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Palmadas educam ou traumatizam? Especialistas e pais divergem sobre o assunto

"No momento da raiva, pais podem perder o controle e a palmada acaba virando uma pancada", diz psicóloga Luciana Maria Caetano, autora do livro "É Possível Educar sem Palmadas?" - Thinkstock
"No momento da raiva, pais podem perder o controle e a palmada acaba virando uma pancada", diz psicóloga Luciana Maria Caetano, autora do livro "É Possível Educar sem Palmadas?" Imagem: Thinkstock

BÁRBARA STEFANELLI

Da Redação

11/11/2011 07h00

“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. É isso que prega o artigo 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aprovado em 1990.

No entanto, apesar dos 21 anos da lei, os castigos corporais, e as tão culturalmente difundidas palmadas, ainda fazem parte da realidade infantil brasileira. Em 2010, em comemoração às duas décadas do estatuto, o ex-presidente Lula enviou para o Congresso Nacional o projeto de lei 7.672/2010, mais conhecido como a lei da palmada. Polêmico e já em vigor em países como Alemanha, Dinamarca, Áustria e outros, o intento continua em trâmite no Brasil e divide opiniões.

Povo fala: é possível educar sem palmadas? Veja opiniões


Mas com todos os relatos de violência contra as crianças que ainda existem e até com a possibilidade da criação de uma nova lei que as proteja, a pergunta que fica é: tem como instruir sem agressão? Segundo a psicóloga Luciana Maria Caetano, autora do livro "É Possível Educar as Crianças Sem Palmadas?" (R$ 24,70, Paulinas) e professora da UEM (Universidade Estadual de Maringá), sim, tem como.

Veementemente contra as palmadas, a pesquisadora das relações entre pais e filhos acredita que a educação infantil é fruto de um processo demorado e ainda afirma que o comportamento da família é mais eficaz do que uma palmada. "Ensinamos as crianças muito mais com as nossas atitudes do que com palavras ou palmadas", diz a especialista.

Para Luciana, não existe um método que cure o problema de um dia para o outro. "É preciso explicar e estabelecer regras que sejam cobradas diariamente. Os pais têm a responsabilidade de ensinar o que é certo e errado para os filhos. Infelizmente, muitos pais não sabem o que é certo e errado nem para eles.”

Psicóloga* lista consequências das agressões físicas:

Criança desenvolve raiva ou vergonha dos pais
Relação entre pais e filhos se distancia
Criança pensa que, como já apanhou, está livre para "aprontar" de novo
Tapinhas na mão de crianças muito pequenas podem gerar danos no desenvolvimento físico delas
Criança pode se tornar um adulto agressivo e reproduzir o modelo violento com filhos e mulher
Pais que usam a agressão tendem a formar filhos menos críticos
Castigos corporais ameaçam o bem-estar físico das crianças
Crianças podem adotar a violência na resolução de problemas
No momento da raiva, pais podem perder o controle e a palmada acaba virando uma pancada. É nessas horas que acontecem as tragédias
Problemas como depressão, ansiedade, sentimentos de desespero, infelicidade, baixa autoestima, comportamentos antissociais e tendência ao uso e abuso de drogas na adolescência
*Fonte: Luciana Maria Caetano

A psicóloga e professora ainda afirma que muitos pais acham que "perdem tempo" explicando para seus filhos como as coisas funcionam e, impacientes, logo recorrem aos tapas. "Hoje em dia, os pais não têm mais tempo para sentar com as crianças. No entanto, é muito mais construtivo explicar para que servem as facas, os garfos, a tomada, por que não se bate no irmão, do que sair agredindo. Isso tudo leva tempo, mas tem resultado."

Terapeuta defende a palmada
Para a terapeuta infantil Denise Dias, autora do recém-lançado livro "Tapa na Bunda - Como Impor Limites e Estabelecer um Relacionamento Sadio com as Crianças em Tempos Politicamente Corretos" (R$ 27, Matrix), as palmadas podem ser usadas na educação das crianças, sim.

Apesar de fazer questão de deixar claro que não faz apologia à violência, a autora, que é contra a aprovação da lei da palmada, diz que o método pode ser usado como forma de punição. "Infrações mais graves, como xingar ou bater nos pais, merecem punições mais sérias. No entanto, não existe um ‘tapômetro’, para medir quando a criança merece uma palmada ou não.”   

Para ela, é essencial que os pais imponham autoridade e deem ordens claras aos filhos, sem receio de usar palavras de ordem e dizer: "eu mando em você". "Se uma criança derruba um copo de leite no chão ou faz pirraça na hora de tomar banho e o pai parte para a agressão, antes de tentar conversar, aí o tapa é banalizado. Mas há crianças que já ficaram de castigo, ficam provocando por duas horas, e continua teimando em fazer malcriação. Ela está pedindo mais contenção."

Segundo a teoria de Denise, muitos pais acham uma gracinha quando os filhos fazem escândalo no restaurante ou incomodam o almoço de outras famílias. E ainda há pais que têm dificuldade em dizer não e vivem fazendo a vontade dos filhos. Por causa disso, algumas crianças crescem e se tornam monstros, "que quebram o braço de alguém quando escutam um não em um bar e desrespeitam autoridades ou superiores."

Denise acredita que a maioria das pessoas tem discernimento do que é um tapa ou uma surra. "Muitos pais se negam a dar uma palmada, mas ficam gritando e xingando a criança o dia inteiro, falando coisas violentas para  a criança. Palmada no bumbum arde, mas passa."