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"Autoajuda é o sedentarismo da mente", diz professor

Colaboração para o UOL

17/07/2010 08h00

Pôr em xeque as obras de autoajuda é o objetivo do livro “A Vida que Vale a Pena ser Vivida” (Editora Vozes, R$ 22), recém-lançado por Arthur Meucci e Clóvis de Barro Filho. Na obra, os autores abordam questões fundamentais da existência humana, utilizando diferentes enfoques por meio da formulação do pensamento dos mais destacados nomes da filosofia, de Sócrates e Platão a Espinosa e Nietzsche, aplicados a situações do cotidiano, para que o leitor “possa resistir, cada vez melhor, contra todo tirano que pretenda empurrar-lhe goela baixo a vida que vale a pena”.

Arthur Meucci é mestre em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), com formação em psicanálise pelo Instituto Brasileiro de Ciências e Psicanálise (IBCP), além de consultor do Espaço Ética, de São Paulo. Clóvis de Barros Filho é graduado em direito pela USP e em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, professor livre-docente da ECA/USP e um dos principais palestrantes corporativos do Brasil. Confira alguns trechos da entrevista que Clóvis concedeu ao UOL:

UOL Estilo Comportamento - Em sua opinião, por que a venda de livros de autoajuda não para de crescer no Brasil?
Clóvis de Barros Filho - Os motivos são diversos. Em primeiro lugar, a grande exposição e os grandes esforços de marketing com os quais este gênero conta. E existe certa cultura de autoajuda já estabelecida no Brasil.

UOL Estilo Comportamento - O que as pessoas buscam nesses livros?
Barros Filho - Soluções prontas para seus problemas, vias de escape para o sofrimento, receitas de sucesso e de felicidade, simplicidade para encarar os complexos problemas da existência. Buscam, enfim, um refúgio de suas realidades, com a fantasia de poderem magicamente e com o mínimo de esforço e sofrimento resolver suas vidas. Qualquer pessoa, em um momento de fraqueza e dificuldade, pode recorrer a esse gênero, pois a variedade atinge uma proporção bizarra.

UOL Estilo Comportamento - Esses livros são úteis para ajudar a enfrentar problemas como perda de um ente querido, conflitos entre pais e filhos, dificuldades financeiras ou profissionais e problemas amorosos?
Barros Filho - Pode-se conceber que o leitor de autoajuda encontra-se, no mínimo, em um momento de fragilidade e insegurança. Mas esses livros não podem ser úteis, não passam de distrações. Oferecem respostas a problemas imaginários, pois é impossível conceber que cinco ou dez conselhos ou lições possam dar conta da complexidade de qualquer problema capaz de gerar o desespero que leve uma pessoa a comprar um livro de autoajuda. Quando muito, estes livros atuam como uma muleta existencial. Para mim, a autoajuda é o sedentarismo da mente, que, evitando refletir, atrofia-se.

UOL Estilo Comportamento - O fato de esses livros tratarem os leitores como um público único, não levando em conta suas singularidades, por exemplo, é um fator negativo? Quais seriam os outros?
Barros Filho - É um fator muito negativo, que inviabiliza qualquer efetividade de suas pretensões. Outros são reduzir a complexidade dos problemas a questões numeráveis, que podem ser resumidas em frases de efeito, prometer soluções existenciais complexas e extremamente individualizadas, como felicidade, sucesso, amor, riqueza. Também há uma questão ideológica, que prevê que a vida boa é a vida da riqueza, do sucesso, da acumulação, da paixão etc.

UOL Estilo Comportamento - Que títulos de autoajuda você leu e que considera bons?
Barros Filho - Nenhum. Todos que eu li, rejeitei prontamente. Porque a própria ideia de autoajuda, para mim é enganadora, e as propostas são, quando muito, risíveis. (Heloísa Noronha)