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Revista alemã imprime edição com sangue de pessoas com HIV

Sangue de Wyndham foi misturado a tinta e usado para imprimir revista - Julie Mueller
Sangue de Wyndham foi misturado a tinta e usado para imprimir revista Imagem: Julie Mueller

07/05/2015 13h34

Quando Wyndham Meadque ouviu a proposta de doar sangue para a impressão de uma revista, ele achou que era uma ideia maluca. Mas pensou e acabou concordando.

Agora, 3.000  cópias da revista masculina alemã "Vangardist" foram impressas usando tinta misturada com o sangue de Wyndham e outras duas pessoas com HIV.

O objetivo da campanha é quebrar o estigma sobre HIV e Aids.

Já foram impressas 3 mil cópias da revista - Wyndham Meadque - Wyndham Meadque
Já foram impressas 3 mil cópias da revista
Imagem: Wyndham Meadque

"Nunca tinha ouvido falar sobre isso. Não conseguir parar de pensar nessa coisa de vampiro que está rolando em filmes e na cultura pop agora", disse Wyndham ao Newsbeat, da BBC.

Mas o estrategista digital de 26 anos, que é americano, mas mora em Berlim, topou participar da iniciativa porque achou que poderia "fazer a diferença".

A agência de publicidade Saatchi & Saatchi, que fez a campanha para a revista "Vangardist", disse que o sangue foi esterilizado para desativar o vírus antes que fosse misturado à tinta de impressão.

Doação

Wyndham está acostumado a tirar sangue --ele precisa fazer isso todas as vezes que faz um check-up médico, a cada três meses. Mas doar sangue para a revista foi um "momento forte".

"Sentei na maca e foi totalmente diferente das outras vezes", afirmou Wyndham. "Eu estava tirando sangue para a impressão de uma revista, que seria distribuída para milhares de pessoas e se tornaria algo muito maior", afirma.

Todas as 86 páginas da revista foram impressas com a tinta. A edição limitada começou a ser vendida, nesta semana, na Áustria, na Alemanha e na Suíça.

"Fiquei orgulhoso de saber que, juntos, criamos algo bonito e que espero possa servir para algo bom", diz Wyndham.

"Espero que faça o máximo de pessoas falarem, pensarem e lerem sobre HIV e o que significa viver com HIV em 2015. Então as pessoas poderão ver que somos como qualquer outra pessoa."

Choque

Wyndham disse que foi um "grande choque" quando ele foi diagnosticado com HIV, em outubro de 2012.

"Eu não esperava nem um pouco. Sou o tipo de pessoa que achava que estava sendo muito cuidadosa. Achava que era parte de um grupo privilegiado de homens gays jovens que não pegam mais HIV."

"Muitas coisas pequenas mudaram. Tomo remédios todos os dias, tenho de ir ao médico a cada três meses, preciso ter mecanismos para contar às pessoas que sou soropositivo, antes de fazer sexo com elas, preciso respeitar quando elas ficam histéricas ou quando reagem de forma ruim."

Mas ele diz que isso o ajudou a "viver de forma mais positiva e feliz" do que antes. 

Wyndham afirma que falar sobre HIV é uma forma de resolver o estigma. "Acho que ele vem da falta de compreensão e conhecimento sobre o HIV."

"Acreditamos que, como uma revista sobre estilo de vida, é nossa responsabilidade discutir os assuntos que moldam a sociedade hoje em dia", diz Julian Wiehl, publisher e CEO da Vangardist.

"Isso nos pareceu um assunto muito importante, que deveria ser abordado não só editorialmente, mas também em uma forma de comunicação mais ampla."

Brasil

A publicação da revista ocorre ao mesmo tempo em que uma ONG brasileira lança uma campanha com "cartazes HIV-positivos".

Cerca de 300 cartazes com gota de sangue foram espalhados por São Paulo - Divulgação - Divulgação
Cerca de 300 cartazes com gota de sangue foram espalhados por São Paulo
Imagem: Divulgação


Em cada cartaz há uma gota de sangue de um paciente soropositivo.

A ONG GIV (Grupo de Incentivo à Vida) espalhou cerca de 300 cartazes por São Paulo. O objetivo é "mostrar que qualquer pessoa pode conviver normalmente com alguém que é HIV positivo".

De acordo com a entidade, o cartaz é seguro, já que o HIV não sobrevive mais de uma hora fora do corpo humano.

O que é HIV?

HIV é a sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana. O vírus ataca o sistema imunológico e prejudica a capacidade de uma pessoa de combater infecções e doenças.

Não há cura para o HIV, mas existem tratamentos que permitem que a maioria das pessoas infectadas vivam uma vida longa e saudável.

O Ministério da Saúde estima que, no Brasil, 734 mil pessoas vivam com HIV. Em todo o mundo, são cerca de 35 milhões.