Topo

A órfã britânica que perdeu a família aos 7 anos e só foi reencontrá-la aos 90

May Webber perdeu contato com os irmãos quanto tinha 7 anos - BBC
May Webber perdeu contato com os irmãos quanto tinha 7 anos Imagem: BBC

13/11/2017 09h24

A britânica May Webber teve uma infância difícil: ficou órfã aos sete anos, foi obrigada a viver com um tio "cruel" e em seguida viveria as agruras da Segunda Guerra Mundial.

Como consequência, perdeu contato com seus quatro irmãos mais velhos.

Veja também

Agora, passados mais de 80 anos, Webber conseguiu reencontrar parte da família que havia perdido.

Esse reencontro só foi possível graças a uma parente, Angela Doyle, que ficou intrigada com as histórias de Webber e resolveu usar seus conhecimentos em genealogia para tentar localizar eventuais descendentes da família.

Foram sete anos fazendo buscas em arquivos públicos e sites de ancestralidade, atrás de qualquer pista sobre os irmãos de Webber: Alice, Mary, Nellie e Edward.

As cinco crianças haviam nascido no sul de Londres no início do século 20, com o sobrenome Mitchell.

Quando os pais morreram - primeiro a mãe, de um tumor cerebral, e três meses depois o pai, de uma tuberculose causada por gases tóxicos inalados enquanto combatia na Primeira Guerra Mundial -, os irmãos de Webber foram embora de casa.

Ela, por sua vez, foi adotada por um tio cuja mulher a "atormentava e maltratava" constantemente.

Até que, quando May Webber tinha 12 anos, começou a Segunda Guerra Mundial. A menina foi mandada para morar com uma família em Surrey, a oeste de Londres. E ali ela permaneceu por muitos anos após o conflito.

May Webber (no centro) aos cinco anos, com o tio que a adotaria dois anos mais tarde e os primos: ela conta que era maltratada - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
May Webber (no centro) aos cinco anos, com o tio que a adotaria dois anos mais tarde e os primos: ela conta que era maltratada
Imagem: Acervo Pessoal

Webber conseguiu um emprego como babá no País de Gales, onde conheceu seu primeiro marido, David Williams, e teve filhos. Com a morte de Williams, em 1984, ela se casaria mais uma vez, em 1987, com Geoff Webber, que também morreu, dez anos depois.

Essa trajetória lhe deixou com alguns "sentimentos de tristeza". "Tive uma infância muito infeliz e a forma de lidar com isso, desde então, foi tirar isso da cabeça o máximo possível e colocar todas as minhas energias na criação de um lar amoroso e feliz para os meus três filhos", conta Webber.

A história despertou o interesse de Angela Doyle em 2010, mas só agora, no final de 2017, que ela finalmente conseguiu localizar diversos descentes de Webber no sul da Inglaterra.

A notícia ruim é que ela não terá a chance de reencontrar seus quatro irmãos: Alice, 102, e Nellie, 100, morreram dois anos atrás, quando a busca de Webber já estava em curso.

Mary e Edward haviam morrido nos anos 1970.

"Que pena que não tivemos progressos (na busca) mais cedo", lamenta Doyle.

May com seu primeiro marido; ela só soube que tinha sobrinhos poucas semanas atrás - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
May com seu primeiro marido; ela só soube que tinha sobrinhos poucas semanas atrás
Imagem: Acervo Pessoal

A grande dificuldade nas buscas era o fato de Webber ter sido adotada tão jovem e, por isso, ter poucas memórias de seus pais e irmãos.

Doyle passou anos em busca de pistas até que postou uma mensagem "desesperada" em um site de ancestralidade, pedindo que pessoas que estivessem buscando Webber entrassem em contato.

"Por sorte, a família das irmãs dela também estavam fazendo buscas e viram minha mensagem, então entraram em contato conosco duas semanas atrás", conta Doyle. "A única tristeza é que foi tarde demais para reunir May com seus irmãos e irmãs."

Webber conheceu as filhas de Alice — Elaine Lewis, 76, e Margaret Wellington, 73 — e uma neta dela, bem como uma filha de Mary.

Webber espera que o contato com parentes que, até há pouco tempo, ela sequer sabia que tinha, lhe permitam conhecer mais sobre seus irmãos e "preencher as lacunas de 83 anos" que eles passaram separados.

"Por oito décadas, fiz o que pude para não viver no passado, e agora o passado está bem aqui", conta Webber. "Tive sentimentos contraditórios sobre reencontrá-los, mas minha família me convenceu de que seria a coisa certa a fazer e, é claro, eu tenho muito o que perguntar a eles."