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Sogra e nora mantêm uma relação delicada

Ninguém gostaria de ter uma sogra como Viola (Jane Fonda), à esq., que decide espantar Charlotte (Jennifer Lopez), a noiva de seu filho, Kevin (Michael Vartan), no filme "A Sogra" - Divulgação
Ninguém gostaria de ter uma sogra como Viola (Jane Fonda), à esq., que decide espantar Charlotte (Jennifer Lopez), a noiva de seu filho, Kevin (Michael Vartan), no filme "A Sogra" Imagem: Divulgação

FERNANDA JUNQUEIRA<BR> Colaboração para o UOL

28/04/2010 07h00

Hoje, dia 28 de abril, comemora-se o Dia da Sogra. É comum que a simples menção da data traga à mente, da maior parte das pessoas, piadinhas ou tiradas infames do tipo “Feliz foi Adão, que não teve sogra”, “Sogra boa é a que já morreu”, “Sogra é como cerveja, só serve gelada e sobre a mesa” etc. Embora a cultura popular pregue que são os homens os que mais sofrem nas mãos dessa parente (ou seria serpente?), a realidade, hoje em dia, é diferente. É provável que, por conta da liberação sexual feminina, as mães das moçoilas tenham diminuído o cerco em torno dos genros (ou candidatos). Por outro lado, os rapazes têm se casado ou assumido relacionamentos sérios cada vez mais tarde, o que explica, em parte, a ciumeira por parte de suas mães em relação às namoradas, noivas, esposas e afins.

 

A ciência vem estudando a delicada relação entre noras e sogras. Entre 1985 e 2008, a psicóloga Terri Apter, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, analisou o comportamento de 156 pessoas (49 esposas, 40 maridos, 49 sogras, 18 sogros e dez enteados). Resultado: elas reclamavam mais das sogras, e não eles (60% contra 15%, acredite!). A pesquisa resultou no livro “What Do You Want from Me?” (O Que Você Quer de Mim?), disponível no Brasil em inglês, que procura esmiuçar tais relacionamentos e propor sugestões para melhorá-los.

 

O psicólogo Oswaldo Martins Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade, de São Paulo, parte de uma premissa interessante para justificar a origem dos conflitos. Antigamente, embora isso ainda seja comum em algumas sociedades orientais, os casamentos entre as famílias eram feitos por meio de contratos que previam os comportamentos e exigências sobre os membros de um lado ou de outro. “No mundo ocidental, onde não aparecem estas regras, as pessoas próximas ao casal tentam se impor de acordo com necessidades individuais, formas pessoais de ver o mundo e de atitudes próprias, sejam saudáveis ou neuróticas”, pontua o especialista.

 

Segundo Oswaldo Rodrigues, sogras e noras competem pelo mesmo indivíduo, mas a partir de necessidades e objetivos diferentes. Considerando que existam características diferentes de personalidade, muitas formas variadas serão manifestas. Então, a previsão sobre como ou de onde saem os conflitos não é tão simplista. “Ainda assim, a competição entre sogra e nora diz respeito à função que o filho/marido tem na família”, afirma. “Se o marido tem independência e autonomia com relação à família, pode afastar-se geograficamente, diminuindo as arestas e impedindo os possíveis conflitos mais cotidianos. Se este marido sente-se dependente, financeira ou emocionalmente, da família de origem, não se afastará, e a luta pelo poder sobre os atos do marido ocorrerão. O poder pode ser representado pela disputa de como o casal deverá usar suas economias para comprar casa, fazer viagem de férias, ter filhos (quantos e quando), nomear os filhos, influenciar e determinar onde filhos estudarão etc.”, alerta o psicólogo. Sem contar que, em alguns casos, os objetivos da sogra passam pelos cuidados do filho em sua velhice, para mantê-la financeiramente.

 

Histórias reais

A ajuda financeira que o noivo dá à mãe é o motivo de muita discórdia entre a vendedora Soraia*, 29 anos, de São Bernardo do Campo (SP), e o noivo. “Estamos comprando móveis para o nosso apartamento, já que vamos nos casar em maio de 2011, e de uns tempos para cá ela fica xeretando o quanto ele tem gasto com isso, comparando a ajuda que sempre recebeu dele. Fico mortificada com essa situação”, reclama.

 

Para a professora de ioga Andréa*, 31 anos, de São Paulo, o que mais a atormenta é a mania de a sogra presenteá-la com coisas horrorosas. “Sou superbásica e ela surge com umas peças extravagantes. Será que não repara no modo como me visto? Já sou casada com o filho dela há oito anos”, dispara.

 

Entre sogras e genros, as mesmas necessidades de poder podem ocorrer, mas por meio de outros mecanismos, em especial a autonomia sobre decisões e imposições sobre contatos de convivência do casal, permanência na casa e necessidades de compartilhamento de lugares e horários. A perda do tempo de convivência do casal é o principal foco de disputa entre sogras e genros, uma reclamação masculina que mostra o afastamento no casal da possibilidade de intimidade – a clássica visita fora de hora, nos momentos em que marido e mulher pretendiam ver um filme, namorar ou sair para jantar.

 

Identidade própria

Mas, de forma prática, como resolver os problemas ou tentar amenizá-los? “Marido e mulher precisam defender-se para continuar com identidade familiar própria. O filho/marido precisa tomar partido da mãe/esposa. Porém, isso implica que as atitudes desta mulher não sejam hostis para com a sogra. Este é um ponto importante para administrar: definir o que são comportamentos e atitudes hostis ou não. A mulher não pode ficar na defensiva se precisa da aliança do filho e do marido. Reconhecer quais são os comportamentos hostis auxiliará a compor a aliança com marido/filho, mas sem hostilizar a sogra”, destaca o psicólogo Oswaldo Martins Rodrigues Jr., que salienta ainda que os conflitos podem aumentar com o nascimento dos netos; daí a necessidade de, o quanto antes, estabelecerem-se regras.

 

Etiqueta

Mal administrados, os conflitos podem até gerar a necessidade de terapia familiar ou da separação do casal. Vale a pena ressaltar que uma sogra pode ser participativa – e agregar muita experiência de vida – sem se intrometer ou provocar estresse. Isso, é claro, depende bastante do esforço da nora. Para a consultora de etiqueta Ligia Marques, de São Paulo, uma boa ideia é evitar enfrentar a sogra em assuntos que não tenham tanta importância. “Diga somente que vai pensar na sugestão e siga em frente. Nada de prolongar a conversa!, aconselha. Caso ela deseje se intrometer em assuntos que não lhe dizem respeito, a frase ideal é “Dona Fulana, sei que está tentando ajudar, mas sei como resolver isso da melhor forma, não se preocupe". Ou ainda: "Antigamente as coisas funcionavam diferente. Hoje mudaram um pouco e, às vezes, o que dava certo antes, agora não dá mais. Fique tranquila que sei como resolver o problema. Obrigada pela ajuda."

 

A consultora Ligia Marques chama atenção para um fato muito comum: o da mãe que já antipatiza com a namorada do filho antes mesmo de conhecê-la – e no dia da “apresentação oficial”, faz questão de ser desagradável. “É importante ir ao encontro preparada para isso e responder às perguntas da futura sogra com bom humor e simpatia. Perguntas e comentários inconvenientes da sogra podem ser rebatidos com uma boa dose de bom humor ou fingindo que não entendeu a má intenção embutida ali. Evite criar caso”, sugere. Aquelas que comentam sobre a ex do filho devem ser "cortadas" logo de cara, com frases do tipo: " Puxa, essa garota devia mesmo ser o máximo pelo que a senhora diz, pena que o seu filho não achou tudo isso nela. Certamente ela encontrará algum sortudo para fazer feliz, não acha? São coisas da vida..." Mude de assunto fingindo que isso não lhe incomoda. E nunca deixe de levar um vasinho de flor – é uma gentileza que quebra barreiras iniciais.

 

O lado bom

É fundamental tentar, ao menos, cultivar uma convivência agradável. Algumas sogras reclamam que as noras menosprezam sua experiência de vida. “Quando damos um conselho ou uma opinião, não queremos invadir a privacidade do casal ou mandar nas noras. Se algumas tivessem um pouco menos de melindre, poderiam ser bem beneficiadas. Só queremos ajudar”, justifica a dona de casa Cândida*, do Rio de Janeiro.

 

Um relacionamento sadio entre noras e sogras só tende a acrescentar à esfera familiar – é gratificante, principalmente, para as crianças. “Pior do que a sua mãe não gostar da sua mulher, e vice-versa, é ter certeza de que ambas se adoram”, brinca o publicitário curitibano Alex Mendes, de 36 anos. “É sério. As duas vivem se unindo contra mim, se divertem torrando a minha paciência, dizendo que tenho de cuidar mais da saúde, fumar menos, praticar esportes... Eu só as aturo porque meus filhos são loucos pelas duas”, diverte-se.

 

Já a analista de sistemas Priscila F. Fernandes, de 28 anos, de São Paulo, considera a sogra sua segunda mãe. “Ela é compreensiva, carinhosa e nem um pouco intrometida. Ouço minhas amigas falarem mal das mães dos maridos e fico indignada. Tenho muita sorte, pois a admiro e ouço seus conselhos. E também aprecio bastante a maneira como ela cuida da minha filhinha de 1 ano”, elogia. “Só tenho a ganhar incentivando esse relacionamento.”