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"Meus selfies contam minha história com a depressão"

Celine vem recebendo apoio do hospital, da família e dos amigos - Arquivo pessoal
Celine vem recebendo apoio do hospital, da família e dos amigos Imagem: Arquivo pessoal

09/03/2017 11h17

A britânica Celine, de 19 anos, sofre de depressão e ansiedade. Ela faz parte de um universo de 80 mil crianças e jovens com os mesmos distúrbios mentais no Reino Unido. Recentemente, um de seus posts no Facebook - em que ela conta como enfrenta o problema - recebeu o apoio de milhares de usuários na rede social.

Celine passou a registrar em fotos o seu estado de espírito por acreditar que isso lhe ajuda a encarar a depressão de frente. Na série de selfies publicada no Facebook, Celine pode ser vista em diferentes e contrastantes estados de espírito.

Em entrevista à BBC, ela diz que seu objetivo é inspirar outras pessoas a discutir abertamente os problemas ligados à saúde mental.

Confira o relato de Celine abaixo:

"Desde que me conheço por gente, me sinto infeliz, desmotivada, malsucedida, com pensamentos horríveis passando pela minha cabeça.

As pessoas dizem que não é possível ver a saúde mental a olho nu, mas eu discordo. Minhas fotos revelam a deterioração da minha saúde mental.

A minha saúde mental pode ser vista de diferentes formas, do cabelo que deixei de pentear, na falta de maquiagem, etc. Afinal de contas, por que eu me importaria com isso?

Também pode ser observada no meu sorriso, em todas as quatro fotos, que se torna pouco a pouco um grito de ajuda.

Como pode ser possível uma pessoa como eu ser tão infeliz na vida? Tenho dois cavalos lindos que tiveram um papel significativo em me ajudar a enfrentar minha depressão e ansiedade, entre outros problemas.

Meus pais sempre foram mais do que generosos e me apoiam de toda a forma possível. Apesar disso, me sentia incompleta. Para mim, em algumas manhãs é impossível sair da cama porque, no fim das contas, qual é o objetivo? Não havia propósito.

Já tive pessoas gritando comigo e dizendo: "Levante-se!" ou "Pare de ser preguiçosa!", mas a verdade é que, para qualquer um que já passou por algo similar, não é fácil. E nos dias em que consigo sair da cama, sinto que mereço uma medalha de ouro.

Quando estava no meu ponto mais baixo, não só me sentia triste, mas comecei a ter problemas em situações simples.
Tudo começou quando tive de falar em público quando era muito nova. Faltava à escola até que acabei deixando de frequentá-la completamente.

'Sem chão'
Em outras ocasiões, uma simples risada dentro de um supermercado era o suficiente para me causar uma angústia tremenda porque achava que pessoas desconhecidas estavam rindo de mim.

Se, por exemplo, percebesse que uma pessoa estava me observando, achava que era porque estava gorda.

Dessa forma, me olhar no espelho fazia com que me sentisse para baixo porque nunca conseguiria ter um corpo perfeito, o corpo que as meninas hoje em dia tentam de todas as formas alcançar.

Isso se tornou uma fonte tão grande de estresse que perdi peso nos últimos meses.

E acabou afetando as coisas de que eu gostava. Não podia mais cavalgar porque sentia que não era boa o bastante - na verdade, achava que era péssima e decepcionava meu cavalo.

Colocava muita pressão sobre mim mesma antes de uma apresentação, o tipo de pressão que eu não via nem em um atleta olímpico.

Ninguém merece sentir-se dessa forma. Ninguém merece sentir-se como se não pudesse fazer alguma coisa ou não fosse bom o bastante.

Quando rompi com meu namorado no ano passado, senti como se tivesse perdido tudo, pouco a pouco. Desisti de usar maquiagem e fui acometida de uma tristeza profunda. Não tinha motivação para nada. Fui ver um psicólogo, mas ele disse que eu estava sendo melodramática. Quando comecei a universidade, foi outro grande estresse. Algumas vezes, olhava para mim mesma no espelho e pensava, 'não posso mais fazer isso'.

Apoio
Durante meu tratamento mais recente, os médicos conversavam comigo como se meus problemas fossem completamente normais.

Tenho recebido todo o tipo de apoio, desde sessões individuais a terapia em grupo, e todo mundo aqui (hospital) conversa um com o outro sobre seus problemas.

Conheci muitas pessoas que sofrem dos mesmos problemas, mas nunca saberia disso se não tivesse falado com elas.

Foi um alívio muito grande saber que não estava sozinha. Depois de muito tempo, percebi que outras pessoas tinham os mesmos pensamentos, os mesmos estresses, as mesmas preocupações que eu.

Não é vergonha acordar e tomar um comprimido que fará com que você aproveite seu dia a dia. E ter alguém com quem você possa conversar, que possa ouvir seus problemas, faz com que você tire um peso enorme das suas costas.

O cérebro é um órgão como qualquer outro. Você não pensa duas vezes antes de tomar parecetamol para curar uma ressaca, então por que você vai pensar duas vezes antes de tomar um comprimido que vai fazer você se sentir melhor?

Sem constrangimento
Hoje, falo abertamente que tenho problemas de saúde mental. Vou sair disso mais forte no final e aproveitar o resto da minha vida. Não há qualquer constrangimento nisso. As pessoas precisam parar de se preocupar se são fortes o suficiente para dizer 'preciso de ajuda', porque ficam com medo de serem taxadas de loucas.

Eu mesma já fui chamada de doida, psicótica, parafuso a menos...mas são nessas situações em que você percebe quem são seus verdadeiros amigos.

Sou eternamente grata ao hospital pela ajuda, e pelo apoio de meus amigos maravilhosos e da minha família, que não me julgam ou me tratam diferente de outras pessoas.

Meu nome é Celine, tenho 19 anos e sou estudante de Direito na Universidade de Hull, na Inglaterra. Falo dois idiomas e tenho um cavalo lindo. E sofro de doenças mentais.