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Relacionamentos "ioiô" costumam ser duradouros e infelizes, mas têm salvação

As idas e voltas no relacionamento podem se tornar um hábito; corte esse mal pela raiz - Julia Bax/UOL
As idas e voltas no relacionamento podem se tornar um hábito; corte esse mal pela raiz Imagem: Julia Bax/UOL

HELOÍSA NORONHA

Colaboração para o UOL

01/11/2011 07h00

A vendedora Adriana Santos, 25 anos, já perdeu a conta de quantas vezes já atirou a aliança de compromisso longe em momentos de estresse com o namorado, o bancário Edson Valente, 26. “Nós não conseguimos ficar mais do que dez dias separados. Brigamos muito, por qualquer motivo, mas depois que o ódio passa, bate uma saudade...”, diz ela. Assim como Adriana e Edson, não são poucos os casais que não conseguem ficar juntos –e tampouco separados.

Para a psicoterapeuta Carmen Cerqueira Cesar, os relacionamentos do tipo ioiô, também chamados de “bumerangue”, se caracterizam, em primeiro lugar, pela imaturidade emocional de ambas as partes. "Na maior parte das vezes, a razão do desentendimento é boba, o que revela uma baixa tolerância à frustração", explica. Um quer uma coisa, mas o outro não deseja ceder. E a birra faz com que cada um vá para um lado.

Outro sinal de resistência em lidar com a frustração é quando um dos dois (ou os dois) não consegue enxergar o parceiro como um ser humano. Na hora da raiva, só leva a consideração os defeitos, ignorando as qualidades. "Essas pessoas só querem as vantagens de uma relação, não o ônus que todo relacionamento traz. E acham complicado dividir, compartilhar", diz Carmen, que acredita que são os casais mais jovens que vivem esse tipo de situação com mais frequência. Um problema que pode virar hábito e durar anos.


Em tempos de amores passageiros e fugazes, a psicóloga Raquel Fernandes aponta mais uma razão para o excesso de idas e vindas: a dificuldade em assumir um relacionamento de fato. "É comum que nas fases de separação os dois se envolvam com outras pessoas. Mas, depois de um tempo, acabam reatando, por costume e porque estão habituados ao confortável namoro", conta. Mas esse vaivém acaba fazendo com que ambos se descuidem de coisas importantes, como trabalho, estudos e amizades.

Simbiose doentia

Há casais em que um se alimenta do ciúme do outro, numa relação com características sadomasoquistas. É a clássica história da garota que sabe que o amado é mulherengo, mas não consegue viver sem ele. Quando descobre uma traição, grita, esperneia e jura que nunca mais quer olhar para a cara dele. Mas aí o charme do sujeito acaba vencendo a mágoa e o romance é retomado, para daí a um tempo o enredo se repetir.

A especialista Carmen Cerqueira Cesar lembra também que muita gente tem o hábito destrutivo de se fazer de vitima –no fundo, sentem prazer com isso. “Viver uma relação tempestuosa, então, é a desculpa perfeita para sofrer, reclamar e lamentar no ombro dos amigos”, diz. O parceiro, por sua vez, precisa dessa dedicação doentia para se sentir amado e motivado para levar a convivência (mesmo que tumultuada) adiante.

Sede de emoção
Sob o ponto de vista de quem preza a sensatez e o equilíbrio, pode parecer uma loucura. Mas o fato é que certos casais incorporam uma versão dramática do amor a suas vidas e fazem do eterno “termina e volta” o combustível para sua paixão. "Para eles, o convívio tranquilo é tedioso, sem graça. E nos momentos de tensão gostam de bater portas, atirar o telefone longe, discutir alto e em público", exemplifica a psicoterapeuta Carmen. As desavenças, então, servem para tornar a reconciliação ainda mais gostosa –e fogosa, claro, pois frequentemente os conflitos se encerram na cama.

E há chance de um futuro promissor para esses casais? Segundo a psicóloga Raquel Marques, se ambos decidirem juntos cuidar das próprias inseguranças e reconstruir a relação sobre uma base sólida de maturidade, sim. Ela lembra, no entanto, que é comum que um dos dois decida romper o círculo vicioso e terminar tudo. “Nesse caso, em geral, o outro fica perdido, como se perdesse o chão, e passa a tentar de todo modo voltar", diz. Depois de um tempo, porém, as coisas entram nos eixos e cada um segue sua vida. “E existem aqueles que se transformam as idas e vindas em uma eterna rotina. Talvez sejam infelizes para sempre, mas é uma escolha."