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"Aos 12 anos, descobri que meu pai era um padre"

Getty Images
Imagem: Getty Images

18/11/2017 15h54

A maioria dos filhos de padres católicos, supostamente celibatários, não costuma ser reconhecida.

É o caso da britânica Sarah Thomas, que contou sua história ao programa de rádio Heart and Soul ("Coração e Alma"), da BBC.

"Quando tinha 12 anos, descobri que meu pai era padre. Até então, me falavam que ele era professor", relata Sarah.

"Mas, como eu era muito curiosa e desconfiada, sempre soube que tinha algo errado, que estava faltando alguma informação. Minha mãe tinha muito medo de revelar a identidade do meu pai."

A revelação

Mas, em determinado momento, ela tomou coragem para se abrir com a filha e revelou a verdade.

Os pais de Sarah haviam se conhecido na Universidade de Londres, na década de 1970. Enquanto sua mãe estudava teologia, o pai se preparava para virar padre.

"Quando ele descobriu que ela estava grávida, ficou muito desconcertado. Acabou o relacionamento no mesmo dia e nunca mais voltou a falar com ela", diz Sarah.

"Ele consultou uma espécie de mediador dos padres, um sacerdote experiente que também era seu mentor. Esse mentor afirmou que meu pai poderia se tornar padre, desde que minha mãe e o bebê, quando crescesse, mantivessem o acordo de sigilo", acrescenta.

O pai de Sarah foi então ordenado padre quando ela tinha cerca de um mês de vida.

O encontro tão esperado

Sarah cresceu determinada a conhecer o pai. Mas, quando finalmente conseguiu marcar um encontro, não foi como imaginava.

"Na minha ingenuidade, eu imaginava aquelas cenas em que as pessoas correm para se abraçar, começam a chorar e ficam juntas para sempre".

Mas não foi bem assim.

"Ele estava muito distante e frio. Acho que decidiu de antemão qual seria o resultado do encontro."

Confidencialidade

Segundo ela, a ajuda financeira que ele deu foi muito útil. Mas, muitas vezes, o dinheiro vinha acompanhado de cartas com ameaças veladas, que reforçavam a necessidade do sigilo.

A mensagem era clara: "Se você falar sobre isso ou o identificar como pai, o dinheiro vai parar de chegar", relembra Sarah.

"A partir daí, descobri os acordos de confidencialidade que outras mães tiveram que assinar, no qual a Igreja se compromete a dar dinheiro a elas desde que fiquem caladas e a criança não conheça a identidade do pai", conta.

Sarah pondera, no entanto, a atitude do pai: "Para ser justa, meu pai acha que fez tudo o que pôde, o que estava ao alcance dele, por ser padre."

"Mas acho que as regras para os padres não são claras, e a forma que eles ensinam a tratar os filhos é muito confusa. Não há como conciliar ser sacerdote celibatário com um filho, simplesmente não funciona", acrescenta.

Hoje em dia, ela troca cartas com o pai de vez em quando, e ele costuma enviar dinheiro no aniversário dos netos.

"Mas quando alguém sempre coloca as próprias necessidades na frente das necessidades dos filhos, não te passa confiança. Você vai sempre se perguntar se ela não vai te machucar de novo", desabafa.