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O que fazer quando ele é viciado em apetrechos eletrônicos

Segundo psicóloga, o "amor" masculino pelos gadgets se explica porque os homens são competitivos e por isso precisam se manter mais antenados - Getty Images
Segundo psicóloga, o "amor" masculino pelos gadgets se explica porque os homens são competitivos e por isso precisam se manter mais antenados Imagem: Getty Images

GISELA RAO <BR>Colaboração para o UOL

09/09/2010 16h20

Não, não é justo. Primeiro inventaram o futebol, e a gente teve de disputar a atenção dos homens com 11 caras peludos correndo para lá e para cá. Algumas até se renderam ao “inimigo” e se embrenharam pelo universo futebolístico chegando ao cúmulo de aprender o que significa o (in) compreensível impedimento. Depois, inventaram o videogame e... ah, quantas saudades do futebol, afinal eram apenas 90 minutinhos e não cerca de cinco horas de abdução. Agora, como tiro de misericórdia, criam os gadgets, apetrechos eletrônicos e portáteis que vão com nossos parceiros até para o banheiro. São iPhones, iPads, Milestones, netbooks, nettops e mais uma série de traquitanas incríveis e hipnóticas que relegaram as mulheres ao segundo, terceiro e quarto planos. E agora?

Entenda as diferentes naturezas

A psicóloga clínica Silvia Malamud, especialista em terapia breve e de casais, nos convida a pensar sobre as diferenças. “Os homens são competitivos e por isso precisam se manter mais antenados. Se você observar, eles estão transferindo para o mundo virtual a possibilidade de serem heróis. Dessa forma, eles podem expressar toda a competitividade. Mas claro que também existe uma grande fuga do vazio existencial que todos temos e não sabemos como lidar. Chamo isto de ‘anestesia crônica’”, diz.

Já a psicóloga junguiana Neiva Bohnenberger vê nesta tendência uma grande chance de as mulheres não seguirem novamente os caminhos deles ou de ficarem sentadas esperando atenção. “É um grande momento para percebermos o nosso medo de ficarmos sozinhas, de sempre achar que temos de fazer nossos homens felizes como a eterna menina que quer sempre agradar ao pai. Muitas de nós ainda acham que só são mulheres na presença dos homens. E eles só se sentem homens na presença do poder. Este é o grande abismo entre os sexos”, acredita. Neiva afirma que as relações serão mais saudáveis quando nós, mulheres, aceitarmos as diferenças e procurarmos nosso próprio caminho. “Aproveite para ler o livro que você queria faz tempo, ou assistir a um filme, praticar um hobby, sair com as amigas etc. Ele não está te abandonando, apenas está vivendo naquele momento uma paixão pelos gadgets. Encontre também suas próprias paixões!”.

Para entrar num “caminho do meio”, a psicóloga Silvia Malamud sugere que a mulher proponha atividades para o seu companheiro que lembrem como é bom também “o mundo fora do brinquedinho”. “Convide-o para programas que tenham um sentido de existência, use bastante do sensorial para descrever coisas gostosas para fazerem juntos baseadas no que ambos gostam. Exemplos: dar um mergulho refrescante na piscina, cozinhar juntos, passear na praia para ver o pôr-do-sol, fazer uma massagem a dois, dançar”.

Letícia Capriotti, 36 anos, mulher de um “viciado”, também dá suas dicas: “Adoro conviver com um homem que curte gadgets! Se não fosse ele, eu não conseguiria acompanhar tantas novidades legais que existem e acabaria tendo dificuldades, como a minha mãe que desligava o videocassete da tomada porque não sabia apertar o stop (risos). Meu conselho: sejam compreensivas! E se aproveitem do interesse deles para aprender também, é muito legal fazer parte desse mundo moderno tão conectado. Quem sabe assim vocês podem ficar mais próximas dos filhos também”.

Os gadgets na visão dele e dela

Entrevistamos um casal recém-casado, que está tentando conviver com este “problema” para saber como é a tara pelos brinquedinhos na visão de cada um. Acompanhe a conversa com Carolina Carvalho De Rose, professora de ioga, 35 anos, e André de Rose, professor de ioga, 43 anos:

ELA

Como é conviver com um homem "viciado" em gadgets?
Carolina - Antes de casar com o André, eu era a "viciada" em internet. Tanto é que nos conhecemos através do Orkut. Eu me abstraía de tudo e de todos quando estava no PC, e sempre levava bronca de todos porque não ouvia quando me chamavam por estar tão "dentro" do computador. O que nunca imaginei foi que eu seria a vítima da mesma coisa. Só que um pouco pior. Meu marido, além de não me escutar quando está no PC, passa o resto do tempo no Milestone (smartphone). Quando ele vai para o banheiro com o celular é péssimo. Às vezes, passa uma hora e ele ainda está lá.

Você se sente em segundo plano?
Carolina - Muitas vezes me senti, sim. Tenho mais ciúmes daquele celular do que de qualquer outra coisa, afinal, quando ele não está olhando pra mim, está olhando para ele (risos).

Como faz para isso não te deixar aborrecida?
Carolina - Quando vejo que ele está exagerando, imponho limites. Se eu quero atenção, seduzo. Isso faz com que ele largue o "brinquedo" na hora. Faço isso também pelo MSN. Costumamos ficar cada um em seu computador e começo a provocar... Pelo menos, no MSN, sei que ele está "ouvindo" cada palavra do que eu digo.

ELE

Você se considera viciado?
André - Eu não diria viciado, prefiro usar a palavra tecnologicamente abduzido. É uma ferramenta, do tipo um sapato: ao sair de casa você usa, mas também agradece quando não está usando, entende? Acho bom quando estou usando e agradeço quando não estou.

Como você faz para a sua mulher não ter ciúmes dos seus brinquedos?
André - Ela jamais teria ciúmes de algo que nos fez ficar juntos (nos conhecemos no Orkut), mas às vezes ela pede atenção, sim! E com muita ênfase eu diria. Ela só não percebe que, enquanto ela está na frente do computador hipnotizada por horas a fio, ela não reclama de nada, todavia quando ela sai... cruzes! Ela quer atenção imediata!

Quais as três coisas sem as quais você não viveria?
André - Minha esposa, minha profissão e meu super celular com sistema operacional desenvolvido com código livre.

Você acha que a tendência do mundo são as pessoas viverem sós e com seus gadgets?
André - Não acredito nisso. O que percebo são pessoas que jamais ficariam juntas devido à distância acabarem se encontrando por causa dessa "facilidade".