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Mania entre os jovens, site que conecta pessoas aleatoriamente requer cuidados

Ser "amigo virtual" do filho ajuda pais a saber o que ele vê na internet - Getty Images
Ser 'amigo virtual' do filho ajuda pais a saber o que ele vê na internet Imagem: Getty Images

ROSANA FERREIRA<BR>Da Redação

10/04/2010 07h00

O conceito é simples: o internauta clica no botão “play” e imediatamente é conectado a um estranho no seu computador. Não gostou? É só clicar no “next” para trocar aleatoriamente de parceiro virtual. Trata-te do site ChatRoulette, criado em novembro do ano passado por um garoto russo de 17 anos, e que já ganhou milhares de adeptos em todo o mundo. Em novembro, 500 pessoas o visitavam por dia. Em dezembro, 50 mil. No início de março, a conta estava na casa do milhão.

 

O problema desse tipo de site é não saber quem aparecerá na sua frente. O sistema ativa a câmera do computador e com um clique é possível encontrar um amigo, alguém da sua idade, do mesmo país ou que mora do outro lado do mundo. Mais um clique em “próximo” e o encontro pode se tornar desagradável: alguém nu ou se masturbando ao vivo. Enfim, uma roleta russa.

 

Segundo uma pesquisa divulgada em março passado, 13% dos usuários do ChatRoulette são pervertidos. Os dados são da empresa de estatísticas RJ Metrics e deixam os pais em alerta, já que o site faz sucesso entre os adolescentes.

 

No caso do ChatRoulette, existe a opção de reportar conteúdo inapropriado, porém não é preciso se cadastrar para acessar o serviço. Além disso, a página informa que “não tolera a transmissão de material obsceno, ofensivo e pornográfico”. Na prática, pode ser um mundo fascinante, onde há um leque variado de pessoas de todos os cantos ali sua frente, mas, por outro lado, parece não haver muito controle, o que abre espaço para a ação de pedófilos.

 

Cuidados

 

“O assunto é novo, e muitos pais desconhecem as novidades do mercado tecnológico, como o ChatRoulette. Por isso, uma boa orientação é se tornar ‘amigo virtual’ do filho”, aconselha Stoeterau.

 

É exatamente o que faz a jornalista Tânia Ribeiro, de São Caetano do Sul (SP), em relação à sua filha de 15 anos. “Procuro me manter atualizada e usar as ferramentas que os jovens usam. Também estou nos sites de relacionamentos que ela utiliza e faço parte das listas de amigos, além do Twitter”, conta. Dessa maneira, acrescenta Stoeterau, o filho pode tratar dos assuntos da internet com os pais - uma ótima maneira de saber o que ele vê na web.

Procuro me manter atualizada e usar as ferramentas que os jovens usam. Também estou nos sites de relacionamentos que minha filha utiliza e faço parte das suas listas de amigos

Tânia Ribeiro, mãe de uma adolescente de 15 anos

 

Outra dica do gerente é conhecer o conteúdo em que o filho navega na rede. “E há ferramentas que podem mostrar isso, como o controle parental, incluindo o bloqueio de conteúdo, caso seja necessário. Mas não basta bloquear, é preciso educar o jovem”, diz.

 

E, como o risco desses ambientes sociais na internet é não saber quem está do outro lado, Stoeterau aconselha não mostrar fotos que identificam casa, escola e locais que costuma freqüentar, além de evitar dados pessoais demais e informações sobre hábitos da casa e da família. “Não comente com os filhos sobre os sites que oferecem perigo, pois isso pode estimulá-los a visitá-los”, completa.

 

Baixar a guarda uma única vez é suficiente para acontecer um episódio que pode colocar o jovem em risco. “Um exemplo são os sites de busca, onde aparece de tudo, incluindo sites de pornografia com palavras que não têm essa conotação”, diz ele. Portanto, é preciso acompanhar sempre o conteúdo acessado pela criança ou adolescente.


Pais e filhos na internet

 

“Existe a exploração dos sites de relacionamentos, e o Brasil se destaca entre os países com maior índice de usuários, fato que expõe mais jovens ao risco”, diz Otto Stoeterau, gerente de vendas da Symantec na América Latina.

Jovens brasileiros de 8 a 17 anos são os que mais passam tempo conectados – 70 horas por mês. Porém, os pais acham que os filhos gastam somente 56 horas mensais na web

Levantamento anual Norton Online Living Report

 

Segundo o levantamento anual Norton Online Living Report feito pela Harris Interactive a pedido da Symantec, dos 12 países pesquisados, as pessoas entre 8 e 17 anos no Brasil são os que mais passam tempo conectados – 70 horas por mês. Porém, os pais acham que os filhos gastam somente 56 horas mensais na web. E boa parte desse tempo – 13 horas por semana - é gasto pelos jovens em sociabilização na internet.

 

Os pais se sentem mais à vontade para discutir sexo com os filhos do que conversar sobre o conteúdo que eles veem na internet. Dados do levantamento comprovam: 72% dos pais se sentem à vontade para confortáveis para falar sobre tabus, como sexo e drogas, mas apenas 66% declararam que conversam sobre os hábitos dos filhos em frente ao computador.

 

Perigo escondido

 

Se antes os pais se preocupavam quando os filhos estavam na rua, hoje essa situação se estende ao computador de casa. “Nas esquinas do quarto” também podem acontecer crimes, desde uma invasão, passando por roubo na conta bancária, até pedofilia. “Sabendo da preferência dos brasileiros pelos ambientes sociais na internet, os criminosos se aproveitam disso”, diz Stoeterau.

Os jovens não têm noção do perigo que circula nesse meio virtual, pois não é palpável quando não acontece com eles

Alexandre Hashimoto, coordenador do curso de Sistemas da Informação das Faculdades Integradas Rio Branco

 

“Vejo que os adolescentes que chegam à faculdade fazem tudo pela internet. Ao contrário dos pais, eles pagam contas, compram, conversam, namoram, trabalham. Os jovens não têm noção do perigo que circula nesse meio virtual, pois não é palpável quando não acontece com eles”, observa Alexandre Hashimoto, coordenador do curso de Sistemas da Informação das Faculdades Integradas Rio Branco, em São Paulo.

 

Stoeterau lembra que, em São Paulo, um crime é cometido a cada 1,5 minuto; na internet ocorrem quatro crimes por segundo. Os nossos olhos não veem os crimes da internet como nas ruas, mas eles acontecem.