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Até que ponto as mentirinhas no primeiro encontro são naturais

WILSON DELL'ISOLA<BR> Colaboração para o UOL

26/08/2010 07h00

Você conta tudo ao pretendente no primeiro encontro? É natural que uma mentirinha ou algumas omissões aconteçam na hora de se apresentar, falar sobre a vida profissional, a questão financeira ou até mesmo se é realmente solteiro ou solteira. A ordem é impressionar. Geralmente, as pessoas não fazem isso com o intuito de enganar a companhia, mas especialmente para seguir à risca a máxima: “a primeira impressão é a que fica”.

Para a professora de psicologia da Universidade São Judas Tadeu, de São Paulo, Ana Lúcia Gatti, esta atitude é normal, quase mecânica: “Ninguém quer expor os seus defeitos logo de cara. Existe uma analogia simples, que é vista sem muitas vírgulas. Quando você vai receber uma visita em casa, esconde a bagunça e guarda a louça. A ideia é a mesma, uma tentativa de mostrar o melhor possível, e nem por isso seria correto dizer que o anfitrião enganou o visitante.”

O psiquiatra e sexólogo Joaquim Zailton Motta, de Campinas (SP), acredita que o melhor é se relacionar com o maior índice de verdade possível. No entanto, ele lembra que a sociedade contempla alguma posição “maquiada”. Assim como nas eleições - em que os candidatos criam “imagens adequadas” para serem mais votados -, as pessoas também querem ser escolhidas quando o assunto é relacionamento amoroso. E, para isso, podem mentir ou evitar alguns aspectos da vida para passar uma boa imagem e a relação seguir adiante. “Mas sempre se corre o risco de a ‘maquiagem’ ficar carregada demais”, alerta Motta, professor do curso de especialização em sexualidade humana da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e coordenador do GEA-Camp (Grupo de Estudos sobre o Amor de Campinas). Isso ocorre geralmente quando uma mentira leva a outra e se torna difícil administrá-las.

Motivos

Se você já contou uma mentirinha no primeiro encontro, saiba que não foi o único. De acordo com pesquisa realizada pelo site italiano Speed Date, 54% dos entrevistados mentiram pelo menos em algum detalhe no primeiro contato. As mentiras mais frequentes? O tema mais manipulado (33%) é sobre o tempo de duração da última relação, geralmente para mais, para indicar a seriedade do pretendente. Em segundo lugar estão as mentiras sobre a posição profissional, de modo que 28% dos entrevistados aumentam o próprio salário, o cargo e a importância da empresa. Também é de praxe mentir sobre o motivo do rompimento da última relação (23%) e sobre o número de relações anteriores (16%).

“Não tem nada de estranho que isso aconteça, pois há uma tentativa de avaliar o que tem realmente importância para o outro. Com o passar do tempo, sem possibilidades de sustentar aquelas mentirinhas e com ganho de confiança entre os dois, as pessoas ficam mais honestas”, avalia.

Parte das estatísticas

Em uma festa de formatura, o designer Marcelo*, 38 anos, teve o seu primeiro contato com a atual esposa. Na época, trabalhava como assistente em uma agência de publicidade, mas considerou que o fato pudesse desmotivar a pretendente. Assim, depois da aproximação, “ele se promoveu” a gerente.

“Ela era bonita e muito bem educada. Na hora me deu certa vergonha e acabei fazendo isso para que ela ficasse mais interessada em mim. Depois de três meses, quando já estávamos namorando, contei a verdade. Ela simplesmente respondeu me questionando se eu havia mentido em mais alguma coisa. Como não tinha nada mais importante para esconder, ficou tudo bem. Mas quero deixar registrado que não fui o único a mentir, já que ela 'rejuvenesceu' dois anos quando nos conhecemos”, conta.

  • Getty Images

    Falar de amores anteriores pode quebrar o clima de romance

Cuidados

Ser sincero, espontâneo e autêntico é sempre válido, mas nada de se expor demais no primeiro encontro. Esse é o conselho do psiquiatra Joaquim Zailton Motta, autor do livro “Amores Humanos, Traições Divinas”.

Isso significa que é melhor conhecer o pretendente primeiro. Por isso é importante deixar que o outro faça perguntas a seu respeito e vice-versa. "Ao ouvir e perguntar se cria um equilíbrio, e a relação flui naturalmente”, diz Motta.

Outra dica do psiquiatra é não se aprofundar demais nos assuntos, especialmente naqueles referentes a amores anteriores. “Se o assunto não estiver bem resolvido, há o risco de começar a falar sem parar, contar as mágoas, reclamar do ex e assim por diante”, diz. No mínimo, quebra o clima.

* O nome foi trocado a pedido do entrevistado
 


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