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O chocante relato de uma década de abusos em um orfanato de freiras na Escócia

Theresa Tolmie-McGrane disse à BBC que sofreu abusos físicos, sexuais e psicológicos - BBC
Theresa Tolmie-McGrane disse à BBC que sofreu abusos físicos, sexuais e psicológicos Imagem: BBC

19/09/2017 16h51

Uma ex-interna de um orfanato pertencente a uma ordem de freiras, a Daughters of Charity, descreveu os abusos sexuais, físicos e mentais que sofreu no estabelecimento, na Escócia.

Theresa Tolmie-McGrane disse à BBC que foi violentada desde os oito anos de idade no Smyllum Park Orphanage, durante a década de 1970. O orfanato foi fechado em 1981.

Por meio de um porta-voz, a ordem diz ter "ficado chocada e entristecida" com as acusações. "Pedimos que qualquer pessoa que se sinta vítima de um crime que entre em contato com a polícia, que a partir dali vai trabalhar com nossa equipe", disse o porta-voz.

"Temos participado de investigações oficiais sobre abuso infantil e continuaremos colaborando com qualquer investigação pelo tempo que for necessário", acrescentou.

"Nós oferecemos nossas sinceras desculpas a qualquer pessoa que tenha sofrido qualquer forma de abuso em nossas instalações."

Tolmie-McGrane, que atualmente vive na Noruega e trabalha com psicóloga, chegou ao orfanato do sul da Escócia em 1968, quando tinha apenas seis anos.

"As crianças apanhavam, eram trancadas em quartos escuros e até forçadas a comer o próprio vômito. A maioria de nós teve as bocas lavadas com sabão", contou ao programa BBC Stories.

Depois de deixar o orfanato, aos 17 anos, ela se tornou psicóloga e hoje vive na Noruega - BBC - BBC
Depois de deixar o orfanato, aos 17 anos, ela se tornou psicóloga e hoje vive na Noruega
Imagem: BBC

Abusos

Ela relata que, aos oito anos, foi vítima de abusos sexuais por um padre. "Eu trabalhava limpando os bancos na igreja e esse padre chegava cedo e me pedia para ir para uma sala com ele. Lá, me sentava em seu colo e pedia que eu o acariciasse. Ele tentou me acariciar, mas eu me afastei."

Ela diz que, em determinada ocasião, uma das freiras flagrou a situação. "Mas em vez de ficar zangada com ele, ela me puxou violentamente pelo braço e me atirou no chão. E me chamou de prostituta."

"Eu nem percebi, mas ela quebrou meu braço. De certa forma, isso foi pior que o abuso sexual, porque fui punida com uma fratura por causa de algo que um padre me forçou a fazer."

Segundo Tolmie-McGrane, os abusos foram desde castigos físicos - pancadas na cabeça com um crucifixo de madeira - a ataques psicológicos.
"Uma das freiras fez de tudo para sabotar minha vida acadêmica. Nunca conheci alguém que tentou destruir uma pessoa de forma tão sistemática. Mas, graças a Deus, ela não teve sucesso."

Ela deixou o orfanato apenas aos 17 anos, quando foi estudar na Universidade de Glasgow.

Investigação

Autoridades escocesas não encontraram ligação entre as mortes de 400 crianças e possíveis casos de violência - BBC - BBC
Autoridades escocesas não encontraram ligação entre as mortes de 400 crianças e possíveis casos de violência
Imagem: BBC

O depoimento de Tolmie-McGrane é parte de uma investigação da BBC e do jornal escocês Sunday Post, que descobriu a existência de uma vala comum no terreno do orfanato. É possível que lá estejam os restos mortais de pelo menos 400 crianças.

Na última terça-feira, o Ministério Público disse não haver evidência de uma correlação entre a vala e possíveis crimes cometidos no orfanato. Isso porque as crianças foram enterradas entre 1864 e 1981.

O orfanato recebeu 11 mil crianças nos 117 anos em que permaneceu aberto. Segundo os atestados de óbito, a maioria das crianças morreu de causas naturais, incluindo doenças comuns nessa época, como tuberculose, pneumonia e pleurisia.