Topo

Maridos violentos como Baltazar podem se regenerar, afirmam especialistas

Cena de "Fina Estampa", em que Baltazar (Alexandre Nero) bate em Celeste (Dira Paes) - Divulgação/TV Globo
Cena de "Fina Estampa", em que Baltazar (Alexandre Nero) bate em Celeste (Dira Paes) Imagem: Divulgação/TV Globo

RENATA RODE

Colaboração para o UOL

24/11/2011 07h00


O Baltazar da novela “Fina Estampa” (Globo), interpretado por Alexandre Nero, levanta novamente a discussão sobre a violência contra a mulher. Agora, o personagem passa por uma fase de regeneração, prometendo não agredir mais sua mulher, Celeste (Dira Paes).

Carlos Zuma, psicólogo carioca que coordena o Instituto de Pesquisas Sistêmicas e Desenvolvimento de Redes Sociais Noos*, diz que acompanhou casos de modificação de atitude de muitos agressores. “Esses homens pararam de praticar a violência doméstica, depois de analisar e compreender suas reações e ponderar atitudes, em busca de uma convivência melhor com suas parceiras”, explica ele, que apesar de não haver dados sobre o assunto, acredita que a transformação seja possível.

Denuncie a agressão - Ivan Dario Macedo Soares, advogado especialista na área cível, diz que a lei Maria da Penha, que resguarda o direito da mulher agredida, é um avanço. Ele indica que a vítima de violência procure imediatamente a delegacia da mulher. Depois, um advogado. 

"Os números continuam assustadores. Segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC, a cada 24 segundos uma mulher é espancada no Brasil”, diz Maria Amélia de Almeida Teles, uma das fundadoras e coordenadora do projeto Promotoras Legais Populares, coordenadora do Centro de Orientação e Formação de Mulheres e da União de Mulheres de São Paulo.

Amélia diz que a violência é muito presente. “Muitas mulheres sabem da lei, mas não têm conhecimento profundo de direitos e a justiça está longe de ser aplicada, já que falta estrutura para atender as vítimas."


Para o psicólogo, a causa desse comportamento está geralmente ligada à criação falha ou problemas trazidos da infância. "Porém, não podemos generalizar. Não é porque o homem foi molestado quando criança ou presenciou espancamentos em casa que será um futuro agressor. A violência é resultado de causas diferentes, que vão das individuais às sociais, já que nossa cultura, infelizmente, é machista e ainda preza a desigualdade."

Giovani Rente Paulino, psicólogo especializado em violência doméstica, explica que os homens que batem em mulheres, geralmente, perturbam suas parceiras psicologicamente. “Um homem que agride fisicamente sua companheira costuma fazer, também, um terror psicológico, que dura anos e atinge a todos em uma casa. É importante lembrar que a mulher deve estar ciente de seus direitos e identificar atitudes agressivas, desde o início do relacionamento."

O terapeuta também acredita na modificação do agressor e continuidade do relacionamento, desde que haja empenho. “É possível ter uma recuperação da relação entre agressor e vítima, mas posso afirmar que isso só ocorre quando ambos começam um tratamento. Quando admitem que há o problema e decidem tratá-lo. Quando o agressor repensa seu papel dentro do vínculo afetivo, é mais fácil que esse círculo vicioso seja encerrado.”

De olho nos homens
Não existe receita que denuncie o perfil de um futuro agressor. “Nem sempre o homem violento foi vítima de maus-tratos na infância ou é uma pessoa desequilibrada. Vivemos em um mundo permeado pela violência o tempo todo. E isso acaba influenciando a vida dentro das famílias, sem distinguir classe social", diz Giovani. A mulher deve tentar identificar situações de alerta e conduzir uma mudança, antes que uma agressão física aconteça. E, se acontecer, deve ser denunciada.

SINAIS PARA IDENTIFICAR UM POSSÍVEL AGRESSOR:

O psicólogo Giovani Rente Paulino enumera dicas para identificar um possível agressor

- Analise como ele se comporta diante de momentos simples de crise (como seu time perder um jogo de futebol). Ao lidar com situações do cotidiano de maneira calma, ele possivelmente será um parceiro calmo;

- Pergunte sobre a infância dele e o relacionamento com os pais e irmãos. Isso revela dados importantes sobre como ele lida com pessoas;

- Se quando você oferece ajuda ele dá sinais de agressividade com você, converse e sugira que vocês procurem orientação profissional para o casal, antes que o problema se agrave;

- Muitas vezes a atitude violenta vem acompanhada do consumo de drogas e álcool. Se ele tem algum vício, tente ajudá-lo;

- As características comuns a todo agressor são o sentimento de poder que ele tem sobre a vítima e o desejo de posse. Ao identificá-las, converse sobre o assunto, antes que haja uma agressão.

*O Instituto Noos oferece atendimento para vítimas de violência doméstica e seus agressores.