísmo encara o sexo como algo positivo entre marido e mulher, e espera-se que o casal tenha muitos filhos. Mas conversar sobre o assunto é ainda um grande tabu.

"O sexo só é apropriado no contexto de casamento", diz Ribner. "Mas ninguém fala sobre assunto, tornando o diálogo algo muito difícil".

Envelope selado

Folheie as páginas do guia e você não verá ilustrações. Mas um envelope selado colado na aba de trás adverte os leitores que dentro há "figuras sobre sexo".

O psicanalista abre o envelope e me mostra o que há dentro: três desenhos de posições sexuais básicas.

"Nós queríamos dar às pessoas uma ideia de não somente onde colocar seus órgãos sexuais, mas também suas pernas e braços", diz Ribner. "Se você nunca assistiu a um filme, nunca leu um livro, como vai saber?", indaga.

O livro tem linguagem direta, tocando em assuntos que podem ser delicados, como masturbação e sexo oral.

O sexólogo Nachshon David Carmi, baseado em Jerusalém, está acumulando cópias do guia em seu consultório e aconselha a leitura para seus pacientes.

Ele avalia que o silêncio sobre sexo cria uma "barreira de vergonha" e que os que procuram se educar sexualmente podem ser vistos como "subversivos e rebeldes".

O livro de Ribner foi lançado no ano passado em inglês e será publicado em hebraico nas próximas semanas, tornando-o mais acessível ao público em Israel.

Quando a nova edição chegar às livrarias, deve provocar "um estrondo", acredita Menachem Friedman, professor e sociólogo que já escreveu vários livros sobre a comunidade judaica ultraortodoxa.

"Eu acredito que a reação será extremamente negativa", prevê.

Para testar possíveis reações, eu levei uma cópia do livro a um centro de estudos judaico ultraortodoxo, onde encontro um homem de 22 anos de barba usando um chapéu preto típico. Entramos numa salinha e mostro o guia de sexo.

"Eu não conheço nenhum livro deste tipo por aqui, mas acho que há a necessidade de explicar este tópico e entendê-lo", acrescenta.

Ele me leva para o andar de cima, onde não há ninguém, para dar uma olhada nas ilustrações.

Assim que ele começa a manusear os desenhos, muda de ideia e os enfia de volta no envelope.

"Eu ainda não sou casado", diz ele. "Vou esperar a minha hora".