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Será que elas estão traindo mais?

A mulher começou a assumir que o sexo é tão bom para ela quanto para o homem - ThinkStock
A mulher começou a assumir que o sexo é tão bom para ela quanto para o homem Imagem: ThinkStock

RENATA RODE

Colaboração para o UOL

28/02/2011 20h39

A atriz Cinara Leal dá vida à Safira, a amante de um homem casado na novela “Araguaia”. Porém, na vida real, solteira, ela responde que a traição também pode ser feminina sim. “Acredito que as mulheres traiam tanto quanto eles porque a questão agora não é ser julgada pela sociedade. Isso se deve em grande parte ao fato da mulher querer cada vez mais conquistar novos espaços em todos os sentidos, inclusive na liberdade sexual”, diz a global.

Para a psicóloga e escritora Regina Navarro Lins, elas estão traindo mais. Um dos grandes motivos refere-se à existência de métodos contraceptivos eficazes, que eliminam o fantasma de uma gravidez indesejada. “Há quem diga que quando a mulher tem uma relação extraconjugal significa que o casamento vai mal, que não existe mais tesão pelo marido, que ela se sente abandonada, e coisas do gênero. Mas isso não é verdade. Um casamento pode ser ótimo, do ponto de vista afetivo e sexual, e a mulher ter relação extraconjugal, porque, da mesma forma que o homem, muitas gostam de variar”, resume a especialista.

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Cinara também lembra que as mulheres estão muito mais exigentes hoje. “É uma redescoberta: elas estão deixando de ser um objeto sexual para ser a prioridade. Daí nasce necessidade de ser satisfeita também. Ninguém quer um robô ou boneco do seu lado e, principalmente, na cama”. 

Regina concorda. “No século XIX a marca da feminilidade era a mulher não gostar de sexo. Depois da pílula, que permitiu o movimento feminista e a revolução sexual, ela começou a assumir que o sexo é tão bom para ela quanto para o homem”.

Para Regina, mesmo com a evolução feminina no campo da infidelidade, não existe a fantasia da troca de papéis. “Um não precisa ser superior ao outro. Homens e mulheres têm que se libertar da mentalidade que os colocou em campos opostos, gerando dificuldade no amor e no sexo entre eles”. Segundo a especialista, esse avanço é benéfico, já que antigamente o marido tinha todo poder sobre a mulher. Até os movimentos de contracultura dos anos 60/70 elas tinham que ser submissas e obedientes. “Felizmente, a fronteira entre o masculino e o feminino está se dissolvendo nos dias de hoje. E isso, sem dúvidas, é pré-condição para uma sociedade em que a parceria entre os sexos aconteça em um nível de igualdade”.

Mulheres canalhas

Martha Mendonça, autora de “Canalha, substantivo feminino” (Editora Record) derruba o clichê de que só eles não "prestam". “A canalhice não é um privilégio masculino. Algumas partes dos contos no livro são baseadas em histórias verdadeiras. Para mim, existe uma canalha dentro de cada mulher  (em maior ou menor grau)”, declara.

Diferentes até na traição

Uma pesquisa realizada pela Revista Alfa e a inteligência de mercado da Editora Abril (com 5.000 homens) revelou dados curiosos sobre a infidelidade:
84% deles consideraram as mulheres mais independentes.
Cerca de 70% deles confessaram já ter pulado a cerca.
55% admitem que já foram traídos.
Nos casos em que a infidelidade parte do homem, 81% das uniões continuam.
Quando a traição é delas, 77% dos casais permanecem.
Ou seja, ambos estão perdoando as escapadas e os números estão bem equivalentes, mas as motivações são distintas: homens traem por impulso já que são mais visuais, e mulheres geralmente pulam a cerca quando o relacionamento em que estão é insatisfatório.

A jornalista revela estar cansada de ver a mulher sempre colocada como vítima. S.N., empresária de 34 anos concorda. “Tenho prazer em sentir perigo e me testo o tempo todo no meu relacionamento. Acho que sem isso eu não conseguiria estar casada há 12 anos. Essa mulher forte surgiu em mim depois de encarar uma traição do meu primeiro namorado. Desde essa época prometi a mim mesma que seria como eles: faria o que quiser sem me importar. E faço”.

Apesar da traição feminina ser mais julgada pela sociedade que a masculina, muitas mulheres concordam que alguns homens merecem ser traídos. “O meu ex pediu praticamente. Me negava sexo vezes seguidas sem motivo aparente... Desculpas como dor de cabeça, muito cansado ou "estou assistindo TV" eram freqüentes em nosso relacionamento. Certa vez em que eu quis transar durante o dia e ele me interrompeu dizendo que ainda não íamos dormir... como se tivéssemos horário e local certos para acontecer (quando rolava, é claro)”, confessa L.D., promotora de 28 anos.

A.L. revela atitudes ainda piores, também do ex-marido. “Quando eu sugeria que fossemos a um motel, ele passava cerca de uma hora na frente do computador colhendo cupons de desconto. Certa vez, em um aniversário meu, desisti... Fiquei esperando passada no sofá até que quase cinqüenta minutos depois ele apareceu com o ticket impresso. Eu disse que não ia mais e pedi pizza em casa... Tira o tesão de qualquer mulher uma iniciativa dessas, fala sério...”, diz a advogada carioca de 38 anos. 

 

* Veja a entrevista do jornalista Mauricio Stycer com a escritora Martha Mendonça: http://migre.me/3Yg84