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Sensação de fracasso no fim do ano pode ser combatida

HELOÍSA NORONHA<br>Colaboração para o UOL

01/12/2010 07h00

Basta as primeiras luzes de Natal se acenderem nas ruas e os comerciais pré-Réveillon típicos começarem ir ao ar, para qualquer um se sentir compelido a fazer um ajuste de contas com o ano que está chegando ao fim. Respostas negativas a questões como “Atingi as metas que eu pretendia em 2010?” ou “Consegui realizar a maior parte dos meus sonhos?” podem provocar uma angustiante – e nada animadora – sensação de fracasso. O pior é que o clima de festas e comemorações do mês de dezembro contribui para arrasar ainda mais quem está de baixo-astral, já que há no ar uma impressão generalizada de que todo mundo esbanja felicidade, exceto a pessoa em crise. Porém, a não ser que algo realmente grave tenha acontecido (como a morte de um ente querido), essa sensação ruim pode e deve ser combatida. É preciso dar espaço ao novo – afinal, 2011 se aproxima e requer otimismo e esperança para que as coisas deem certo. Conversamos com especialistas e elaboramos sete passos básicos para você fechar 2010 em paz, mesmo que suas expectativas não tenham sido atendidas como gostaria, e comemorar o ano-novo com renovação e alegria. Confira.

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    Abrir espaço ao novo é uma forma de cultivar o otimismo para que as coisas deem certo

PARE DE SE CULPAR

De acordo com Luiz Gonzaga Leite, chefe do Departamento de Psicologia do Hospital Santa Paula, de São Paulo, pessoas com altíssimo nível de autocrítica costumam acreditar serem culpadas por todos os problemas, incluindo os das pessoas à sua volta. “Essa dica serve para todos nós: é necessário começar a dividir o problema em partes e a verificar exatamente qual é o seu papel para que a situação sofra mudanças favoráveis. Não se martirize pelo que está fora do seu alcance”, sugere o especialista. Ou seja, pare de se culpar pelo o que aconteceu (ou não aconteceu), já que o tempo não volta. “Independentemente do tamanho e do tipo de problema de cada um, é preciso ter domínio sobre os próprios pensamentos e aprender a enxergar a luz no fim do túnel”, completa.

A culpa não deve paralisar. Para o especialista em desenvolvimento humano Eduardo Shinyashiki, de São Paulo, é bom manter em mente seus planos para a mudança, suas prioridades, e tomar cada dificuldade do dia como uma oportunidade de aprendizado. “Troque as velhas desculpas como ‘eu não consegui’ ou ‘pelo menos eu tentei’ por pensamentos construtivos, como ‘eu posso’ e ‘posso demorar, mas eu vou conseguir’. Nossos pensamentos têm força sobre a nossa vida”, avisa.

DIGA ADEUS AO PERFECCIONISMO

Aqui, vale o mesmo raciocínio: o excesso de cobrança paralisa as ações. Em sua estreia na literatura, com o livro de autoajuda “Hoje é o Dia Mais Feliz da Sua Vida” (Matrix Editora), a designer Elisa Stecca dá dicas simples e despretensiosas que sugerem aos leitores simplesmente relaxarem e pararem com a mania de perfeccionismo. “É muito chato ser o dono da verdade e querer sempre ter a razão”, opina Stecca, que considera um desperdício de tempo e energia o hábito de querer controlar tudo. “O controle é uma ilusão. Atrelar nossa felicidade às mudanças externas é assinar um pacto com a frustração”, acredita. “Aceite que nem tudo está em suas mãos e comece a se tratar com mais carinho e menos julgamento. Se existe uma coisa para a qual a vida e a felicidade não dão a menor bola, é o perfeccionismo”, ressalta a psicóloga clínica Marta Leopoldo, de São Caetano do Sul (SP).

COMPROMETA-SE COM VOCÊ

Talvez as coisas não tenham saído como você esperava ou queria simplesmente porque algumas perguntas cruciais não foram feitas a si mesmo (a). Ainda há tempo para isso, segundo o consultor de empresas e palestrante Anderson Cavalcante, de São Paulo. “Desacelere por um instante e comece se perguntando qual é o seu propósito. Qual é o legado que você quer deixar nessa sua passagem pelo mundo? Identifique essa resposta dentro de você e assuma o compromisso de cada dia dar um passo na direção da sua realização. Assim, passará a realizar as atividades com mais dedicação e atenção, pois elas levarão ao destino escolhido”, sugere.

Assuma um compromisso com você, com sua qualidade de vida. Faça todos os ajustes necessários, desde se organizar na sua agenda privilegiando inclusive compromissos pessoais até mesmo um check-up físico e emocional. “Lembre-se: a vida passa muito rápida, então aproveite para viver de forma intensa, esse é o seu momento, faço-o ser proveitoso”, diz Cavalcante.

CHEQUE SUA AUTOESTIMA

Uma coisa é certa: se alguém não está bem consigo mesmo, se não tem segurança nas próprias habilidades e um propósito definido, nenhum emprego ou relacionamento pode dar certo. A falta de autoestima é visível para todos que estão ao seu redor e o trabalho e as relações ficam prejudicados. “É importante se conhecer, promovendo uma análise de seus traumas passados e de suas vontades e atitudes no presente. Só assim será possível resgatar a autoestima e seguir com uma carreira vitoriosa e uma vida feliz”, diz Lucia Winther, especialista em dianética (técnica que busca eliminar registros negativos do passado que influenciam diretamente o comportamento atual do ser humano), de São Paulo.

Assim, é possível que os acontecimentos não tenham saído conforme você planejou simplesmente porque faltaram confiança, motivação e segurança na condução de algumas coisas. “Todos nós temos um jeito particular de enxergar o mundo e isso se reflete diretamente nas escolhas que fazemos também em nosso trabalho, como lidamos com a insatisfação e a falta de reconhecimento, quais atitudes são tomadas rumo a novas oportunidades e que visão temos de nós mesmos como profissional”, exemplifica Winther. Comece já a incentivar a sua autoestima, aproveitando o fim de ano para alimentar a alma com momentos de lazer e de reflexão, sozinho (a) ou com as pessoas de que gosta.

NÃO ESPERE O DIA 1º DE JANEIRO CHEGAR

O futuro já começou, como diz aquele velho jingle de fim de ano da Rede Globo. Para que esperar 2011 chegar para iniciar uma dieta, começar a praticar uma atividade física ou se tornar mais tolerante? Perceba a mudança como necessária. “O primeiro passo para fugir do ‘piloto automático’ é perceber a real necessidade da mudança. Faça um balanço de sua vida, liste todos aqueles planos feitos na virada do ano, numere suas prioridades, tanto da vida profissional, quanto da pessoal. Lembre-se de que não é por estarmos no fim do ano que novos planos não podem ser acrescentados, nem os antigos podem ser eliminados da lista. Acreditar que você pode mudar é o primeiro e grande passo para a mudança”, acredita o especialista Eduardo Shinyashiki.

Um passo importante para começar a mudar é ter calma e serenidade para fazer as mudanças imediatas que exigem mesmo prioridade. “Ter foco significa gerenciar distrações. O brasileiro tem a tendência de ser imediatista e, muitas vezes, deixa de lado uma oportunidade futura, agindo apenas com o foco no curto prazo”, salienta Carlos Cruz, coach executivo e de equipes e conferencista em desenvolvimento humano, de São Paulo.

APRENDA A ADMINISTRAR O TEMPO

Uma pesquisa realizada recentemente pela Triad PS, empresa especializada em desenvolvimentos de softwares, revelou que 42% das atividades realizadas pelos brasileiros são urgentes, ou seja, sem planejamento. “Assim, acabamos por nos instalar somente na superficialidade da vida, deixando de nos aprofundar e gerar resultados mais consistentes para nós mesmos”, comenta Eduardo Shinyashiki. E ,se no ano que se aproxima, resolvêssemos fazer diferente? Se, em vez de passarmos os dias cada vez mais imersos em afazeres urgentes, déssemos início a um processo de planejamento das tarefas, traçando metas com resultados em médio ou em longo prazo? Se, em vez de continuarmos sempre remediando problemas, preveníssemos suas causas? “Aceite que o dia tem 24 horas. Você não terá mais tempo no dia para cumprir seus compromissos do que 24 horas corridas. Organize-se nesse período e não agende atividades excessivas. Nós somos, muitas vezes, os únicos responsáveis pela ansiedade que criamos para nós quando assumimos mais compromissos para a nossa vida do que somos capazes de dar conta. Aprenda a dizer não, é mais educado do que deixar de cumprir o combinado”, aconselha o consultor Anderson Cavalcante. “Essa sensação de que a vida não tem valido tanto a pena é comum em pessoas que deixam de acreditar na sua missão e passam a viver pelo acaso do dia a dia. Elas esquecem que são os verdadeiros guias dos seus caminhos, e adotam a vã filosofia: deixo a vida me levar”, comenta.

ATIVE A MEMÓRIA

A velha máxima de que os otimistas olham a metade cheia do copo e os pessimistas só prestam atenção na metade vazia é mais do que válida nesse balanço de fim de ano. Em vez de se concentrar somente no fato de não ter realizado a viagem de seus sonhos, nas broncas ou na falta de reconhecimento do chefe ou no dinheiro que gastou consertando o carro mais de uma vez, que tal puxar pela memória somente os acontecimentos positivos? Faça uma lista das pessoas legais que conheceu esse ano, dos filmes interessantes que viu, dos fins de semana que deu boas risadas com os filhos, da festa de casamento em que dançou todas as músicas que adora, do chopinho com as amigas... Um ano não deve ser lembrado (ou analisado) somente sob o ponto de vista de acontecimentos grandiosos, mas de pequenos (e valiosos) acontecimentos do dia a dia.