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O que está por trás da compulsão de comer?

Toda compulsão revela uma fuga de sentir medo, raiva, frustração. Uma dificuldade de nos sentir humanos - ThinkStock
Toda compulsão revela uma fuga de sentir medo, raiva, frustração. Uma dificuldade de nos sentir humanos Imagem: ThinkStock

GISELA RAO

Colaboração para o UOL

04/03/2011 02h14

R.G.C., 35, tem uma amiga muito especial: ela é proprietária de um ateliê de brigadeiros. Sim, esse é o sonho de toda mulher, mas também é o pesadelo de R.G.C., que sofre de compulsão alimentar e engole uma dúzia dos docinhos tão rápido que nem dá tempo de sentir o gosto. “É mais forte que eu. É como se perceber um brigadeiro sobrando na caixa me deixasse totalmente desconfortável” – afirma. A escritora Stella Florence, 44, conhece bem esse drama. Quando ela era jovem, não sabia botar limites nos rapazes, acabava se entregando desmedidamente e sofrendo grandes decepções amorosas. “Comecei a usar o meu corpo para dizer “não!”. Eu comia compulsivamente e engordava 20, 30 quilos. Aí, me tornava menos atraente, ficava trancada em casa com baixa autoestima e, portanto, era mais evitada por eles” – revela.

Mas, muita calma nessa hora! Primeiro vamos entender o que é ser uma pessoa-que-come-demais. Estas perguntas abaixo foram elaboradas pelo grupo “Comedores Compulsivos Anônimos”. Se você responder positivo a várias delas significa que - sim! - você é viciada em se alimentar e isso provalmente está estragando a sua vida:

VOCÊ É UMA COMEDORA COMPULSIVA QUANDO...

1- Você come quando não está com fome?

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2- Você faz "farras alimentares" continuamente, sem razão aparente?

3- Você sente culpa e remorso depois de comer compulsivamente?

4- Você gasta muito tempo comendo, ou pensando em comida?

5- Você espera com prazer e antecipação pelo momento em que pode comer sozinho?

6- Você planeja com antecedência essas comilanças secretas?

7- Seu peso está afetando seu modo de viver?

8- Você come para fugir de aborrecimentos ou dificuldades?

Para a psicóloga junguiana Neiva Bohnenberger, toda compulsão revela uma fuga de sentir medo, raiva, frustação, dor... Como se tivéssemos uma dificuldade de nos aceitar humanos. Lembrando que justamente uma característica do ser humano é sua vulnerabilidade, sua imperfeição e sua falibilidade. “Na cultura da juventude e da beleza, é o corpo que pode revelar a doença da alma. Podemos pensar que compulsão de comer surge em momentos em que é impossível entrar em contato com o amor por si mesmo. Existe um vazio do sentimento de amar e se sentir amado, que impulsiona para uma excitação de preenchimento da falta deste amor... o caminho é correr para comer” – revela Neiva.

Segundo o Dr. Sidney Chioro, neurologista e professor de psiquiatria da USP, que se dedica há 40 anos ao método de emagrecer comendo bem, as pessoas estão cada vez mais gordas porque elas usam emagrecimentos que tiram a gordura, mas não tiram a causa da gordura. E ela volta e em geral mais do que antes. Para emagrecer verdadeiramente a pessoa tem que entrar em contato com suas emoções. “Um dos aspectos do padrão cerebral de pessoa gorda é pensar mais no outro. Ao sair do contato com si própria ela perde a conexão com as próprias emoções e essas emoções irão escoar pela comida” – diz o psiquiatra. Além disso, é preciso mais três coisas extremamente fundamentais:

 1- Enfraquecer o impulso de comer

É quando a pessoa não tem o que fazer e ataca a comida. Está triste e come; está com raiva e come; à noite já jantou, não tem mais fome, mas vai para a geladeira e engole o que tiver.

2- Enfraquecer a retenção intestinal

Gente que come pouco e engorda, em geral, é porque os rins e intestinos funcionam pouco e seguram o que deveriam eliminar, então acumula gordura.

3- Enfraquecer a resistência ao emagrecimento

A pessoa precisa perceber que pensa e age como gorda. Ela vive valorizando o outro e se desvaloriza.