Chega dessa autossabotagem na sua vida
O inferno são os outros, sentencia a frase mais famosa de Jean-Paul Sartre. Nem sempre, caro filósofo francês. Há momentos na vida em que a maioria de nós – sem perceber, é claro – dá um jeitinho para que as coisas que caminham para o rumo certo saiam errado. Os especialistas denominam esse mecanismo tão prejudicial de minar a própria felicidade de autossabotagem ou boicote. Afirmam, ainda, que é possível trabalhá-lo e driblá-lo e que, caso não seja combatido, pode causar danos irreversíveis que vão de sofrimento à perda de boas oportunidades.
Exemplos de autossabotagem não faltam. Há o adolescente que reclama que ninguém olha para ele, mas no dia de uma festa importante nem chega perto da garota que está a fim. E o que dizer do profissional competente que, ao conquistar a vaga disputadérrima, passa a desempenhar um papel totalmente oposto ao seu perfil e que o atrapalha na carreira? Também servem como referência as mulheres que almejam um parceiro interessante e “do bem”, mas quando o encontram o consideram “babaca”, chato e bonzinho demais, preferindo se enrolar nos relacionamentos destrutivos de sempre? Segundo a psicoterapeuta Sandra Samaritano, de São Paulo, não existe um perfil típico de quem comete a autossabotagem.
O medo de encontrar a própria felicidade é mais forte
Todos estão suscetíveis à essa “emboscada”
“O que eu percebo, pela minha experiência em consultório, é que sempre que a pessoa está perto de realizar um desejo ou concretizar com êxito algo importante, ela toma uma atitude contrária. O medo de encontrar a felicidade é mais forte”, afirma. Sandra cita como exemplo um paciente cujo sonho sempre foi conhecer os Estados Unidos. Às vésperas da viagem, ela perguntou a ele se as malas já estava prontas. O paciente respondeu que não, e que faria isso algumas horas antes do vôo. “É claro que ele iria se estressar, preocupado com o horário, e chegaria afobado ao aeroporto, se irritaria... Tudo isso para quê? Para azedar, ainda que de modo inconsciente, um momento bom”, diz. Ou seja, há padrões – e por serem padrões, eles se repetem.
Para o psiquiatra Wimer Bottura, presidente do Comitê Multidisciplinar de Adolescência da Associação Paulista de Medicina (APM), o ser humano costuma passar a vida toda provando que o que aprendeu durante a infância é verdade. Assim, se a criança, de algum modo, teve a autoconfiança prejudicada e a autoestima diminuída, na idade adulta ela vai ter um comportamento que – inconscientemente, vale sempre ressaltar – comprove que ela não é capaz de se sentir merecedora de algo bom. “Suas ações estarão voltadas para o boicote”, explica o psiquiatra, que afirma ainda que as pessoas só costumam temer o sucesso, nunca o fracasso. “O fracasso é conhecido, estamos habituados com ele, já o sucesso, não. E sucesso não significa apenas dinheiro, fama, status, mas também se sentir de bem com a vida. E isso provoca medo”, acredita. “O ser humano é ambivalente, até para as coisas que ele quer muito”, completa Flávia Ismael, médica psiquiatra da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC).
Como se livrar do processo de autossabotagem?
O primeiro passo é identificá-lo. |
Em vez de se indagar "por que eu faço isso?", pergunte-se "para quê eu faço isso?" |
Pare de culpar o outro por sua infelicidade. |
Mude seus padrões. Você só se apaixona por homens sem perspectiva de vida? Que tal desviar a atenção para aquele colega do trabalho - e com uma perspectiva de futuro brilhante - que te olha de um jeito diferente? |
Quando for realizar um sonho e começar a pensar em coisas ruins, faça uma lista dos prós e contras do seu projeto. Depois, analise a lista dos "contras" e veja se não está exagerando. Risque pelo menos três itens e vá em frente. |
Não invente desculpas para si mesma. Um bom exemplo é dizer que está chovendo ou frio para ir à academia de manhã. Admita que está com preguiça. Você sente um pouco de vergonha com isso? Então, assuma e vá! |
Diga para você mesma o quanto está cansada de repetir esses padrões. Desse círculo vicioso que se arrasta há tanto tempo e faz você patinar sem sair do lugar. É hora de dizer "Não!" |
Ao questionar a utilidade do boicote, é possível perceber que ele só vai trazer culpa e sofrimento”, sugere a psicoterapeuta Sandra Samaritano. “É um exercício diário e constante”, destaca Wimer Bottura, que sugere a psicoterapia como o melhor método para aprender a lidar com o problema. “É essencial, no entanto, buscar a terapia não como uma maneira de encontrar justificativas para aquilo que deu errado, e sim para descobrir o que você está fazendo que o leva a errar. Digo isso porque quem comete a autossabotagem também tem o hábito de culpar ou responsabilizar os outros por sua infelicidade. Ninguém muda ninguém, só a si mesmo”, conclui. Portanto, lembre-se: por mais infernais que sejam os outros, o pior inferno pode ser aquele ocupado por si mesmo.
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