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Americanos usam tradicionais bailes de formatura para 'sair do armário'

Michael Martin foi ao "prom" com seu namorado, Logan Westrope - Michael Martin
Michael Martin foi ao "prom" com seu namorado, Logan Westrope Imagem: Michael Martin

Jaime González

Da BBC Mundo em Los Angeles

15/05/2015 10h01

O fim do ano letivo americano se aproxima e, com ele, os chamados "proms" ou bailes de graduação das escolas secundárias.

A tradição, que marca a passagem da adolescência para a idade adulta, há tempos, é o palco para que os jovens oficializem suas relações com fulana ou sicrano, diante de pais e amigos. E, agora, também para que "saiam do armário" oficialmente.

Essas festas não ficaram alheias aos avanços dos últimos anos, do reconhecimento dos direitos da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) em diversos Estados americanos.

Apesar do assédio e da intimidação a que muitos jovens homossexuais ainda são submetidos nas escolas, são cada vez mais comuns aqueles que, com o apoio dos colegas, usam os bailes como plataforma para reivindicar sua identidade.

Há, inclusive, casos em que os tradicionais títulos de rei e rainha do "prom" foram concedidos a estudantes transexuais.

O jovem futebolista

"É um sonho. É incrível. Nem posso acreditar que tenha acontecido", disse à BBC Michael Martin, que, há apenas algumas semanas, levou o namorado, Logan Westrope, para o baile de formatura.

Michael, 18, joga futebol e vive com os pais na pequena cidade de Inwood, na Virgínia Ocidental --Estado que permite o casamento homoafetivo desde o fim do ano passado.

Apesar do avanço legislativo, o jovem diz que se surpreendeu quando o colégio lhe permitiu frequentar o baile com seu namorado do mesmo sexo.

"Estava muito nervoso. Quando você é gay, sempre tem medo de que alguém te assedie ou intimide", contou. "Quando cheguei no baile, não relaxei até a terceira ou quarta música. Quando vi que ninguém fez caso, comecei a dançar com meu namorado."

Faz dois anos que Michael contou a sua família sobre sua sexualidade. Ele diz que o pai aceitou de cara, a mãe demorou um pouco mais, mas agora aceita a realidade de coração.

Tampouco entre os colegas de futebol houve maiores problemas, apesar de uma ou outra piada, ele diz.

"Tem gente que diz que os gays não são bons em esportes, eu era o capitão do meu time", diz o jovem, admirador do ponta do LA Galaxy Robbie Rogers, um dos primeiros jogadores de futebol a assumir publicamente sua homossexualidade.

"Fico contente de poder dizer que ser gay não é um problema como era antes. Espero que meu caso sirva para outros adolescentes gays. Não importa a sua orientação sexual, o importante é ser você mesmo."

A jovem de smoking

Há algumas semanas, diversos meios de comunicação americanos noticiaram o caso da jovem Claudetteia Love, proibida por sua escola de ir a seu baile de graduação vestida de smoking, uma peça tradicionalmente masculina.

Claudetteia Love conquistou o direito de ir ao seu baile de smoking -  -
Claudetteia Love conquistou o direito de ir ao seu baile de smoking

O diretor da escola Carroll, em Monroe, no conservador estado sulista da Louisiana, disse que a ideia contrariava o traje requerido para o evento.

Várias organizações de defesa dos direitos LGBT fizeram pressão, e, no fim, o conselho escolar de Monroe autorizou que Claudetteia fosse ao evento trajada como queria.

"Para Claudetteia, ir vestida como quisesse era uma forma de fazer a escola reconhecer sua identidade", disse o advogado Asaf Orr, do Centro Nacional para o Direito das Lésbicas dos EUA (NCLR, na sigla em inglês).

"O baile de graduação é um momento muito importante para os jovens de sua idade", disse o advogado.

"Não há dúvida de que as coisas estão melhorando. As escolas não podem censurar a maneira como os estudantes se vestem para os 'proms'. Não podem censurar sua identidade."

O par hétero-gay

Jacob Lescenski, 17, heterossexual e morador de Las Vegas, nunca imaginou que convidar um amigo gay para lhe acompanhar ao "prom" fosse transformá-los em estrela nacional.

No fim de abril, Jacob esperou o amigo Anthony Martínez na saída da classe com uma faixa com os dizeres: "Você é gay, sou hétero, mas você é um irmão... quer ser meu par?".

A imagem correu como pólvora pelas redes sociais e, em poucos dias, Jacob e Anthony eram entrevistados em rede nacional pela apresentadora Ellen DeGeneres, uma das mais populares da TV americana.

"A verdade é que eu esperava uma reação muito mais negativa e, no fim todo, mundo me apoiou", contou Jacob.

"Certa noite, li um tuíte de Anthony em que ele dizia que não queria ir sozinho ao baile. Pensei: 'por que não convidar o meu melhor amigo à festa onde estarão todos os nossos amigos?'. Queria fazê-lo feliz e que não tivesse de ir sozinho."

Jacob disse à BBC que estava "muito nervoso", pois achava que ia ser julgado e censurado pelos outros. Mas, no dia do baile, o nervosismo não foi pelos olhares alheios, mas pelas câmeras de televisão.

"É incrível pensar na repercussão que nossa história teve. Sou só um estudante e agora gente do mundo inteiro está me dizendo que sou uma inspiração e que mudei as vidas delas. É incrível pensar nisso."

Um "prom" LGBT

Apesar das mudanças, muitos jovens LGBT ainda se sentem incomodados de frequentar os bailes de graduação das suas escolas. Por isso, em várias cidades americanas, já aparecem os "proms" pensados exclusivamente para esses estudantes.

Staten Island, em Nova York, terá a quinta edição do "prom" LGBT este ano.

"Decidimos que tínhamos de organizar (um "prom" LGBT), porque muitos jovens não podem ir aos bailes de suas escolas com quem desejam, e não podem se vestir como preferem", explicou Ralph W. Vogel, diretor do centro comunitário Pride de Staten Island.

"Ainda há jovens que sofrem assédio e discriminação por parte dos seus colegas. Algumas escolas estão fazendo um bom trabalho de criar um ambiente mais inclusivo, mas ainda há muito por fazer."

Vogel observa que para muitos jovens "os proms são uma coisa muito importante".

"Queremos que tenham a lembrança especial que merecem. Gostaríamos que chegasse um dia em que não precisássemos de um baile separado para os jovens LGBT."